Bibi Ferreira
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Bibi Ferreira (Joana) em cena de Gota d´Água, 1977
Ruth Toledo, Bibi Ferreira
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo
Texto
Abigail Izquierdo Ferreira (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1922 - idem, 2019). Diretora e atriz. Criada desde criança nos palcos, é reconhecida por sua atuação e direção em musicais. Interpretou personagens como Joana, de Gota d'Água, e Piaf, em homenagem à cantora francesa.
Entra pela primeira vez no palco aos 24 dias de nascida, substituindo uma boneca que desaparecera da contrarregragem. Aos três anos, estreia no Chile, na companhia Revista Espanhola Velasco, em que sua mãe, Aida Izquierdo, trabalha como corista. Participa de uma turnê por toda a América Latina, interpretando, ao final do espetáculo, um pot-pourri da própria Revista. Volta ao Brasil com pouco mais de quatro anos e, até os 14, participa de óperas e balés, integrando o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Com a Companhia Procópio Ferreira, estreia em 1941 como atriz, na comédia La Locandiera, de Carlo Goldoni, no papel-protagonista de Mirandolina. No ano seguinte, viaja com o repertório da companhia para uma temporada na capital paulista, que se estende para o sul do país e interior de São Paulo em mais de 30 cidades. Em 1944, Bibi inaugura a Companhia de Comédias Bibi Ferreira, com o espetáculo Sétimo Céu, e contrata as atrizes Maria Della Costa, Cacilda Becker e a diretora Henriette Morineau. É um momento de transição, marcado por mudanças como a supressão do ponto e a convenção das cortinas no início e final de cada ato. Em 1946, vai para Londres estudar direção na Royal Academy of Dramatics Arts. Na Inglaterra, estuda e trabalha em cinema. Em 1947, estreia como diretora em Divórcio, de Clemence Dane, em que também atua como filha do personagem interpretado pelo ator Procópio Ferreira. Em 1949 interpreta Carlos, protagonista de O Noviço, de Martins Pena. Com sua companhia, viaja para o sul do país com um repertório de cinco espetáculos.
Na década de 1950, recebe o prêmio dos críticos do Rio de Janeiro pela direção de A Herdeira, de Henry James, 1952. Dá aulas de direção e interpretação no Teatro Duse e na Fundação Brasileira de Teatro (FBT). Contratada pela Companhia Dramática Nacional (CDN), dirige, em 1954, Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues. Nomeada diretora da Companhia de Comédia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, revela peças brasileiras como A Casa Fechada e Sonho de Uma Noite de Luar, ambas de Roberto Gomes, em 1955. Simultaneamente a essas atividades, mantém a regularidade de suas produções e viagens pelo Brasil. Em 1956, depois de se apresentar em Recife, leva o repertório de sua companhia para Lisboa, atuando também nas apresentações de Deus lhe Pague, de Joracy Camargo, pela companhia de Procópio, em que ela dirige O Avarento, de Molière, e A Raposa e as Uvas, de Guilherme Figueiredo. Em Portugal, é contratada como atriz de teatro de revista. Sua interpretação da música Tic-Tac – gravada no disco Quando Bate Um Coração – é considerada antológica pelo comediógrafo César de Oliveira. Retorna ao Brasil em 1960.
Nos anos 1960, além de atuar em musicais de teatro e televisão, trabalha em teleteatro. Por sua atuação em My Fair Lady, de Alan Jay Lerner e Frederich Lowe, na temporada paulista do espetáculo, em 1964, ao lado de Paulo Autran, Jaime Costa, Sérgio Viotti e Elza Gomes, recebe o Prêmio Saci, em São Paulo. Em 1968, apresenta na TV Tupi o Programa Bibi ao Vivo, que durante dois anos leva à televisão os maiores nomes do teatro.
O musical Brasileiro, Profissão: Esperança, de Paulo Pontes, dirigido por Bibi, é um sucesso, tanto com Maria Bethânia e Ítalo Rossi, em 1970, quanto com Paulo Gracindo e Clara Nunes, em 1974, quando bate recordes de público no Canecão. Em 1972, atua em O Homem de La Mancha, traduzido por Paulo Pontes e Flávio Rangel, com versão das canções feitas por Chico Buarque e Ruy Guerra, que permanece em temporada, em diversas cidades, durante três anos. Em 1975, estréia em Gota d'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes, sob a direção de Gianni Ratto, que permanece em cartaz até 1977 e recebe os prêmios Molière e Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA), pela interpretação de Joana. Em 1976, dirige Walmor Chagas, Marília Pêra, Marco Nanini e 50 artistas em Deus lhe Pague, de Joracy Camargo.
Na década de 1980, a notoriedade de Bibi Ferreira faz com que receba os mais diferentes convites. Dirige de textos comerciais a peças de dramaturgia sofisticada, de musicais de grande porte a dramas intimistas. Assim, em 1980, ela dirige Toalhas Quentes, de Marc Camoletti; em 1981, Um Rubi no Umbigo, de Ferreira Gullar, e Calúnia, de Lillian Hellmann, além de Gay Fantasy, revista com travestis que permanece um ano em cartaz no Teatro Alaska, Rio de Janeiro. Com sua produção e direção, estreia O Melhor dos Pecados, de Sérgio Viotti, ainda em 1981, em que promove a volta aos palcos de Dulcina de Moraes, após vinte anos de ausência. Em 1983 volta aos palcos com Piaf, A Vida de Uma Estrela da Canção, espetáculo de grande sucesso de público e crítica. Por sua atuação, recebe os prêmios Mambembe e Molière, em 1984, e, no ano seguinte, da Associação Paulista de Empresários Teatrais e Governador do Estado. O espetáculo, que faz muitas viagens, permanece seis anos em cartaz e, em quatro anos, atinge um milhão de espectadores, incluindo uma temporada em Portugal, com atores portugueses no elenco. Em São Paulo, o crítico Sábato Magaldi escreve, no Jornal da Tarde, sobre seu desempenho: "A voz poderosa, a interpretação sensível, a pronúncia francesa perfeita só poderiam pertencer à própria Piaf. E fica patente, de imediato, que tamanhos dotes devem ser creditados à nossa atriz. Outra grande qualidade da linha escolhida: em nenhum momento Bibi pretende imitar Piaf, confundir a sua voz com a dela. [...] Bibi se fixa menos na cantora temperamental [...] para valorizar de preferência a mulher desesperada, de destino solitário e profunda humanidade, de que não está ausente até a brincadeira moleque. Naquele ser desprotegido, arruinado pela droga, tudo se desculpa, porque se purifica na essência de uma canção maravilhosa. Piaf é, de todos os pontos de vista, a criação maior da carreira de Bibi, feita de tantas iluminações"1.
O crítico Macksen Luiz não é menos arrebatado pela interpretação da atriz: "A platéia é, virtualmente, dominada pelo magnetismo de Bibi Ferreira, que ocupa o palco como se estivesse se apropriando do que sempre lhe pertenceu. Mas essa força teatral não se pode atribuir apenas a um talento brilhante, mas a uma preparação técnica como poucos atores brasileiros têm possibilidade de acumular"2.
Nos anos 1990, Bibi Ferreira revive seus maiores sucessos remontando Brasileiro, Profissão: Esperança e fazendo um espetáculo em que canta canções e conta histórias de Piaf. Em Bibi in Concert, comemora 50 anos de carreira e, depois de anos de temporada, faz o Bibi in Concert 2. Em 1996, recebe o Prêmio Sharp de Teatro, encena Roque Santeiro, de Dias Gomes, em versão musical, e dirige pela primeira vez uma ópera – Carmen, de Georges Bizet, 1999.
Notas
1. MAGALDI, Sábato. Piaf, criação maior de Bibi: obrigatório. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 jul. 1983.
2. LUIZ, Macksen. Bibi: irretocável. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 03 maio 1986.
Obras 1
Espetáculos 172
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4/4/1941 - 17/4/1941
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4/4/1941 - 17/4/1941
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Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 10
- ALBUQUERQUE, Johana. Bibi Ferreira (ficha curricular). In: _______. ENCICLOPÉDIA do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material elaborado em projeto de pesquisa para Fundação VITAE. São Paulo, 2000.
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996.
- BIBI vive Amália. Rio de Janeiro: [s.n.], 2000. 1 programa do espetáculo realizado na casa de espetáculos Ribalta.
- CANALTEATRO. Disponível em: http://www.canalteatro.com.br/info_peca.php?cod_pecas=530. Acesso em: 10 ago. 2011.
- CONDUZINDO Miss Daisy. Rio de Janeiro: [s.n.], 2001. 1 programa do espetáculo realizado em 2001 no Teatro Ginástico.
- FERREIRA, Bibi. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.
- FUNARTE. Bibi Ferreira no Dulcina. Disponível em: http://www.funarte.gov.br/teatro/bibi-ferreira-no-dulcina/. Acesso em: 17 ago. 2011.
- GUERINI, Elaine. Nicette Bruno & Paulo Goulart: tudo em família. São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 256 p. (Aplauso Perfil).
- MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro no Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. 235 p. (Teatro, 21).
- PIAF, a vida de uma estrela da canção. Rio de Janeiro: [s.n.], 1983. 1 programa do espetáculo realizado em 25 mai. 1983 no Teatro Ginástico.
Como citar
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BIBI Ferreira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa349640/bibi-ferreira. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7