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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Dercy Gonçalves

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.10.2024
23.06.1907 Brasil / Rio de Janeiro / Santa Maria Madalena
19.07.2008 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico autoria desconhecida

Dercy Gonçalves
Dercy Gonçalves
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo

Dolores Costa Gonçalves (Santa Maria Madalena, Rio de Janeiro, 1907 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008). Atriz. Dercy Gonçalves pertence a uma categoria especial de ator, dos grandes comediantes populares puramente intuitivos. Atriz do teatro de revista e posteriormente dedicada a shows solitários, é o maior expoente do teatro de improviso n...

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Dolores Costa Gonçalves (Santa Maria Madalena, Rio de Janeiro, 1907 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008). Atriz. Dercy Gonçalves pertence a uma categoria especial de ator, dos grandes comediantes populares puramente intuitivos. Atriz do teatro de revista e posteriormente dedicada a shows solitários, é o maior expoente do teatro de improviso no Brasil.

Estreia em 1929, na cidade de Leopoldina na Companhia Maria Castro, fazendo dueto com Eugênio Pascoal. No ano seguinte, viaja pelo interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, apresentando-se em dupla com Eugênio Pascoal, como Os Pascoalinos. No Rio de Janeiro, faz carreira no teatro de revista na década de 30 e, nos anos 40, trabalha para a empresa de Walter Pinto (1913-1994) em espetáculos como Rumo a Berlim, de Freire Jr. e Walter Pinto; Passo de Ganso, de Freire Jr., em 1942; Rei Momo na Guerra, de Freire Jr. e Assis Valente (1911-1958), 1943; Momo na Fila, de Geysa Bôscoli (1907-1978) e Luiz Peixoto (1889-1973), 1944; e Canta Brasil, de Luiz Peixoto, Geysa Bôscoli e Paulo Orlando, 1945; todos com direção de Otávio Rangel. Nos anos 50, quando a revista já não atrai o mesmo público, dedica-se à comédia.

Nos espetáculos em que atua, Dercy se sobrepõe ao texto, nunca representando a personagem, mas fazendo com que esta se amolde a ela. O restante do elenco se converte em apoio aos improvisos da diva popular, reduzindo-se ao papel de coro. Este procedimento é alvo de críticas, que, no entanto, não abalam o direcionamento da atriz.

A partir do final dos anos 60, Dercy abandona a dramaturgia, para recorrer a um formato mais próximo ao show, em que ela tem papel solo. Inicialmente, alguns autores são chamados a escrever sob encomenda. Depois, a própria atriz assina roteiro e direção. O nome dos espetáculos muda, mas seu conteúdo e sua forma são sempre idênticos: solos de Dercy Gonçalves com sua comicidade bufa em diálogo direto com o espectador, sem personagem, feito de uma seqüência de piadas e tiradas cômicas. O palavrão tem uso recorrente, o que faz o crítico Sábato Magaldi (1927-2016) observar que, nos espetáculos da atriz, o palavrão aplaudido tem função de ária de ópera.

Em cinema, atua em Samba em Berlim, direção de Luís de Barros (1893-1982), 1943; Abacaxi Azul, direção de J. Ruy (Ruy Costa), 1944; Caídos do Céu, direção de Luís de Barros, 1946; Uma Certa Lucrécia, direção de Fernando de Barros (1915-2002), 1957; A Baronesa Transviada, direção de Watson Macedo, 1957; A Grande Vedete, direção de Eurides Ramos, 1958; Cala Boca Etelvina, direção de Eurides Ramos, 1959; Só Naquela Base, direção de Ronaldo Lupo, 1960; Com Minha Sogra em Paquetá, direção de Saul Lachtermacher, 1961.

Em 1985, a atriz recebe o Troféu Mambembe como melhor personagem de teatro, uma categoria criada especialmente para ela que, em setenta anos de carreira, não conquistou nenhum prêmio por seu desempenho de atriz. Os críticos vêem dois lados de abordagem de seu trabalho: o lado do sucesso fácil e o da autenticidade. Yan Michalski (1932-1990), quando a atriz anuncia seu afastamento dos palcos, em 1971, escreve:

"Não é este, por certo, o teatro popular que eu gostaria de ver florescer no Brasil: a obstinação de Dercy em ver o público das chamadas camadas menos privilegiadas como algo de irremediavelmente primário; a sua recusa em contribuir para que esse público fosse levado sequer um passo na direção da conscientização; a sua ojeriza a qualquer idéia de renovação - tudo isso caracteriza uma posição revoltantemente reacionária".1

Já o crítico Sábato Magaldi aborda o estilo da atriz pelo lado da assumida marginalidade:

"Imperceptivelmente, começa-se a sentir por que Dercy sintoniza tanto com o público. Ela assume a própria marginalidade, erigindo-a como um troféu. O povo brasileiro também, por circunstâncias históricas, políticas e econômicas, acabou sendo marginalizado, ainda que ostente o emblema da completa soberania. Dercy perseguida, incompreendida, marginalizada, mas dando a volta por cima, no deboche e no sarcasmo, confunde-se com a efígie não expressa que parcela ponderável da população tem a seu próprio respeito. O riso provoca a catarse. (...) rindo, se aprende com ela uma profunda lição de brasilidade".2

Notas

1 MICHALSKI, Yan. Despedida demagógica. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 27 abr. 1971.

2 MAGALDI, Sábato. A marginalidade erigida em troféu. Jornal da Tarde, São Paulo, 26 mar. 1983. Divirta-se.

Obras 1

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Espetáculos 94

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Fontes de pesquisa 4

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  • AMARAL, Maria Adelaide. Dercy de cabo a rabo. São Paulo: Globo, 1994.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Márcio Freitas]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
  • GONÇALVES, Dercy. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.
  • PAIVA, Salvyano Cavalcanti de. Viva o Rebolado: vida e morte do teatro de revista brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. 693 p.

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