Ziembinski
![Ralé, 1951 [Enciclopédia de Teatro. Espetáculo]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/008309001019.jpg)
Cena de Ralé, 1951
Fredi Kleemann, Maria Della Costa, Ziembinski, Paulo Autran
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo
Texto
Zbigniew Ziembinski (Wieliczka, Polônia 1908 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1978). Diretor e ator. Apesar de sua origem européia, é considerado o primeiro encenador brasileiro. Seu espetáculo Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues (1912-1980), pelo grupo Os Comediantes em 1943, marca o início do que se considera Teatro Brasileiro Moderno.
Estuda em 1926, na Faculdade de Letras da Universidade Jagielonska e na Escola de Arte Dramática do Teatro Municipal de Cracóvia, onde atua em mais de vinte papéis entre 1927 e 1929. Durante dois anos, trabalha como diretor e ator contratado do Teatro Polski e Teatro Maly, ambos em Varsóvia. Em 1931, transfere-se para Lodz, para atuar e dirigir no Teatro Municipal e Teatro de Câmara. Retorna a Varsóvia em 1932, onde trabalha até o início da II Guerra em cinco companhias. Durante esse período, realiza quase cem trabalhos, às vezes acumulando as funções de ator e diretor, num repertório predominantemente comercial e convencional: comédias ligeiras, de costumes, dramas psicológicos, em sua maioria, de autores poloneses. Entre os clássicos consagrados da literatura universal, somente William Shakespeare, Anton Tchekhov, Nikolai Gogol, Oscar Wilde, Bernand Shaw e Alexandre Dumas Filho, em não mais do que dez espetáculos.
Aos 33 anos, fugindo da II Guerra, chega ao Brasil. No Rio de Janeiro, aproxima-se da companhia amadora Os Comediantes, formada por artistas e intelectuais interessados na dramaturgia moderna. Na encenação de Vestido de Noiva, Ziembinski coloca em cena uma linguagem que, coerente em si mesma e no que diz respeito às propostas do texto, constrói uma plasticidade formada pelas marcações, pela coreografia dos movimentos, e a interação com a iluminação que sombreia os contornos do cenário, feito em planos, por Tomás Santa Rosa. Em outros espetáculos, como Pelleas e Melisande, de Maeterlinck, em 1943, com a mesma companhia, e Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, 1948, com o Teatro Popular de Arte (TPA), Ziembinski retoma o estilo expressionista. No espetáculo do TPA, o texto de Nelson Rodrigues expõe o racismo com seu estilo desconcertante e a encenação de Ziembinski sobrepõe os efeitos cênicos aos atores, provocando polêmica e escândalo. No mesmo ano, dirige e protagoniza Woyzeck, de Georg Büchner, no TPA.
Em 1949, Ziembinski dirige Nossa Cidade, de Thornton Wilder, Pais e Filhos, de Bernard Shaw, e Esquina Perigosa, de J. B. Priestley, no Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). No Teatro Universitário de Pernambuco (TUP), encena Além do Horizonte, de Eugene O'Neill, e Fim de Jornada, de Robert Sheriff.
Em 1950, Ziembinski é convidado a levar duas montagens para o Teatro das Segundas-Feiras, espaço dedicado à produções de vanguarda do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). É em seguida contratado pela companhia, participando de espetáculos marcantes do conjunto. Dirige Amanhã, Se Não Chover, de Henrique Pongetti, em 1950; Paiol Velho, de Abílio Pereira de Almeida, em 1951; Divórcio para Três, de Victorien Sardou, angariando o Prêmio Saci de melhor diretor, em 1953; Maria Stuart, de Schiller, em 1955. Como ator, destaca-se em Convite ao Baile, de Jean Anouilh, em 1951; recebe o Prêmio Governador do Estado de melhor ator em Na Terra como no Céu, de Franz Hochwalder, em 1953, ambos com direção de Luciano Salce. Sai do TBC para fundar outra companhia, com Cacilda Becker, Walmor Chagas, Cleyde Yáconis e Fredi Kleemann. O Teatro Cacilda Becker (TCB), estréia em 1958, com o espetáculo O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, é diretor de Jornada de um Longo Dia para Dentro da Noite, em que também atua como James Tyrone. Ziembinski é o único diretor dos espetáculos da companhia até 1959, totalizando seis encenações. Em 1960, dirige para o Teatro Nacional de Comédia (TNC), As Três Irmãs, de Anton Tchekhov. A partir de então, faz direções independentes para várias companhias - Companhia Dulcina-Odilon, Companhia Brasileira de Comédia, Teatro do Rio e Companhia Nicette Bruno-Paulo Goulart. Retorna ao TCB para montar César e Cleópatra, de Bernard Shaw, em 1963.
No mesmo ano, volta à Polônia para apresentar dois autores brasileiros: Nelson Rodrigues, com a encenação de Boca de Ouro, em Cracóvia, e Jorge Andrade, com o espetáculo Vereda da Salvação, em Varsóvia.
De volta ao Brasil, faz várias direções comerciais para o produtor Oscar Ornstein. Em 1968, atua como Max em A Volta ao Lar, de Harold Pinter, direção de Fernando Torres. O ano de 1969 é de intensa atividade: dirige A Mulher sem Pecado, de Nelson Rodrigues, em Brasília, O Marido de Conceição Saldanha, de João Mohana para o Teatro Moderno de Arte da Guanabara (TEMA), atua como Cotrone em Os Gigantes da Montanha, de Luigi Pirandello, pelo Teatro Dois Mundos, e trabalha como ator e diretor em A Celestina, de Fernando de Rojas.
De 1970 a 1972, produz os espetáculos que dirige e não raro os protagoniza, como Henrique IV, de Luigi Pirandello, 1970; e Vivendo em Cima da Árvore, de Peter Ustinov, 1971. Dirige Dom Casmurro, de Machado de Assis, 1972. Atua no último texto de Paulo Pontes, Check-up, sob a direção de Cecil Thiré. Em 1976, faz a remontagem de Vestido de Noiva e direção de Quarteto, de Antônio Bivar, no qual interpreta George Elliot.
Além do trabalho no teatro. Faz direção de shows no Cassino da Urca. Leciona no curso de teatro na Faculdade de Direito em Recife, em 1949, na Escola de Arte Dramática (EAD), entre 1951 e 1957, e na Fundação Brasileira de Teatro (FBT), de Dulcina de Moraes, no Rio de Janeiro, em 1960. Em 1969, realiza um Programa Semanal de Ensino de Interpretação, O Ator na Arena, na TV Educativa de São Paulo. Também está na televisão, como ator, diretor e em cargos de chefia na divisão de novelas e séries especiais.
Tendo participado, como ator e/ou diretor em cerca de 100 espetáculos no Brasil, Ziembinski influencia toda uma geração de artistas com seu estilo pessoal e principalmente com a idéia de que o espetáculo é uma obra autoral realizada a partir do texto, tarefa para a qual todos os artistas envolvidos devem se preparar com técnica e criatividade.
O crítico Décio de Almeida Prado, em matéria comemorativa do jubileu de Ziembinski em 1951, aponta as características do diretor: "[...] Ziembinski não ensaia: habita a peça que deve dirigir, convive na maior intimidade com cada personagem, desvendando-lhe desde as mais inocentes manias até as suas concepções religiosas ou filosóficas. Não contente com isso, penetra-lhe pelo subconsciente adentro ou passa a investigar os outros membros da família que o escritor esqueceu fora da peça. O resultado desta análise, levada a cabo com verdadeiro furor lógico e uma minúcia de filatelista é, muitas vezes, quase uma obra de arte, sobreposta à primeira. Ziembinski não interpreta somente. Cria também. Daí tanto as suas grandes qualidades como os seus defeitos, oriundos sempre da riqueza e não da indigência, do excesso e não da falta. Quando a peça ainda apresenta algo de imperfeito, de inacabado, Ziembinski galvaniza-a com a força do seu temperamento e de sua inteligência, acrescentando legitimamente não ao texto mas ao escritor. Temos, então, um Vestido de Noiva, um Paiol Velho, um Amanhã Se Não Chover, obras-primas de colaboração mútua entre o encenador e o autor. Outras vezes, Ziembinski vai além da medida exata porque não sabe se poupar astuciosamente, não conhece as formas conciliatórias da prudência: aposta sempre só no branco ou no vermelho. Acerta ou erra, invariavelmente com a mesma coragem, a mesma franqueza e o mesmo conhecimento do teatro. É por isto que podemos discordar mil vezes dele sem que diminua a nossa admiração".1
Nota
1. PRADO, Décio de Almeida: Ziembinski, Estado de São Paulo, São Paulo, 04 jul. 1951.
Obras 6
Espetáculos 185
Fontes de pesquisa 6
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- GUERINI, Elaine. Nicette Bruno & Paulo Goulart: tudo em família. São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 256 p. (Aplauso Perfil). 792.092 G932n
- MAGALDI, Sábato: Panorama do Teatro Brasileiro. São Paulo: Difel, 1962.
- MICHALSKI, Yan. Ziembinski. In:_________. PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.
- MICHALSKI, Yan: Ziembinski e o Teatro Brasileiro. São Paulo: Hucitec / MEC / Funarte, 1995.
- PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno: 1930-1988. São Paulo: Perspectiva, 1988. (Debates, 211).
Como citar
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ZIEMBINSKI.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa349667/ziembinski. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7