Hermilo Borba Filho
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Hermilo Borba Filho
Hermilo Borba Filho
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo
Texto
Biografia
Hermilo Borba Filho (Engenho Verde, Palmares, Pernambuco, 1917 - Recife, Pernambuco, 1976). Autor, encenador, professor, crítico e ensaísta. Diretor artístico do Teatro do Estudante de Pernambuco e fundador do Teatro Popular do Nordeste, é um dos homens de teatro mais atuantes no Nordeste brasileiro
Começa a carreira na década de 1930, como ator, ponto, autor e diretor na Sociedade de Cultura Palmarense. Em 1936, muda-se para o Recife e trabalha como ponto do Grupo Gente Nossa (GGN), de Samuel Campêlo (1889-1939). Na década de 1940, ingressa no Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), traduzindo peças e atuando nos espetáculos. Insatisfeito com a linha de repertório do grupo, é convidado e assume a direção artística, em 1945, do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP). Para a estreia escolhe as peças O Segredo, de Sender e O Urso, de Anton Tchekhov que fazem parte de um mesmo espetáculo em 1946. Mais tarde, o TEP monta uma barraca em praça pública, onde realiza várias montagens, entre elas, as primeiras peças de Ariano Suassuna (1927-2014) e do próprio Borba Filho.
Em 1953 muda-se para São Paulo, onde trabalha como jornalista, diretor de teatro e faz parte da Comissão Estadual de Teatro. Em 1957, recebe prêmio como diretor revelação pela Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCT), com a peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Volta para o Recife, em 1958, a fim intergrar o corpo docente do curso de teatro da Universidade do Recife (atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE). Funda o Teatro Popular do Nordeste (TPN), em 1960, com o objetivo de abrir caminho para o "teatro de arte" em caráter profissional na região.
Nos primeiros anos da década de 1960, monta diversas peças de Ariano Suassuna, como A Pena e a Lei, A Farsa da Boa Preguiça e A Caseira e a Catarina. A primeira fase do TPN é interrompida, por razões financeiras e também políticas, em 1962, após a encenação de Município de São Silvestre, de Aristóteles Soares.
Hermilo Borba Filho funda, simultaneamente ao TPN, em 1960, o Teatro de Arena do Recife, onde encena Marido Magro, Mulher Chata (1960), de Augusto Boal (1931-2009), e Eles Não Usam Black-Tie (1961) de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006).
Em 1966, retoma as atividades do TPN com O Inspetor, recriação de O Inspetor Geral, de Nicolai Gogol, a partir da teatralidade e das técnicas das festas populares nordestinas. Dirige em seguida O Santo Inquérito, de Dias Gomes (1922-1999), e Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, ambos em 1967, e Dom Quixote, de Antonio José, o Judeu, 1969. No ano seguinte, encena Cabeleira Aí Vem, de Sylvio Rabello, BUUUM, de Osman Lins (1924-1978) e José Bezerra, Município de São Silvestre, de Aristóteles Soares, O Pagador de Promessa, de Dias Gomes, O Cabo Fanfarrão, de Hermilo Borba Filho, Antígona, de Sófocles, e Andorra, de Max Frisch.
Para contornar o déficit permanente da companhia, Borba Filho tenta atrair os operários e os estudantes, faz convênios com entidades do comércio e da indústria, mas não consegue pagar as dívidas e fecha o teatro de 90 lugares.
Em entrevista para o Serviço Nacional de Teatro (SNT), questionado sobre se algum dia ganhou dinheiro com teatro, Hermilo Borba Filho se refere à montagem de Dercy Gonçalves (1907-2008) para sua versão de A Dama das Camélias como exemplo único, e acrescenta: "mas, de repente, verifiquei que a prostituição era muito pesada, e parei".1
Entre 1959 e 1968, é diversas vezes premiado como diretor pela Associação de Críticos Teatrais de Pernambuco. Em 1969, ganha o título de Chevalier de L'Ordre des Arts et des Lettres, outorgado pelo governo da França.
Exerce atividades culturais em muitas entidades: Serviço Nacional de Teatro, Secretaria de Educação e Cultura de São Paulo, Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco, Escolinha de Arte do Recife, Centro Cultural Luiz Freire. Na Universidade Federal de Pernambuco, cria e ministra a cadeira de história do teatro no Curso de Arte Dramática, em 1958; funda o Movimento de Cultura Popular (MCP), com Paulo Freire, Ariano Suassuna e outros; na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, colabora para a implantação do Curso de Teatro, em 1967; na Universidade Federal da Paraíba, ministra a disciplina de história do espetáculo; no Centro de Comunicação Social do Nordeste - Cecosne, leciona história do espetáculo. Em 1969, cria Teatroneco, dedicado ao teatro de bonecos.
Como crítico de teatro colabora, em São Paulo, para os jornais Última Hora e Correio Paulistano, além da revista Visão e, em Pernambuco, para Folha da Manhã, Jornal Pequeno, Diário da Noite, Diario de Pernambuco, Jornal do Comércio e Jornal da Cidade.
O trabalho de Hermilo Borba Filho, nos grupos que funda, é o de criar um caminho para buscar um espetáculo nordestino, com uma estética épica, baseada nos folguedos populares. Em conferências, artigos e nos diversos livros que publicou, relê as teorias universais do teatro a partir da ótica das manifestações festivas do Nordeste. Depois de duas palestras publicadas em 1947, Teatro, Arte do Povo e Reflexões sobre a Mise en scène, escreve o primeiro manual de história do teatro editado no Brasil, História do Teatro, em 1950. Nos anos 1960, publica, entre outros: Teoria e Prática do Teatro, 1960, Diálogo do Encenador, 1964, Espetáculos Populares do Nordeste e Fisionomia e Espírito do Mamulengo, ambos em 1966, Apresentação do Bumba-Meu-Boi, 1967, e a nova edição da História do Teatro, com o título de História do Espetáculo, 1968. Seus estudos sobre a cultura nordestina se aprofundam no período do TPN, onde ele coloca em prática a fusão entre o popular e o erudito.
Osman Lins, de quem ele encena uma peça no TPN, afirma, em artigo para a Revista de Teatro da Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais, que em todos os cargos e funções que ocupa Hermilo Borba Filho luta pela transformação: "Há por trás de quase todos esses títulos e iniciativas um combate que passa desapercebido do público: as incompatibilidades com as funções ou o empenho no sentido de renová-las".2
Em artigo para o Diario de Pernambuco, quatro anos após sua morte, Benjamin Santos, ex-integrante do TPN, escreve: "Durante a fase final de uma montagem, Hermilo já estava adaptando, traduzindo e concebendo o próximo espetáculo [...]. Outras características do TPN: revezamento de papéis importantes, divulgação do nome do grupo e não de atores isolados, formação de atores pela montagem sucessiva de espetáculos em função da estética procurada, incentivo ao estudo e à reflexão, formação de pessoal paralelo ao palco (cenógrafos, figurinistas, aderecistas...) [...]. Mais importante, porém, que todos esses aspectos encontrados é a concretização de uma estética do espetáculo. [...] Em resumo, seria um teatro com o canto, a dança, a máscara, o boneco, o bicho... uma recriação do espírito popular nordestino [...]; o homem brasileiro posto no palco com toda a sua luta, o sofrimento, a derrota, a insistência, a vitória; um teatro de intensidade emocional e crítica, um teatro vivo, aberto, sem a ilusão da quarta parede, permitindo ao público a compreensão maior de sua própria história. O teatro como um ato político e religioso a um só tempo. Esta é a busca de Hermilo [...]".3
Notas
1 BORBA FILHO, Hermilo. (Dossiê Personalidade Artes Cênicas). Rio de Janeiro: Cedoc/Funarte.
2 LINS, Osman. O invencível Hermilo, Revista de Teatro, Rio de Janeiro, julho/agosto de 1976.
3 SANTOS, Benjamin. Por uma história do teatro popular do NE, Diario de Pernambuco, Recife, 2 de junho de 1980, seção c, página 1.
Obras 1
Espetáculos 73
Exposições 1
-
12/2014 - 3/2013
Fontes de pesquisa 4
- BORBA FILHO, Hermilo. Dossiê Personalidade Artes Cênicas. Rio de Janeiro: Cedoc/Funarte.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Luís Reis]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- TEATRO Popular do Nordeste. (Dossiê Grupo Artes Cênicas). Rio de Janeiro: Cedoc/Funarte.
- TEATRO de Amadores de Pernambuco. Site do grupo. Disponível em: [http://www.tap.org.br]. Acesso em 6 de agosto de 2005.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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HERMILO Borba Filho.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa7224/hermilo-borba-filho. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7