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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Dias Gomes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.08.2024
19.10.1922 Brasil / Bahia / Salvador
18.05.1999 Brasil / São Paulo / São Paulo
Foto de Autoria desconhecida/Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo

Retrato de Dias Gomes, 1979
Dias Gomes
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo

Alfredo de Freitas Dias Gomes (Salvador, Bahia, 1922 - São Paulo, São Paulo, 1999). Dramaturgo, romancista, contista, roteirista de cinema, rádio e televisão. Destaca-se por desempenhar papel fundamental na consolidação da nova dramaturgia brasileira.

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Alfredo de Freitas Dias Gomes (Salvador, Bahia, 1922 - São Paulo, São Paulo, 1999). Dramaturgo, romancista, contista, roteirista de cinema, rádio e televisão. Destaca-se por desempenhar papel fundamental na consolidação da nova dramaturgia brasileira.

Aos quinze anos, escreve a primeira peça, A Comédia dos Moralistas (1937), premiada pelo Serviço Nacional do Teatro (SNT). Em 1943, ingressa na faculdade de direito, no Rio de Janeiro, mas não conclui a graduação. Entre o fim dos anos 1930 e o início da década de 1940, redige os textos reunidos no livro Peças da Juventude. Em 1942, estreia no teatro profissional com a peça Pé-de-Cabra, depois de cortes no texto feitos pela censura. A peça, encenada por Procópio Ferreira (1898-1979), rende-lhe um contrato de exclusividade com o ator, para quem escreve mais cinco textos. Divergências ideológicas encerram a parceria. A convite do dramaturgo Oduvaldo Vianna (1892-1972), trabalha na Rádio Panamericana em São Paulo. Em 1945, com o fim do Estado Novo, filia-se ao Partido Comunista e participa de seu Comitê Cultural. Volta ao Rio de Janeiro em 1950 e trabalha na Rádio Clube do Brasil. Em 1953, viaja à União Soviética com uma delegação de intelectuais brasileiros. No retorno ao Brasil, é demitido da Rádio Clube e perseguido. Sob anonimato, escreve programas para a ainda incipiente televisão. Seus textos são negociados por outras pessoas, entre elas, a esposa Janete Clair (1925-1983). Distante dos palcos durante uma década, retorna com a peça Os Cinco Fugitivos do Juízo Final (1954). Recém-saído da lista negra da repressão, assume cargo na Rádio Nacional em 1956, onde permanece até 1964, quando é demitido pelo governo militar.

A segunda fase de sua obra inicia-se com O Pagador de Promessas, texto encenado no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em 1960, e adaptado para o cinema por Anselmo Duarte (1920-2009), em 1962. A peça é considerada uma das obras-primas da moderna dramaturgia brasileira. A peça narra a história de Zé do Burro, pequeno proprietário de terras no interior da Bahia que, determinado a cumprir uma promessa, carrega uma enorme cruz até uma Igreja de Salvador. Quando chega à cidade, enfrenta a intolerância de um padre que o acusa de herege. Personagem de um mundo arcaico, Zé do Burro é, segundo Rosenfeld, um herói de traços míticos que naufraga diante dos padrões de sociabilidade do mundo moderno.

A ela, seguem-se A Invasão (1962), A Revolução dos Beatos (1962), O Berço do Herói (1965) e Dr. Getúlio, Sua Vida, Sua Glória (1968). A Invasão é herdeira do interesse naturalista pela problemática social. Por meio de recursos épicos, conta a história de um grupo de favelados que ocupa um edifício abandonado no Rio de Janeiro. Vários espaços simultâneos compõem o cenário da peça, marcada pela presença de um narrador oculto que orienta o foco sobre a cena, utilizando-se de uma técnica semelhante a um mural. Já em A Revolução dos Beatos, Dias Gomes retoma o misticismo popular encenando os aspectos dúbios do fanatismo religioso e sua manipulação pelas forças políticas. Em diálogo com O Pagador de Promessas, toma como cenário o sertão nordestino, no início da década de 1920, marcado pelo conflito entre coronéis, políticos e cangaceiros, pela miséria e pelo messianismo. A peça trabalha com personagens históricos e com o mundo folclórico do bumba-meu-boi.  

O Berço do Herói, por sua vez, filia-se a uma das melhores tradições do teatro moderno e conta a história de um estudante desertor da Segunda Guerra. Ao retornar à cidade natal, descobre que, para preservar a imagem do exército, é dado como morto. Seu regresso põe em risco a vida do lugar, pois o mito de sua morte promove o progresso local. Decidido a se livrar da farsa, sobre a qual incorrem corrupção moral e interesses econômicos, ele luta pela liberdade de não ser herói. No contexto da história, a inversão de valores tem feições tragicômicas – a “vida” da cidade depende da manutenção da morte.

Dr. Getúlio, Sua Vida, Sua Glória assinala condição inédita na carreira de Dias Gomes. Pela primeira vez, o dramaturgo participa de projeto colaborativo com artistas egressos do Centro Popular de Cultura (CPC) e, após o golpe militar, integrantes do Grupo Opinião. A peça é escrita em parceria com o poeta Ferreira Gullar (1930-2016) e recorre ao enredo carnavalesco para representar a saga de Getúlio Vargas. Apropriando-se da forma da “peça dentro da peça”, os autores fundem dois planos de ação que dialogam em jogo de espelhos. Enquanto um personagem narra a história de Vargas em clima de samba-exaltação, nos bastidores da escola corre o drama da luta entre seu presidente e um bicheiro. 

Em 1969, é contratado pela TV Globo e redige novelas e seriados, dos quais se destaca Roque Santeiro (1975), proibida pela Censura Federal e gravada somente uma década depois, em 1985. Nos anos 1970, escreve também Campeões do Mundo (1979) onde recoloca a ação dramática no centro da narrativa teatral. Disposto a debater a experiência da luta armada, o autor baseia-se no episódio do sequestro do embaixador americano nos anos 1970. O casal que participou da ação rememora, em tom de autocrítica, suas posturas. Com jogo de flashbacks e projeções temporais, a peça desenvolve-se em clima de romance policial. Em meados dos anos 1980, participa da fundação, pela TV Globo, da Casa de Criação Janete Clair, centro dedicado à pesquisa da teledramaturgia.

Dias Gomes entra para a história da dramaturgia brasileira como um grande nome, capaz de produzir textos originais, ácidos e críticos para diferentes meios de comunicação

Obras 28

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Espetáculos 52

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 14

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  • BORGES FILHO, Afonso. Dias Gomes presente no "Sempre um papo". Hoje em Dia, Belo Horizonte, 26 jun. 1989. Cultura, p. 25.
  • COSTA, Iná Camargo. Dias Gomes: um dramaturgo nacional-popular. 1987. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1987.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
  • GOMES, Dias. Edição comemorativa dos 50 anos da carreira de Dias Gomes. Rio de Janeiro: COOPIM, maio 1989.
  • GOMES, Dias. Eu, Dias Gomes. In: MERCADO, Antonio (Coord.). Coleção Dias Gomes – Vol. 1: Os heróis vencidos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. p. 413-425
  • GOMES, Dias. O Pagador de promessas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1987.
  • GOMES, Dias. Os heróis vencidos. In: Coleção Dias Gomes. Antonio Mercado (Org.). Rio de Janeiro: Bertrand. Brasil, 1989. v. 2.
  • GOMES, Dias. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.
  • MERCADO, Antonio. Prefácio. In: ________________. Campeões do mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. v. 5. (Coleção Teatro de Dias Gomes).
  • MICHALSKI, Yan. Dias Gomes. In: _________. Pequena Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.
  • Programa do Espetáculo - Barca dos Mortos - 1999.
  • Programa do Espetáculo - Campeões do Mundo - 1980.
  • ROSENFELD, Anatol. A obra de Dias Gomes. In: ______________. O Mito e o herói no moderno teatro brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 55-86
  • ROSENFELD, Anatol. O misticismo popular na obra de Dias Gomes. In: ______________. O Mito e o herói no moderno teatro brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 87-100

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