Janete Clair
Texto
Jenete Stocco Emmer Dias (Conquista, Minas Gerais, 1925 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1983). Escritora, novelista. É uma das responsáveis pela consolidação e popularização do folhetim no Brasil. Autora de narrativas de grande alcance de público, suas obras ganham ressonância tanto no rádio quanto na televisão brasileira do século XX.
Filha de imigrantes de origem libanesa e portuguesa, nasce em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais e, ainda na adolescência, se muda com a família para Franca, no estado de São Paulo. No município paulista, faz participações como cantora na rádio local e dá os primeiros passos na trajetória artística que desenvolve ao longo da vida. No início da vida adulta passa a viver na cidade de São Paulo, onde, com a ajuda da irmã, se integra ao elenco da rádio Tupi para trabalhar como radioatriz e locutora de programas musicais. Nesse momento, conhece o radialista Octavio Gabus Mendes (1906-1946), responsável pela escolha do nome artístico, Janete Clair, que passa a adotar em referência à peça de piano “Clair de Lune”, do compositor francês Claude-Achille Debussy (1862-1918), música preferida da autora. No ano de 1945, nos corredores da rádio Tupi, é apresentada ao escritor e dramaturgo Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999), com quem se casa e desenvolve uma frutífera parceria profissional.
A carreira como artista profissional de rádio que tem início no ano de 1944 atravessa mais de duas décadas, período no qual ela trabalha não apenas como atriz e locutora, mas também como autora, impulsionada pela familiaridade com as teclas da máquina de escrever e estimulada pelo marido que reconhece sua grande capacidade criativa. É de Dias Gomes que recebe as primeiras orientações e ensinamentos sobre a escrita de ficção. Entre 1944 e 1967 assina a trama de cerca de 30 radionovelas e consolida o seu nome como próspera escritora de folhetins para o formato radiofônico, o principal veículo de comunicação e entretenimento popular da época. O grande sucesso dessa fase se dá com a radionovela Perdão, meu filho, de 1956. Exibida pela Rádio Nacional, conta a história de duas famílias entrelaçadas pela troca de seus bebês na maternidade. Baseando-se em notícia real, Janete Clair cria uma trama que alcança grande audiência e anuncia o seu duradouro e exitoso caminho como ficcionista, confirmado posteriormente pelo sucesso de público e crítica de Um estranho na terra de ninguém, de 1958. Também veiculada pela Rádio Nacional, a história de um homem da cidade que volta ao campo para fazer justiça ao pai fazendeiro e recuperar a sua herança atinge picos de audiência e intensifica o desejo da autora em escrever tramas para o novo veículo de comunicação que se difunde pelo país.
A partir de 1950, os aparelhos de televisão começam a chegar ao Brasil e se transformar em bem de consumo de uma parcela elitizada da população. Gradativamente, vão se popularizando e as emissoras de rádio começam a perder espaço para a novidade que a televisão representa. Atentos a esse movimento, diretores das principais rádios de São Paulo – pelas quais Dias Gomes e Janete Clair passam e constroem suas carreiras – decidem investir na adaptação das radionovelas para o formato televisionado e assim, no começo dos anos 1960, as telenovelas se tornam o eixo central da programação das estações de TV brasileiras. Já reconhecida como escritora de folhetins para rádios, busca se inserir no restrito grupo de autores que escreve tramas para a televisão, mas encontra resistência nesse espaço majoritariamente masculino. Seu primeiro trabalho, para a TV Tupi do Rio de Janeiro, O pássaro ferido é destinado ao público infantil e vai ao ar no ano de 1963. Quatro anos depois, é convidada pela direção da TV Globo para recuperar a trama da novela Anastácia, a mulher sem destino, que preocupava a cúpula da emissora pelo enredo confuso e fracasso de audiência. Janete Clair assume a autoria do texto, consegue contornar o problema e ganha a atenção da diretoria daquela que era a emissora de TV mais promissora do país.
Na biografia Janete Clair: a usineira de sonhos (1996), o jornalista Artur Xexéo (1951 -2021) atribui à novelista a mudança decisiva na estrutura narrativa do gênero folhetinesco que ganha força década de 1970 e é incorporada por novelistas contemporâneos e sucessores de Janete Clair. Com Véu de noiva, de 1969, ela introduz enredos paralelos ao enredo principal, o que oferece fôlego à trama e permite a criação e aprofundamento de personagens para além das personagens protagonistas. Com Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972), Pecado Capital (1975), O astro (1978), Pai Herói (1979) se torna a principal autora de folhetins do país, sendo reconhecida pela alcunha de “nossa senhora das oito” devido ao sucesso que sua ficção alcança no horário mais caro e concorrido da televisão brasileira. A capacidade de imaginar histórias e “dosar as medidas exatas de aventura e emoção que prendessem a atenção do país”1 fica provada durante a exibição de O Astro: um frisson nacional se forma em torno da revelação, no último capítulo da novela, sobre a identidade do assassino da personagem Salomão Aiala.
Imaginativa e habilidosa com as palavras, Janete Clair cria um estilo próprio e marcante para a escrita de folhetins, e faz parte da memória do rádio e da televisão brasileiros, tendo ajudado a construir e perpetuar histórias por meio deste gênero literário popular que constitui uma parcela da identidade cultural do país.
Notas
1. XEXÉO, Artur. Janete Clair: a usineira de sonhos. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1996, p. 89.
Espetáculos 2
-
4/1/2008 - 30/3/2008
-
Fontes de pesquisa 4
- CATALÁ, Luciane Souza. Identidade em jogo: a questão identitária à luz do duplo em “Selva de Pedra” (1972-1973), de Janete Clair. Dissertação (mestrado em História) - Universidade Federal do Paraná, 2017. 144 fls. Disponível em https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/52594?show=full. Acesso em 3 out. 2022.
- FERREIRA, Mauro. Nossa Senhora das Oito: Janete Clair e a evolução da telenovela no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.
- JANETE CLAIR. Memória Globo. Rio de Janeiro. 29 fev. 2021. Disponível em https://memoriaglobo.globo.com/perfil/janete-clair/noticia/janete-clair.ghtml. Acesso em 3 out. 2022.
- XEXÉO, Artur. Janete Clair: a usineira de sonhos. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1996.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
JANETE Clair.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa488035/janete-clair. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7