Teatro Maria Della Costa (TMDC)
Texto
Histórico
Fundado pela atriz Maria Della Costa (1926-2015) e pelo empresário Sandro Polloni (1921-1995) - com a participação da veterana Itália Fausta (1859-1951) - o Teatro Popular de Arte (TPA) desenha sua trajetória de 26 anos com espetáculos bem-acabados, que em vários momentos apontam para a concepção moderna de teatro.
O espetáculo de estréia, Anjo Negro, de Nelson Rodrigues (1912-1980), em 1948, anuncia uma companhia que prioriza a linguagem cênica e os espetáculos inquietantes em detrimento do teatro de estrelas que caracteriza seu tempo. Em grandiosa encenação de Ziembinski (1908-1978), o texto de Nelson Rodrigues provoca polêmicas e exacerbada rejeição. No mesmo ano, em seu segundo espetáculo, Estrada do Tabaco, a companhia procura - e consegue - o sucesso de público por meio de um texto naturalista que coloca em cena as relações familiares no contexto da miséria; é a primeira encenação de Ruggero Jacobbi (1920-1981) para o conjunto. Em ambos os espetáculos, a atriz Itália Fausta merece elogios pela firmeza de suas composições.
Ainda em 1948, o TPA, monta Woyzeck, de Georg Büchner (1813-1837), mudando o título para Lua de Sangue. Para concretizar no palco a ousadia do texto (considerado por muitos precursor do expressionismo), Ziembinski se lança a uma série de experiências cênicas para a criação do espetáculo. A impossibilidade de dar continuidade, no Rio de Janeiro, às propostas artísticas defendidas pela equipe faz a companhia abandonar a cidade e sair em excursão. A partir de 1949, seus espetáculos passam a estrear em São Paulo. Em 1950, a companhia inaugura o Teatro de Cultura Artística, com a estreia de O Fundo do Poço, de Helena Silveira (1912-1984), texto-reportagem baseado em um fato verídico, com direção de Graça Mello (1914-1979).
O primeiro grande êxito vem com O Canto da Cotovia, de Jean Anouilh (1910-1987), em 1954, quando a companhia inaugura, em São Paulo, o Teatro Maria Della Costa, que passa a sediar suas atividades. Depois da estreia, o crítico Décio de Almeida Prado (1917-2000) faz uma análise do papel da nova empresa no panorama da cidade, dominado até então pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), dizendo que "Sandro Polloni é o primeiro empresário a aceitar o desafio do TBC" e que o Teatro Maria Della Costa "não fica nada a dever a nenhum outro, como edifício e como organização artística"; elogia tanto o palco, a visibilidade e a acústica da sala de 420 lugares, quanto a produção rica e cuidadosa, que lança mão de cenários e roupas históricas em profusão e de quase duas dezenas de atores, o que considera um milagre para uma empresa particular sem subvenção. E a respeito do espetáculo, aponta "uma unidade perfeita, englobando tudo, desde a disposição da cena até os movimentos dos atores", e considera que "cada personagem define-se pela roupa, pela maneira de gesticular e pelo lugar que ocupa no palco, formando, em conjunto, um desenho único".1 Na concepção cenográfica de Gianni Ratto (1916-2005), também diretor do espetáculo, várias plataformas se ligam por escadas, dando à peça mobilidade plástica e cênica.
Em 1955, o Teatro Maria Della Costa (TMDC), nome que substitui o TPA após o estabelecimento da sede própria, lança A Moratória, de Jorge Andrade (1922-1984), que, embora sem Maria Della Costa no elenco, dá a Sérgio Brito (1923-2011) e Fernanda Montenegro (1929) ocasião para desempenhos notáveis, sob a direção de Gianni Ratto.
Em 1958, o TMDC realiza um outro marco do teatro brasileiro, ao encenar profissionalmente, pela primeira vez no Brasil, o autor Bertolt Brecht (1898-1956) em A Alma Boa de Set-Suan. Embora recebendo críticas a algumas de suas opções - como a de recitar as músicas ao invés de cantá-las - a direção de Flaminio Bollini (1924-1978) revela ao público um novo teatro. Maria Della Costa é vivamente aplaudida pela interpretação da dupla Chen-Tê e Chuí-Tá. O espetáculo, a direção e a cenografia de Tulio Costa são premiados duas vezes - com o Saci e com o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Eugênio Kusnet (1898-1975) e Sadi Cabral (1906-1986) são laureados como coadjuvantes. Oswaldo Louzada (1912-2008) é notado pela poesia e pela nobre humildade que imprime ao aguadeiro.
Acompanhando as novas tendências do teatro brasileiro a partir de Eles Não Usam Black-Tie, encenado pelo Teatro de Arena, em 1958, o TMDC lança no ano seguinte, Gimba, o segundo texto de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), montagem que projeta o jovem Flávio Rangel (1934-1988) para o primeiro time de encenadores do período.
Outra montagem histórica vem com Depois da Queda, 1964, de Arthur Miller (1915-2005). Flávio Rangel concebe um desenho de movimentação dos atores em diversos patamares geométricos, estabelecidos pela cenografia moderna e arrojada de Flávio Império (1935-1985) e com 360 movimentos de luz que decupam a ação. O espetáculo surpreende pela força da concepção visual e da plasticidade, que esclarecem as idéias da peça e lhe confere dinamismo dramático.
Em 1968, o TMDC acompanha as renovações da nova geração de dramaturgos, produzindo Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã, de Antônio Bivar (1939), com direção de Fauzi Arap (1938-2013).
A pesquisadora Tania Brandão (1952) considera que o TPA é a primeira companhia teatral moderna estável do Brasil, uma vez que estréia antes do início da carreira profissional do TBC. Segundo ela, a companhia é o conjunto que "galvanizou a fórmula, o modelo básico para a profissionalização do teatro brasileiro moderno, através do recurso ao diretor estrangeiro, à alternância de peças 'de bilheteria' e 'culturais' - este mesmo procedimento que tem sido atribuído ao TBC sob o nome de oscilação pendular de repertório".2
Notas
1. PRADO, Décio de Almeida. O Canto da Cotovia. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 7 nov. 1954.
2. SILVA, Tania Brandão da. Peripécias modernas: companhia Maria Della Costa. 1998. 204 p. Tese (Doutorado em História da Arte)-Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
Espetáculos 60
Fontes de pesquisa 3
- PRADO, Décio de Almeida. O Canto da Cotovia. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 7 nov. 1954.
- PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno: 1930-1988. São Paulo: Perspectiva, 1988. (Debates, 211).
- SILVA, Tânia Brandão da. Peripécias modernas: companhia Maria Della Costa. 1998. 204 p. Tese (Doutorado em História da Arte) - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
TEATRO Maria Della Costa (TMDC).
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo110307/teatro-maria-della-costa-tmdc. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7