Haroldo Barbosa
Texto
Ary Vidal (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1915 - idem 1979). Compositor, jornalista, produtor e diretor de rádio e TV. Com seu nome artístico homenageia o jurista e político Ruy Barbosa. Nasce no bairro de Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro, e aos sete anos muda-se para o bairro de Vila Isabel, na zona norte da cidade, onde cresce em meio à boemia. Aprende a tocar cavaquinho com Hélio Rosa, irmão de Noel Rosa, juntamente com João de Barro e Almirante. Aos 18 anos, divide seu tempo entre os empregos de contrarregra do Programa Casé, na Rádio Philips, e de repórter do jornal A Noite. Tenta conciliar as tarefas com a faculdade de direito, mas logo desiste do curso. Exerce funções como discotecário, locutor esportivo, arquivista, redator e publicitário na Rádio Transmissora e na Rádio Sociedade, até se transferir para a Rádio Nacional, na época líder de audiência, onde cresce profissionalmente.
Escreve versões de sucessos estrangeiros para serem interpretados por cantores nacionais, produz os primeiros jingles da publicidade brasileira e cria programas de grande apelo popular, como A Canção Romântica (1945), que promove a carreira do cantor Francisco Alves, o “rei da voz”, e Um Milhão de Melodias (com o jornalista José Mauro). Elabora o roteiro de O Grande Teatro, do radialista César Ladeira, outro sucesso da rádio na época. Ainda no início dos anos de 1940, dedica-se ao humorismo escrevendo a coluna de turfe O Pangaré, inicialmente no Diário da Noite e depois no jornal O Globo.
Sua primeira composição de destaque é o samba De Conversa em Conversa (com Lúcio Alves), gravada em 1943 por Isaura Garcia. Seguem-se as canções em parceria com Geraldo Jacques e lançadas pelo grupo vocal Os Cariocas, Tim Tim por Tim Tim e Adeus América. Essa última música, um bem humorado samba de protesto contra a invasão da música estrangeira, provoca sua demissão da Rádio Nacional por seus superiores a considerem subversiva. É contratado pela Rádio Mayrink Veiga, onde comanda os programas Crônica do Mundo, Viva o Samba e Cidade Alegre, ao lado de César Ladeira e Antonio Maria. Mas são seus textos humorísticos que ganham espaço na programação, passando a escrever cinco programas semanais e uma crônica diária. Lá, conhece e incentiva as carreiras de dois jovens humoristas, Chico Anysio e Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta). Nesse mesmo período, compõe a marchinha Barnabé (1948) em parceria com Antonio Almeida, gravada por Emilinha Borba, e o samba Palhaçada (1961) em parceria com Luiz Reis.
Sua estreia na televisão acontece em 1957, na TV Rio, como autor dos programas Chico Anysio Show, Noites Cariocas e E o Riso É o Limite. Em 1963, a convite de Carlos Manga, vai trabalhar na TV Excelsior, criando com Max Nunes o musical Times Square. A parceria se consolida de forma definitiva ao serem contratados pela TV Globo, em 1965, época em que Haroldo Barbosa diminui sua atividade como compositor. A dupla, que trabalha pelos 20 anos seguintes, produz os programas humorísticos Riso Sinal Aberto e Bairro Feliz, reunindo artistas como Berta Loran, Agildo Ribeiro, Grande Otelo e Milton Gonçalves. Max Nunes e Haroldo Barbosa criam também o TV0-TV1, considerado pioneiro na televisão brasileira ao satirizar a própria programação da emissora, linha seguida por outras criações da dupla, como Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricon e Planeta dos Homens. São responsáveis ainda pela criação de vários outros programas que revolucionam o gênero na televisão brasileira na década de 1970 ao fazer um humor mais moderno, como Viva a Música e Oh, Que Delícia de Show. Haroldo Barbosa morre de câncer no Rio de Janeiro em 1979.
Análise
O estilo de fazer samba de Haroldo Barbosa não é o tradicional dos anos de 1940 e 1950, o samba de partido alto ou o do morro, mais comuns e populares na época. É um samba da cidade, do asfalto, urbano, de letras que são autênticas e refinadas crônicas sociais. Haroldo vale-se de sua verve jornalística para tecer bem humoradas e inteligentes análises dos costumes da sociedade brasileira em suas letras.
Na Rádio Nacional, aproveita o fácil acesso às mais recentes novidades musicais vindas do exterior para fazer versões, interpretadas principalmente por Francisco Alves. As recriações, entre elas Trolley Song, Poinciana, Malagueña, Adiós, Pampa Mia e Uno Amor, são um marco na introdução da música estrangeira na cultura brasileira, o que gera críticas de alguns compositores. O consumo de discos ainda é pequeno e poucas pessoas têm vitrolas em casa. Com o rádio, a música internacional, principalmente a norte-americana, chega aos lares brasileiros e introduz seus ritmos à juventude. Ironicamente, o primeiro sucesso do grupo Os Cariocas, Adeus América, de Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques, é um debochado apelo ao nacionalismo musical misturando boogie-woogie com samba: “Eu digo adeus ao boogie-woogie/ Ao woogie-boogie/ E ao swing também/ Chega de hots, fox-trots e pinotes/ Que isto não me convém”.
Mas o primeiro grande sucesso é seu samba De Conversa em Conversa (parceria com o cantor Lúcio Alves) gravado por Isaura Garcia, clássico da modernidade pré bossa nova que ganha as rádios brasileiras em 1943. Dois anos depois, Barbosa já é um dos mais populares compositores da época, e durante toda a década assina sucessos consecutivos com os mais variados parceiros, como Wilson Batista (Cabo Laurindo), Janet de Almeida (Eu Quero um Samba), Maria Grever (Te Quero, Disseste) e Geraldo Jacques (Tim Tim por Tim Tim). Porém, é só com 20 anos de carreira que encontra o parceiro ideal, o pianista e compositor Luiz Reis. No início dos anos de 1960, a dupla lança uma série de sucessos, a maioria nas interpretações de Elizeth Cardoso, Doris Monteiro, Aracy de Almeida, Nora Ney, Maria Bethânia e Miltinho. Palhaçada, parceria da dupla, é gravada por Miltinho e mais dez cantores, em onze versões diferentes só no ano de 1961. Na letra, os autores focalizam as desventuras de um rapaz que, apesar de enganado e abandonado pela mulher, admite aceitá-la de volta.
Composta originalmente para um musical do Cassino da Urca, sua marchinha Barnabé (com Antonio Almeida) ganha repentina projeção através de Grande Otelo e Linda Batista, que a cantam em um musical do dramaturgo Chianca de Garcia, e depois pela gravação de Emilinha Borba. Os pequenos funcionários públicos passam a ser apelidados de Barnabé por conta da canção de rimas simples e fácil de ser aprendida. Barnabé retrata o servidor humilde e sempre endividado e populariza o termo depois de ter o sucesso alavancado quando uma campanha do funcionalismo público coincide com a chegada do Carnaval de 1948 e os versos da música são adaptados para a folia: “Todo mês é descontado/ Vive sempre pendurado”.
A transferência da Rádio Nacional para a Rádio Mayrink Veiga marca o início de seu envolvimento com o humorismo, quando escreve uma série de programas do gênero e lança novos talentos na década de 1950. Passa a trabalhar com muitos parceiros e criar novos sucessos, como Baião de Copacabana (Lúcio Alves), Falas de Mim (Claudionor Cruz), Mania de Conversar e Joãozinho Boa Pinta(Geraldo Jacques). Em 1957, ingressa na TV e com o parceiro Max Nunes cria os melhores programas humorísticos da televisão brasileira até os anos 1970.
O compositor Haroldo Barbosa retira dos jornais, revistas humorísticas e outras publicações especializadas, assim como de seu próprio cotidiano e dos casos que presencia nas ruas, a inspiração para a composição de seus personagens e das situações por eles vividas. A lista dos grandes intérpretes da música brasileira que gravaram suas composições é extensa, e inclui nomes como João Gilberto, Chico Buarque, Dóris Monteiro, Aracy de Almeida, Nora Ney, Maria Bethânia e Elizeth Cardoso. Já como humorista, orgulha-se de não apelar para o uso de palavras de baixo calão para fazer piada.
Espetáculos 2
Fontes de pesquisa 5
- CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- DICIONÁRIO da TV Globo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. Vol.1: Programas de dramaturgia e entretenimento.
- EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1982.
- Haroldo Barbosa. In: DICIONÁRIO Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin, 2002. Disponível em: [http://www.dicionariompb.com.br/haroldo-barbosa]. Acesso em: set. 2009.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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HAROLDO Barbosa.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa409133/haroldo-barbosa. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7