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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Anjo Negro

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 21.12.2015
02.04.1948 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro – Teatro Fênix
Registro fotográfico autoria desconhecida

Anjo Negro, 1948
Maria Della Costa
Acervo Cedoc/FUNARTE

O espetáculo de estreia do Teatro Popular de Arte (TPA), de Maria Della Costa (1926-2015) e Sandro Polloni (1921-1995), causa um escândalo sem precedentes no teatro brasileiro. Na encenação exuberante de Ziembinski (1908-1978), a montagem marca a volta aos palcos da atriz Itália Fausta (1879-1951) e afirma o pioneirismo da jovem companhia.

Texto

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Histórico
O espetáculo de estreia do Teatro Popular de Arte (TPA), de Maria Della Costa (1926-2015) e Sandro Polloni (1921-1995), causa um escândalo sem precedentes no teatro brasileiro. Na encenação exuberante de Ziembinski (1908-1978), a montagem marca a volta aos palcos da atriz Itália Fausta (1879-1951) e afirma o pioneirismo da jovem companhia.

A histórica montagem de Vestido de Noiva, em 1943, se torna um marco pela encenação de Ziembinski, enquanto o texto de Nelson Rodrigues (1912-1980) chama a atenção mais pelo jogo de planos de ação do que pelo comportamento das personagens. Em Anjo Negro, a grande plasticidade usada pelo diretor não esconde a explosão trágica do texto, baseada no efeito do preconceito racial sobre o comportamento humano. A peça de Nelson Rodrigues, censurada por seis votos contra um, julgada pelo chefe de Polícia, pelo ministro da Justiça e finalmente liberada, atinge a moral da família burguesa e coloca o dedo na ferida do mal disfarçado racismo brasileiro.

A questão é tratada de forma aparentemente paradoxal. O negro Ismael, por odiar a própria cor, repudia tudo o que possa estar associado à sua raça - da religião aos hábitos culturais. Sua mãe o amaldiçoa depois de ele cegar Elias, o irmão de criação branco. Casado com a branca Virgínia contra a vontade dela, Ismael se torna cúmplice da mulher, que assassina os próprios filhos por serem negros. Virgínia sente pelo marido um misto de repugnância e paixão. Ao nascer Ana Maria, filha branca de Virgínia com Elias, Ismael a cega para que ela nunca veja a negritude paterna. Vendo ali o início de uma relação incestuosa, Virgínia, sempre com a cumplicidade do marido, acaba por matar a filha, quando esta se torna adolescente.

No Correio da Manhã, uma crítica estreante não titubeia em aplaudir a tentativa de interdição da peça e considerá-la um "ponto de partida para uma luta de raça, com o intuito de engendrar ódios e desordens sociais".1 Um grupo de senhoras, ex-alunas do Colégio Sacré-Coeur, se reúne sob a presidência do reitor do Colégio Santo Inácio e consegue 64 assinaturas para um documento que apóia a ação da censura. Nos jornais, a polêmica gira em torno do uso de músicas e orações católicas durante a cena do funeral.

Alguns críticos julgam excessiva a plasticidade expressionista da encenação e tentam explicá-la pela necessidade de desumanizar as personagens para "criar uma atmosfera estranha, de pesadelo, propícia ao florescimento e expansão de todas as taras, todas as aberrações e perversões do instinto".2 Outros consideram que o espetáculo "não é a vitória de um autor, mas de um diretor" que "substituiu a interpretação e o texto pela encenação".3 Paschoal Carlos Magno (1906-1980) exalta as inovações técnicas e artísticas da linguagem:

"Seus cenários, desdobrando planos, na sua largura, profundidade e altura, permitem ao diretor agrupar, aumentar, diminuir, fazer desaparecer, como por passes mágicos, auxiliado por efeitos luminosos, os intérpretes. Cada marcação - percebe-se logo - foi estudada e realizada com sensibilidade e inteligência. O primeiro ato é uma lição de direção cênica".4

Pouco se fala dos atores, postos à prova pela grande carga dramática e pelo rigoroso desenho formal. E mesmo os comentários mais positivos, quando se louva a dedicação e a concentração de Maria Della Costa, excluem os intérpretes do relativo êxito da montagem, considerando que foram abafados e apiedando-se do seu esforço.

Em todas as abordagens, o texto é visto como o único elemento definitivamente negativo. O autor Nelson Rodrigues é alvo de ironias e rejeição por parte de críticos que afirmam faltar ao persistente candidato a autor os méritos mais básicos para o ofício.

Anjo Negro faz temporada de um mês e meio no Rio de Janeiro e, em seguida, viaja para São Paulo, onde Décio de Almeida Prado (1907-2000) considera que o espetáculo traz, em seus planos assimétricos, suas escadas irregulares e interpretações coreografadas, o melhor do estilo de Ziembinski, já revelado em Vestido de Noiva e em Pelleas e Melisanda. Embora o trabalho dos atores mereça algumas restrições, o texto é considerado o ponto vulnerável da iniciativa. Segundo o crítico, os diálogos fracos, as deficiências na estrutura e a "insuficiência poética, literária e até teatral"5 não conseguem ser corrigidos pelo poderoso conteúdo.

Notas
1 RIBEIRO, Violeta. A respeito de 'Anjo Negro'. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 11 abr. 1948.
2 NUNES, Mário. O 'Anjo Negro', tragédia em três atos de Nelson Rodrigues. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 6 abr. 1948.
3 MAGNO, Paschoal Carlos. 'Anjo Negro', no Fênix. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 6 abr. 1948.
4 Ibid.
5 PRADO, Décio de Almeida. 'Anjo Negro'. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 4 fev. 1949.

Ficha Técnica

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Autoria
Nelson Rodrigues

Direção
Ziembinski

Cenografia
Sandro Polloni
Ziembinski

Coreografia
Helena Villar

Elenco
Augusta Silva / Anjo Negro
Aurora Labella / Anjo Negro
Eunice Fernandes / Anjo Negro
Geraldo Pereira / Anjo Negro
Itália Fausta / Anjo Negro
Jorge Aguiar / Anjo Negro
Josef Guerreiro / Anjo Negro
Maria Della Costa / Anjo Negro
Maria Oliveira / Anjo Negro
Milton Rocha / Anjo Negro
Nicette Bruno / Anjo Negro
Nieta Junqueira / Anjo Negro
Orlando Guy / Anjo Negro
Paula Silva / Anjo Negro
Pérola Negra / Anjo Negro
Regene Mileti / Anjo Negro
Rosely Mendes / Anjo Negro
Yara Brasil / Anjo Negro
Zeni Pereira / Anjo Negro

Produção
Sandro Polloni

Obras 1

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Registro fotográfico autoria desconhecida

Fontes de pesquisa 3

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  • MICHALSKI, Yan: Ziembinski e o Teatro Brasileiro. São Paulo: Hucitec / MEC / Funarte, 1995.
  • RODRIGUES, Nelson. Teatro completo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. v. 2. Peças míticas.
  • SILVA, Tânia Brandão da. Peripécias modernas: companhia Maria Della Costa. 1998. 204 p. Tese (Doutorado em História da Arte) - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.

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