Os Comediantes
Texto
Data/Local
1938/1947 - Rio de Janeiro RJ
Histórico
A companhia consolida o movimento de teatro amador que desde o final dos anos 1920 procura transformar o panorama teatral no Rio de Janeiro, onde predominam montagens comerciais de comédias de costumes. Com a encenação de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, sob a direção de Ziembinski, Os Comediantes inauguram a modernidade no teatro brasileiro.
A companhia nasce da inquietação de um grupo de intelectuais interessados na entrada, mesmo que tardia, do teatro brasileiro no movimento iniciado pela Semana de Arte Moderna. Amadores, Os Comediantes intentam modificar o panorama do teatro que se faz na época, dominado pelo teatro de revista e pelos atores-empresários, tais como Dulcina de Moraes, Procópio Ferreira e Jaime Costa. São seus fundadores Brutus Pedreira, Tomás Santa Rosa e Luiza Barreto Leite. Segundo o crítico Gustavo Dória, o percurso do grupo está bastante ligado ao da Associação de Artistas Brasileiros, fundada no início dos anos 1930 e freqüentada por modernistas como Di Cavalcanti, Candido Portinari, Tomás Santa Rosa e Lasar Segall.1 O espetáculo de estréia é A Verdade de Cada Um, de Luigi Pirandello, com direção de Adacto Filho, 1940. Ainda nesse ano, com o mesmo diretor, segue-se Uma Mulher e Três Palhaços, de Marcel Achard.
Recém-chegado ao Brasil, o polonês Ziembinski aproxima-se do grupo, trabalhando como iluminador de A Verdade de Cada Um, na remontagem de 1941. Em 1942, Ziembinski dirige Orfeu, de Jean Cocteau, e As Preciosas Ridículas, de Molière, com o Teatro dos Novos e Os Comediantes participam do evento em benefício da Cruz Vermelha Internacional. Os Comediantes encenam, com direção de Adacto Filho, Capricho, de Musset, e Escola de Maridos, de Molière, em um só programa, e O Escravo, de Lucio Cardoso, em 1943. No mesmo ano, Ziembinski realiza sua primeira direção com a companhia, montando Fim de Jornada, de Sheriff.
O texto de Vestido de Noiva, tinha sido inicialmente entregue à Comédia Brasileira, companhia oficial que pretendia montá-lo como um espetáculo realista, mas acaba desistindo do texto, que chega às mãos do diretor polonês. Apesar de ser uma companhia amadora, Os Comediantes contam com o apoio do ministro da Cultura, Gustavo Capanema, que custeia a montagem desse e de outros espetáculos do grupo. Com cenários de Tomás Santa Rosa, que constrói um aparato cênico jamais visto antes no país, e um texto que mistura tempos e planos de ação, passando da realidade à memória e à alucinação, o espetáculo causa deslumbramento, mesmo entre os que, pelo ineditismo dramatúrgico e plástico, dizem não compreendê-lo.
Em 1944, a companhia alterna a direção de Ziembinski em Pelleas e Melisanda, de Maurice Maeterlinck, e a de Adacto Filho em O Leque, de Carlo Goldoni, e leva seu repertório a São Paulo. O ano de 1945 se sustenta apenas com a remontagem do sucesso de Nelson Rodrigues. Em 1946, depois de encenar A Mulher sem Pecado, de Nelson Rodrigues, e Era uma Vez um Preso, de Jean Anouilh, a companhia se profissionaliza e, passando por reestruturações de elenco e funcionamento, volta à cena com Desejo, de Eugene O'Neill, e A Rainha Morta, de Henry de Montherlant, ambos ainda em 1946. No ano seguinte, a companhia leva à cena Terras do Sem Fim, adaptado de Jorge Amado, Não Sou Eu..., de Edgard da Rocha Miranda, e nova remontagem de Vestido de Noiva, com Maria Della Costa e Cacilda Becker no elenco. São os últimos espetáculos do grupo, que encerra suas atividades em 1947.
Entre seus principais integrantes estão Agostinho Olavo, Gustavo Dória, Carlos Perry, Bellá Paes Leme, Adacto Filho, Graça Mello, Stella Perry, Armando Couto, Miroel Silveira, Olga Navarro e Labanca.
Além da montagem histórica de Vestido de Noiva, que muda os parâmetros da encenação brasileira, Os Comediantes, pela continuidade de sua atuação e sua opção de repertório, reúnem, na sociedade carioca, um público interessado em espetáculos não convencionais e não comerciais. A partir de então, investir no trabalho de equipe e na regência de um encenador passará a ser algo essencial na construção de um espetáculo teatral.
Notas
1. MAGALHÃES, Vânia de. Os Comediantes. In: O TEATRO através da história. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1994. v. 2. p. 157.
Espetáculos 21
Fontes de pesquisa 7
- DÓRIA, Gustavo A. Moderno teatro brasileiro: crônica de suas raízes. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1975.
- MAGALDI, Sábato. Panorama do teatro brasileiro. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962. 274 p.
- MAGALHÃES, Vânia de. Os Comediantes. In: NUÑEZ, Carlinda Fragale Pate (Org.). O teatro através da história. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1994. v. 2.
- MICHALSKI, Yan: Ziembinski e o Teatro Brasileiro. São Paulo: Hucitec / MEC / Funarte, 1995.
- Os comediantes. Dionysos, Rio de Janeiro, ano 24, n. 22, dez. 1975. Edição especial.
- PRADO, Décio de Almeida. "Os Comediantes" em São Paulo. Revista Clima, São Paulo, n. 13, ago. 1944. In: BERNSTEIN, Ana. A crítica cúmplice: Décio de Almeida Prado e a formação do teatro brasileiro moderno. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2005.
- PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno: 1930-1988. São Paulo: Perspectiva, 1988. (Debates, 211).
Como citar
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OS Comediantes.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo399356/os-comediantes. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7