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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Paulo Pontes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.02.2019
08.11.1940 Brasil / Paraíba / Campina Grande
27.12.1976 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico autoria desconhecida

Retrato de Paulo Pontes
Paulo Pontes
Acervo Cedoc/FUNARTE

Vicente de Paula Holanda Pontes (Campina Grande, Paraíba, 1940 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1976). Dramaturgo, produtor de rádio e teatro, locutor, jornalista e tradutor. De família pobre, muda-se com os pais para João Pessoa, em 1944. Frequentador da biblioteca pública local, assiste aos programas de auditório da Rádio Tabajara e circula e...

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Biografia

Vicente de Paula Holanda Pontes (Campina Grande, Paraíba, 1940 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1976). Dramaturgo, produtor de rádio e teatro, locutor, jornalista e tradutor. De família pobre, muda-se com os pais para João Pessoa, em 1944. Frequentador da biblioteca pública local, assiste aos programas de auditório da Rádio Tabajara e circula entre os palcos e grupos teatrais da cidade. Em 1956, faz uma pequena participação como ator na peça Apenas uma Cadeira Vazia, de Hermilo Borba Filho (1917-1976). Muda-se para o Rio de Janeiro em 1959 e ganha uma bolsa de estudos do Museu Histórico e Geográfico Nacional. Com dificuldades para se manter, retorna a João Pessoa e trabalha na Rádio Tabajara como redator, produtor e locutor do programa Rodízio. Participa ainda da Ceplar, campanha de alfabetização popular fomentada pelo governo paraibano. Um dos criadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE), o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) chega a João Pessoa em 1962. Depois de ouvir o programa radiofônico de Paulo Pontes, Vianna Filho vai conhecê-lo pessoalmente e o convida a juntar-se à equipe do CPC no Rio de Janeiro. Pontes embarca para o Rio em 1964 a fim de participar de uma reunião com os membros do CPC, como representante da Ceplar.1 Chega à cidade momentos antes de os militares tomarem o poder e vê a sede da UNE ser metralhada e incendiada. Colabora com os artistas que produzem o show Opinião. Integra o Grupo Opinião, espaço criado em seguida, em que a intelectualidade de esquerda pode manter acesos seus ideais de resistência.2 Vítima da censura, o Opinião passa por dificuldades e, em 1967, parte de sua equipe, entre eles Paulo Pontes, despede-se do grupo. Pontes retorna à Paraíba e passa a trabalhar na rádio. O trabalho com o Opinião o estimula a escrever sua primeira peça, Para-í-bê-a-bá (1967). A convite de Almeida Castro, diretor artístico da TV Tupi, retorna ao Rio de Janeiro em 1968, contratado como membro da equipe de criação do canal. Em colaboração com Vianna Filho, Pontes realiza o programa Bibi – Série Especial,3 apresentado pela atriz Bibi Ferreira (1922), com quem se casa. No início da década de 1970, passa a escrever regularmente para o teatro. Surgem, entre outras peças, Um Edifício Chamado 200 (1971), e Check-Up (1972), pela qual recebe o Prêmio Governo do Estado da Guanabara. Em 1975, em parceria com o compositor Chico Buarque (1944), escreve Gota d’Água, sua última peça. 

Análise

No decorrer de sua carreira, Paulo Pontes participa de momentos cruciais da vida cultural brasileira nas décadas de 1960 e 1970. Ele faz parte da geração de artistas que redimensionam a função social do teatro, dando-lhe um caráter utilitário e pedagógico e transformando-o em veículo para a propagação de uma consciência esquerdizante, em diálogo com a cultura popular brasileira e em busca de novos públicos. Retomando formas peculiares à história do teatro brasileiro, como a comédia de costumes, capta em suas peças as mudanças pelas quais a cultura e o país passam durante os anos da ditadura militar. Sua obra dramática e seus textos ensaísticos, marcados pela reflexão sociológica e estética, podem ser encarados como um testemunho do processo de desagregação, a partir de 1964, dos projetos de um teatro popular de esquerda, desarticulado pela repressão e pelo crescimento da indústria cultural.

Inspirado nos quadros humorísticos de Chico Anysio (1931-2012), Haroldo Barbosa (1915-1979) e Sérgio Porto (1923-1968), o programa radiofônico Rodízio, criado na Rádio Tabajara de João Pessoa, já trabalha com alguns dos elementos que dão forma à sua obra – o apreço pela comédia de costumes, o gosto pelos temas do cotidiano, as inquietações políticas e a escolha da palavra como veículo de comunicação.

Para montar seu primeiro espetáculo, Para-í-bê-a-bá, mobiliza poetas, músicos e escritores da terra natal e funda o Teatro de Arena da Paraíba. Investigação do “homem paraibano”, a peça vale-se dos procedimentos épicos próprios à dramaturgia engajada brasileira dos anos 1960 e 1970 – rica em didatismo e avessa às formas tradicionais do drama. Por meio de uma colagem de textos de fontes diversas, entre elas o romance A Bagaceira, de José Américo de Almeida (1887-1980), reflete sobre os desafios e limites de comunicação do teatro num ambiente de poucas iniciativas artísticas. Para assegurar sua viabilidade, o teatro, segundo o autor, tem de “sujar-se da realidade do seu público, para tê-lo atento, para fazê-lo gostar e necessitar de teatro”.4

Pontes defende a primazia da palavra como instrumento de lucidez, as potencialidades didáticas do teatro e a preservação do canal de contato com o espectador. Um Edifício Chamado 200 (1971) investe no universo da comédia de costumes. A peça desempenha um papel importante na luta pela manutenção dos dramaturgos brasileiros em cartaz, num momento de forte censura e dificuldade profissional. Apropria-se de um velho tema da comédia – a fome – presente no teatro desde a commedia dell’arte italiana, para tratar das agruras de um malandro que deposita suas esperanças no prêmio da loteria esportiva.

Check-Up (1972), a peça seguinte, escrita a pedido do ator e encenador Ziembinski (1908-1978), narra a história de um velho ator que se interna num hospital para cuidar de uma doença. Com sua ironia, incomoda a burocracia e a autoridade médicas. Durante a redação da peça, Paulo Pontes lida com as restrições da censura, cuja vigilância enfraquece a possibilidade de diálogo com o público. Para o autor, a repressão obriga os dramaturgos a abrir mão dos assuntos pertinentes à realidade do país e a encontrar nova estruturação do espetáculo, baseada em simbolismos e que ameaça a clareza do discurso teatral. Check-Up revela aspectos característicos de sua obra e de sua postura como artista – a estadia do velho ator no hospital supõe um processo de aprendizado pelo qual o personagem deixa de reduzir a realidade à sua visão especulativa para conhecê-la concretamente e assim modificá-la.

Ainda em 1972, Pontes visita o mito de Fausto com a comédia Dr. Fausto da Silva, na qual revela pleno domínio da carpintaria teatral. A lenda alemã serve de base para que investigue a contraditória situação da classe média – e do artista – durante o milagre econômico brasileiro. Para alcançar o topo da pirâmide social, o protagonista tem de pagar um alto preço – hipotecar sua humanidade em prol da conquista do ibope na televisão. O universo do teatro de revista serve de inspiração para Madalena Berro Solto, escrita com a colaboração da atriz Dercy Gonçalves (1907-2008). Único de seus textos que não chega a ser montado, põe em cena um tribunal fictício às voltas com o debate entre arte popular e arte erudita. Paulo Pontes volta a criticar as posturas de agressão ao público e reitera seu projeto artístico: “[...] só trabalho com a temática da maioria. A dramaturgia confessional dos personagens de exceção não me interessa. Acho que o teatro não é a arte da perplexidade. O teatro é a arte das coisas sabidas”.5

Gota d’Água (1975) toma como matéria dramática o papel atribuído às classes médias no processo de modernização autoritária levado adiante pelo governo militar brasileiro. Escrita em parceria com Chico Buarque, baseada em texto de Oduvaldo Vianna Filho e em Medeia (431 a.C.), tragédia de Eurípides (480 a.C - 406 a.C), investiga a maneira pela qual os quadros da classe média, incluindo a intelectualidade, são cooptados pelo processo produtivo capitalista. Diante da constatação de que o teatro brasileiro vive uma crise de linguagem que dificulta a representação do momento vivido pelo Brasil, os autores recolocam a palavra no centro do espetáculo teatral, com vistas a recuperar sua lucidez. Estrelada por Bibi Ferreira com direção do encenador e cenógrafo italiano Gianni Ratto (1916-2005), a peça é considerada pela crítica um dos marcos da moderna dramaturgia brasileira.

Notas

1. Informação dada pela cronologia estabelecida pelo pesquisador Paulo Vieira em sua tese de mestrado sobre Paulo Pontes. A cronologia estabelecida pela coleção das peças do dramaturgo, lançada pela editora Civilização Brasileira, diz que o autor muda-se para o Rio de Janeiro a fim de trabalhar na Rádio Mayrink Veiga.

2. SCHWARZ, Roberto. Cultura e política, 1964-1969. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

3. O nome dado ao programa pela cronologia da Coleção é Bibi ao Vivo. Aqui é adotado o nome dado pelo pesquisador Paulo Vieira, pois sua tese inclui a análise de roteiros do programa.

4. PONTES, Paulo. Para-í-bê-a-bá. João Pessoa, 1968. Sem editora. Arquivo do autor. Citado por VIEIRA, Paulo. Paulo Pontes: a arte das coisas sabidas. Tese de mestrado. Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, 1989. p. 39.

5. PONTES, Paulo. Madalena Berro Solto. In: Teatro de Paulo Pontes – volume II. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. p. 235.

Obras 1

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Espetáculos 47

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Fontes de pesquisa 8

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  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Júlia do Vale]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
  • PONTES, Paulo e HOLANDA, Chico Buarque de. Gota d'água. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
  • PONTES, Paulo. (Dossiê Personalidade Artes Cênicas). Rio de Janeiro: Cedoc/Funarte.
  • PONTES, Paulo. Teatro de Paulo Pontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. v.1 e v.2.
  • Paulo Pontes, as coisas sabidas e não conquistadas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28 dez. 1976. Caderno B.
  • SCHWARZ, Roberto. Cultura e política: 1964-1969. In: _____. Cultura e política. São Paulo: Paz e Terra, 2001. (Coleção leitura).
  • TBC apresenta Arena-Opinião. São Paulo: TBC, 1965. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).
  • VIEIRA, Paulo. Paulo Pontes: a arte das coisas sabidas. Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, 1989.

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