Cacilda Becker

Cacilda Becker e Filho, 1955
Chico Albuquerque, Cacilda Becker
Matriz-negativo
Coleção Francisco Albuquerque,. Acervo Instituto Moreira Salles
Texto
Cacilda Becker Yáconis (Pirassununga, São Paulo, 1921 - São Paulo, São Paulo, 1969). Atriz. Protagonista de vários espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e fundadora da companhia que leva seu nome, Cacilda Becker interpreta personagens antagônicos, transitando da farsa à tragédia, do clássico ao moderno. Estende seu papel para a atuação política, enfrentando a censura contra a classe artística do Brasil.
Ainda menina, estuda dança e trabalha para manter a casa. Aos 20 anos, no início da década de 1940, atua no Teatro do Estudante do Brasil (TEB), em 3.200 Metros de Altitude, do dramaturgo francês Julien Luchaire (1876-1962), e em Dias Felizes, do também francês Claude-André Puget (1905-1975). No mesmo ano, une-se à Companhia de Comédias Íntimas, do ator e diretor Raul Roulien (1905-2000), participando de uma série de espetáculos, como Trio em Lá Menor, do dramaturgo Raimundo Magalhães Júnior (1907-1981).
Ingressa no Grupo Universitário de Teatro (GUT) em 1943, e, no ano seguinte, compõe a Companhia de Comédias de Bibi Ferreira (1922-2019). Em 1945, volta ao GUT, onde atua em Farsa de Inês Pereira e do Escudeiro, do dramaturgo português Gil Vicente (1465-1536). Colabora ainda com a companhia Os Comediantes, e transita entre diferentes companhias enquanto exerce outras funções ligadas à interpretação e à escrita na Rádio Tupi e na Rádio América, durante grande parte da década de 1940.
Em 1947, muda-se para o Rio de Janeiro para atuar no filme Luz dos Meus Olhos, dirigido por José Carlos Burle (1910-1983) e filmado pelos estúdios da companhia Atlântida. Nessa produção, Cacilda repete sua forma de atuação do teatro, proporcionando uma interpretação suave e natural a sua personagem Suzana. Volta a São Paulo depois de sua estreia cinematográfica, e, em 1948, é a primeira profissional contratada do TBC, onde permanece até 1955, estando presente em quase todas as montagens do período.
Sua primeira consagração acontece no Teatro das Segundas-Feiras. A peça Pega Fogo (1950), do escritor francês Jules Renard (1864-1910), inicialmente formando um programa triplo ao lado de outros dois textos, torna-se um grande sucesso. Sua interpretação do personagem Poil de Carotte lhe vale uma boa crítica do francês Michel Simon, quando o espetáculo se apresenta no Teatro das Nações, em Paris. O crítico compara Cacilda Becker ao ator britânico Charlie Chaplin (1899-1977) e ao francês Jean Louis Barrault (1910-1994), e, depois de dizer que ela rompe sua pretensa frieza de especialista fazendo-o chorar, procura a origem da emoção no "rosto emaciado" [...]", nos "gestos pletóricos de garoto infeliz e arrogante", e afirma: "Poil de Carotte não pode ter mais, para mim e para muitos outros, de agora em diante, outro rosto senão o seu".1
Em 1953, volta ao cinema em Floradas na Serra, do diretor de cinema italiano Luciano Salce (1922-1989), sendo sua atuação natural novamente destaque entre a crítica da época. Em 1955, é antagonista de sua irmã, a também atriz Cleyde Yáconis (1923-2013), em Maria Stuart, do poeta e filósofo alemão Friedrich von Schiller (1759-1805), dirigida pelo polonês Zbigniew Ziembinski (1908-1978).
Na televisão, Cacilda viaja por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, apresentando peças de Teatro pela TV Cultura, em 1956, e o programa de teleteatro Teatro Cacilda Becker pela TV Record, em 1958.
No mesmo ano, funda o grupo Teatro Cacilda Becker (TCB) ao lado de Cleyde Yáconis, do ator Walmor Chagas (1930-2013), de Ziembinski e do ator e fotógrafo alemão Fredi Kleemann (1927-1954), onde desempenha sua carreira durante 22 anos, com espetáculos como A visita da Velha Senhora (1962), do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990). Em 1965, é premiada com medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) como melhor atriz do ano pelas peças A Noite do Iguana, do americano Tennessee Williams (1911-1983), e O Preço de um Homem, do francês Steve Passeur (1899-1966).
Em 1968, volta a atuar na televisão, com o Teatro Cacilda Becker, na TV Bandeirantes, mas é demitida no mesmo ano sob a alegação de que suas interpretações são subversivas, efeito da ditadura militar (1964-1985)1. Neste momento, Cacilda passa a ter um papel militante nas causas da classe artística. A atriz assume a presidência da Comissão Estadual de Teatro de São Paulo, lugar que enfrenta a repressão em defesa dos direitos dos artistas e produtores. Ao lado de Augusto Boal (1931-2009), diretor de Primeira Feira Paulista de Opinião (1968), defende a encenação do espetáculo na íntegra, ignorando os cortes realizados pela censura. Sua convicção faz com que os censores e agentes federais presentes no teatro acatem sua decisão e assistam ao espetáculo.
Cacilda Becker é considerada uma das maiores atrizes do teatro brasileiro, sua atuação extrapola os palcos e chega ao rádio e à televisão, transitando entre diferentes modos de fazer e pensar a dramaturgia no Brasil.
Notas
1. SIMON, Michel. Citado em Cacilda Becker morre 38 dias depois de sofrer um derrame cerebral, Folha de S.Paulo, São Paulo, 15 jun. 1969.
2. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.
Obras 5
Cacilda Becker - A Dama das Camélias
Cacilda Becker - Inimigos íntimos
Cacilda Becker e Filho
Nídia Lícia, Sérgio Cardoso e Cacilda Becker
Espetáculos 93
Fontes de pesquisa 12
- ALMEIDA, Inez Barros de. Panorama visto do Rio: Teatro Cacilda Becker. Rio de Janeiro: Inacen, 1987.
- BECKER, Cacilda. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- MICHALSKI, Yan. Uma década sem Cacilda, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15 de junho, de 1979.
- PRADO, Décio de Almeida. Exercício findo: crítica teatral (1964-1968). São Paulo: Perspectiva, 1993. (Coleção debates; 199).
- PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno: 1930-1988. São Paulo: Perspectiva, 1988. (Debates, 211).
- PRADO, Décio de Almeida. Peças, pessoas, personagens: o teatro brasileiro de Procópio Ferreira a Cacilda Becker. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
- PRADO, Décio de Almeida. Teatro em progresso: crítica teatral, 1955-1964. São Paulo: Martins, 1964.
- PRADO, Luís André do. Cacilda Becker: Fúria Santa. São Paulo, Geração Editorial, 2002.
- Programa do Espetáculo - Quem Tem Medo de Virginia Woolf? - 1965. Não catalogado
- VARGAS, Maria Thereza. Cacilda Becker: uma mulher de muita importância. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2013. (Coleção aplauso. Série Teatro Brasil /coordenador geral Rubens Ewald Filho).
- VARGAS, Maria Thereza; FERNANDES, Nanci (orgs.): Uma atriz: Cacilda Becker. São Paulo: Perspectiva, 1984.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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CACILDA Becker.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa349429/cacilda-becker. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7