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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Stanislaw Ponte Preta

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.08.2024
11.01.1923 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
30.09.1968 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Sérgio Marcus Rangel Porto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1923 – Idem, 1968). Cronista, humorista, jornalista. Sobretudo por meio do heterônimo Stanislaw Ponte Preta, criado em 1951, colabora em diferentes veículos de imprensa no momento de formação da indústria cultural no Brasil. Atuando em diferentes mídias, deixa registradas em suas crônic...

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Sérgio Marcus Rangel Porto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1923 – Idem, 1968). Cronista, humorista, jornalista. Sobretudo por meio do heterônimo Stanislaw Ponte Preta, criado em 1951, colabora em diferentes veículos de imprensa no momento de formação da indústria cultural no Brasil. Atuando em diferentes mídias, deixa registradas em suas crônicas impressões diversas a respeito das novas linguagens e dos novos modos de percepção da realidade.

Inicia a carreira jornalística enquanto trabalha como funcionário do Banco do Brasil, onde permanece por 23 anos. Colabora para periódicos como Tribuna da Imprensa, Diário da Noite, O Jornal, A Carapuça e revistas como Manchete, Fatos & Fotos, O Cruzeiro e Mundo Ilustrado. Atua também como comentarista esportivo e redator humorístico na rádio, apresentador, redator e locutor em programas de televisão e roteirista de chanchadas. Homenagem ao personagem Serafim Ponte Grande, do escritor Oswald de Andrade (1890-1954), o pseudônimo é criado em 1951, durante sua colaboração para o Diário Carioca, e se notabiliza na coluna Reportagem de Bolso, destaque de última página do jornal Última Hora

Apropria-se de diferentes textos e discursos, buscando evidenciar as inconsistências das formulações ideológicas contidas neles. Um de seus alvos centrais é o que chama de linguagem dos "entortados literários", típica dos repórteres policiais e dos locutores esportivos, que se serve de recursos estilísticos como o plural de modéstia ("nós", no lugar de "eu") e vocábulos raros como "amásio" (em substituição a "amante").

A crônica “Repórter policial”, do livro Primo Altamirando e elas (1962), fornece a chave para se compreender um dos objetivos da sátira ao estilo dos repórteres policiais. Ponte Preta relata o episódio vivido por Altamirando, personagem recorrente em seus textos, durante colaboração para um jornal. Diante da recusa do secretário de redação em enviar um fotógrafo para registrar o "furo" que conseguira, pois não se tratava de algo suficientemente sangrento, Altamirando afirma: "Mande o fotógrafo que, até ele chegar, eu dou jeito de arrancar a cabeça do falecido". Denuncia, assim, os meios empregados pelos veículos de comunicação para chamar a atenção do leitor a qualquer preço, exagerando-os até a inverossimilhança.

Já a crônica “Cara ou coroa”, publicada em Rosamundo e os outros (1963), ilustra como o autor busca provocar no leitor o distanciamento crítico em relação a construções oferecidas como inquestionáveis. Trata-se de sentenças fundamentadas em lugares-comuns que, ao serem organizadas em pares, sugerem a automação e a falsidade dos discursos, como: "O aumento do custo de vida no Brasil é uma consequência lógica do desenvolvimento do país, insuflado pelo crescimento da população e outros fenômenos dos quais só podemos nos orgulhar". A oração que parece uma leitura positiva do cenário econômico é na verdade carregada de ironia e leva o leitor a se questionar sobre seu real significado. Se compreendida em suas linhas gerais, a composição exemplifica o movimento fundamental dessa obra: a partir da deformação linguística, o discurso satírico evidencia as contradições de modelos idealizados. A incorporação do estereótipo, manifestada em diversos níveis, permite que o leitor se distancie da representação, adotando um olhar crítico diante da forma como se oferecem os papéis sociais.

Essa função é exercida também pelas figuras que frequentam as crônicas do autor, entre as quais está Altamirando. Embora caricaturais, os personagens revelam sobre o evento narrado aspectos dificilmente notáveis pela percepção habitual. Tia Zulmira realiza as principais intervenções nesse sentido. De sabedoria acentuada, a personagem é apresentada como professora do escritor francês André Gide (1869-1951) e noiva do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882). E, embora seja personagem de um perfil publicado no primeiro livro de Ponte Preta – ao qual, aliás, dá nome: Tia Zulmira e eu (1961) –, jamais chega a participar das tramas.

A memória é uma importante dimensão de seu trabalho narrativo, quando assinado com o próprio nome. Assim, as crônicas de A casa demolida (1963), que reeditam O homem ao lado (1958), são marcadas pela nostalgia. Já os contos de As cariocas (1967), ao explorar a moderna condição feminina com base em variados tipos de mulher, compõem o retrato das mudanças sociais ocorridas no Rio de Janeiro do século XX.

O autor alcança sucesso editorial com os três volumes de Febeapá: O festival de besteira que assola o país, título que parodia o uso de siglas pela ditadura militar1, publicados em 1966, 1967 e 1968. Nesses volumes, os eventos narrados revelam a presença do autoritarismo, do "dedurismo", da hipocrisia e violência no cotidiano. Em julho de 1968, no intervalo da apresentação do Show do Crioulo Doido, de sua autoria, é vítima de uma tentativa de envenenamento – que atribui a terroristas de orientação política direitista.

A sátira é a principal marca das crônica que Sérgio Porto assina como Stanislaw Ponte Preta: direcionando-se a todos os setores da sociedade e, a partir de 1964, em especial ao estado autoritário, aproveita os recursos jornalísticos para a observação aguda da realidade e extrai do humor o seu poder de crítica.

Notas

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Espetáculos 9

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Exposições 3

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Fontes de pesquisa 4

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  • MESQUITA, Claudia. De Copacabana à Boca do Mato: O Rio de Janeiro de Sérgio Porto e Stanislaw Ponte Preta. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2008.
  • MORAES, Dislane Zerbinatti. O trem tá atrasado ou já passou: a sátira e as formas do cômico em Stanislaw Ponte Preta. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
  • PAULILLO, Maria Célia Rua de Almeida (seleção, notas estudos biográfico, histórico e crítico). Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta). São Paulo: Abril Educação: Literatura Comentada, 1981.
  • SÉRGIO, Renato. Dupla exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.

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