Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Maria Fernanda

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 08.08.2022
27.10.1928 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
30.07.2022 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Maria Fernanda Meireles Correia Dias (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1928 - idem, 2022). Atriz. Com privilegiada atenção para absorver as transformações estéticas no teatro do século XX, Maria Fernanda se estabelece como atriz representativa do moderno teatro brasileiro. Ao fazer uso de sua voz marcante, a artista constrói repertório povoado de...

Texto

Abrir módulo

Maria Fernanda Meireles Correia Dias (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1928 - idem, 2022). Atriz. Com privilegiada atenção para absorver as transformações estéticas no teatro do século XX, Maria Fernanda se estabelece como atriz representativa do moderno teatro brasileiro. Ao fazer uso de sua voz marcante, a artista constrói repertório povoado de personagens de destaque da dramaturgia mundial e deixa sua marca na luta a favor da liberdade artística no país.

Filha da poetisa Cecília Meireles (1901-1964) e do pintor Correia Dias (1892-1935), faz seus estudos de teatro na Escola de Arte Dramática Old Vic, em Bristol, Inglaterra. Começa carreira em 1948, no Teatro do Estudante do Brasil (TEB), de Paschoal Carlos Magno (1906-1980), no papel de Ofélia em Hamlet, de William Shakespeare (1564-1616), com direção de Hoffmann Harnisch (1893-1965). A montagem ganha importância histórica por estabelecer um direcionamento profissional ao grupo, trazer elementos de encenação do dito teatro moderno (já em voga na Europa) e apresentar um grupo de atores que viriam a ser referenciais no teatro brasileiro, como Sérgio Cardoso (1925-1973) e Sérgio Britto (1923-2011).

Em 1954, atua em três espetáculos da Companhia Dramática Nacional (CDN): As Casadas Solteiras, de Martins Pena (1815-1848), direção de José Maria Monteiro (1923-2010); Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues (1912-1980), direção de Bibi Ferreira (1922-2019); e Cidade Assassinada, de Antonio Callado (1917-1997).

Em 1962, Maria Fernanda interpreta Blanche DuBois em Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams (1911-1983), com direção de Augusto Boal (1931-2019), na temporada paulista, e de Flávio Rangel (1934-1988), em 1963, na temporada carioca. Por essa atuação recebe três prêmios: Molière, Saci e Governador do Estado. Em crítica publicada em A Notícia, é destacada a identificação da intérprete com a protagonista, superando as diferenças de idade e transparecendo destacado talento dramático na composição.

Em seguida, a atriz viaja para Paris, onde faz curso com o ator e mímico Jean Louis Barrault (1910-1994). Em 1965, atua em Santa Joana, de Bernard Shaw (1856-1950), novamente dirigida por Flávio Rangel. Em 1969, tem nova consagração ao receber o Prêmio Molière pela atuação em O Balcão, de Jean Genet (1910-1989), na montagem dirigida por Martim Gonçalves (1919-1973). Na crítica no Diário de Notícias, Henrique Oscar destaca a inteligência da atriz que se manifesta na total propriedade da personagem e de seus recursos de interpretação.

Com o endurecimento da repressão da Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil, Maria Fernanda é vítima de censura ao reapresentar Um Bonde Chamado Desejo na cidade de Brasília em fevereiro de 1968. A censura vigente de forma oficial impõe diversos cortes ao texto - a mesma tradução de Brutus Pedreira (1898-1964) que já havia sido encenada no Brasil em 1948 com Henriette Morineau (1908-1990) no papel principal mas sob o título de Uma Rua Chamada Pecado. Como resposta, a atriz e Oscar Araripe (1941), seu parceiro de cena, resolvem se manifestar por meio de pausas em cada frase cortada. Mesmo obedecendo aos cortes, a companhia é multada por três expressões consideradas inadequadas. Tentando negociar com a censura oficial, há desentendimento entre os lados e os artistas recebem suspensão de 30 dias do ofício das suas funções, além de ser emitida proibição de representação do espetáculo por tempo indeterminado.

A atitude repressiva e os pedidos de apoio da classe artística por parte de Maria Fernanda estimulam protestos no Rio de Janeiro e em São Paulo que culminam com uma greve teatral de 3 dias. Tônia Carrero (1922-2018) e Cláudio Marzo (1940-2015) convocam os parceiros de profissão para marcha contra a censura que teve espaço no centro do Rio em 13 de fevereiro. Com grande repercussão na mídia e na sociedade, a manifestação fica marcada pela imagem de atrizes à frente do protesto: Eva Todor (1919-2017), Tônia, Eva Wilma (1933-1921), Leila Diniz (1945-1972), Odete Lara (1929-2015), Norma Bengell (1935-2013) e Cacilda Becker (1921-1969).

Na década seguinte, Maria Fernanda continua a construção de um repertório de grandes dramaturgos. Ela atua em mais duas direções de Martim Gonçalves - Senhorita Júlia (1971), de August Strindberg (1849-1912), realizada em Recife, e Jardim das Delícias, de Fernando Arrabal (1932). No Teatro Oficina, está em As Três Irmãs (1972), de Anton Tchekhov (1860-1904), com direção de José Celso Martinez Corrêa (1937). Em 1979, é um dos destaques na estreia do texto de Leilah Assumpção (1943) Vejo Um Vulto na Janela, Me Acudam Que Sou Donzela, dirigido por Emílio Di Biasi (1939).

No mesmo período tem destacadas aparições na teledramaturgia nacional. Na Rede Globo, integra elenco de Gabriela (1975), adaptação da obra de Jorge Amado (1912-2001). Como Sinhazinha, traz à luz a imagem da mulher que vive sob o rígido controle do marido autoritário mas que tem uma vida dupla vivendo uma paixão fora do casamento. Já em Pai Herói (1979), de Janete Clair (1925-1983), divide a cena com Tony Ramos (1948) e Paulo Autran (1922-2007) em um contexto de acerto de contas moral.

A partir dos anos 1980, diminui o ritmo de trabalho com participações esporádicas. Dessa fase final de sua carreira, destaca-se no papel de D. Maria I, a louca no filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995) de Carla Camurati (1960), marco na retomada do cinema nacional. Seu último trabalho nos palcos acontece no grupo Tapa sob direção de Eduardo Tolentino de Araújo (1954) em A Importância de Ser Fiel (2004), texto de Oscar Wilde (1854-1900).

Maria Fernanda é testemunha ativa de períodos de intensas transformações artísticas e sociais. Entendendo sua arte como ofício em constante desenvolvimento, coleciona êxitos em uma trajetória de sucessos nos palcos atenta à diversidade de temas, autores e encenadores.

Espetáculos 28

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 14

Abrir módulo

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: