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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

É Proibido Beijar

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.05.2024
1954
É Proibido Beijar é o segundo e último longa-metragem dirigido pelo fotógrafo italiano radicado no Brasil, Ugo Lombardi (1911-2002), e a penúltima produção da primeira fase da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Trata-se de uma comédia romântica que tenta introduzir atores dramáticos [Tônia Carrero (1922) e Mário Sérgio (1929-1981)] no humor. O...

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É Proibido Beijar é o segundo e último longa-metragem dirigido pelo fotógrafo italiano radicado no Brasil, Ugo Lombardi (1911-2002), e a penúltima produção da primeira fase da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Trata-se de uma comédia romântica que tenta introduzir atores dramáticos [Tônia Carrero (1922) e Mário Sérgio (1929-1981)] no humor. O filme é realizado após o sucesso comercial de Sinhá Moça (1953) e O Cangaceiro (1953) no Brasil e no exterior, e tem como objetivo alavancar a situação econômica da companhia. A película acaba, entretanto, interrompida durante a finalização por conta da crise financeira que acomete a empresa em 1953. O baixo orçamento e a contratação de um mesmo profissional para as funções de direção e direção de fotografia não evitam o atraso de mais de um ano para o lançamento do filme no circuito.

No longa, o jornalista Eduardo (Mário Sérgio) é incumbido de recepcionar e entrevistar no aeroporto a famosa atriz estadunidense June Lindsay. Como não a conhece, Eduardo, acredita na jovem chamada June (Tônia Carrero), que pede ao jornalista para sair com ela sorrateiramente do local. Depois de entregar a entrevista com essa June ao jornal, descobre que ela não é a famosa atriz e é demitido. Enquanto tenta desvendar quem é a mulher entrevistada, a falsa atriz continua a criar histórias sobre sua identidade. Outros personagens interferem no desenrolar da trama: a noiva de Eduardo, Suzy [Inezita Barroso (1925-2015)], dois norte-americanos que seguem June desde o aeroporto - Steve [o polonês Ziembinski (1908-1978)] e Harry [o italiano Otello Zeloni (1921-1973)] --, entre outros. A situação é explicada por Harry: ele e Steve apostam se June, filha de Steve, consegue viver  por cinco dias às custas do primeiro homem que encontrar em um país estrangeiro, mesmo sem lhe dar um beijo. Steve vence. No processo, June apaixona-se por Eduardo e, após uma gincana, beijam-se, enfim.

O humor em É Proibido Beijar é construído a partir de um roteiro engenhoso, escrito pelo italiano Fábio Carpi (1925) e por Maurício Vasques, com base em argumento do italiano Alessandro De Stefani (1891-1970). Os espectadores, espelhados no personagem Eduardo, descobrem aos poucos as razões do desenlace da narrativa. No filme, todas as situações remetem à identidade misteriosa de June. A manutenção de um segredo pela protagonista é um dos motes da comédia maluca, ou screwball comedy1, subgênero da comédia. É Proibido Beijar segue os códigos narrativos dessa vertente, ao conceber seu humor em situações farsescas e absurdas, de tema escapista, envolvendo romance e corte, e de uma sutil batalha de sexos, com domínio da personagem feminina, que mantém o segredo.

Tais características podem ser vistas na cena após Eduardo descobrir sobre a aposta. Ele resolve entrar no jogo e fala com June. Convencida de que o amor vale mais que o dinheiro, ela lhe pede um beijo, prontamente negado pelo jornalista. Sentam-se à beira da piscina, e ele cobre os olhos. June fica indignada por ele não a beijar e abandona-o, enquanto Eduardo fala. Quando começa a explicar que já sabe de tudo, Suzy já está no lugar de June na cadeira. Ou seja, assim que o principal segredo é revelado, a impossibilidade da efetivação do casal é mantida por outros desencontros e mal-entendidos, que sustentam a trama até o fim. As situações do filme apontam uma falência da comunicação entre casais, mas também um possível triunfo da imprevisibilidade diante do estável.

A influência da comédia maluca no roteiro não é comentada à época, mas é notável. Tal modelo é pouco usual na comédia cinematográfica brasileira, em especial desse período, dominado pelas comédias de costumes, as chamadas chanchadas, e pelo humor circense de cômicos como Amácio Mazzaropi (1912-1981). É Proibido Beijar é um dos poucos exemplares do subgênero no país.

O resultado nas bilheterias não é divulgado. Tido como “pouco brasileiro”2 pelo crítico de cinema Alex Viany (1918-1992), o longa recebe comentários acerca do roteiro. No periódico A Cena Muda, em texto não assinado, aponta-se qualidade no longa, ainda que a avaliação considere o filme irregular: “A história de De Stefanni é interessante e o diálogo é bom. Deve-se registrar que esse diálogo é abundante e o público se vê preso no mesmo. Contudo há movimentação capaz de prender a atenção”3. Hugo Barcelos, no Diário de Noticias, enxerga problemas de roteiro e de atuação: “‘É proibido beijar’ revela que a Vera Cruz não progrediu, que o seu material humano decididamente não está à altura da sua maquinaria. [...] o enredo dessa fita não tem espontaneidade nem frescor. Muito ao contrário, resulta do aproveitamento sem critério de uns tantos chavões americanos, com o frustrado propósito de fabricar uma comédia”4.

Diante da falência do modelo industrial da Vera Cruz, a avaliação negativa dos empreendimentos cinematográficos da empresa intensifica-se, longe do tom esperançoso em relação aos primeiros longas.

Notas

1 A comédia maluca obtém sucesso e predomina entre as comédias hollywoodianas dos anos 1930, durante a Grande Depressão, e a consolidação do cinema falado.

2 VIANY, Alex. Introdução ao cinema brasileiro. Rio de Janeiro: MEC; Instituto Nacional do Livro, 1959, p. 108.

3 A CENA Muda. Cartazes em revista. A Cena Muda, Rio de Janeiro, v. 34, n. 25, p. 28, 23 jul. 1954. 

4 BARCELOS, Hugo. É Proibido Beijar. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 13 ago. 1954, p. 8.

Fontes de pesquisa 15

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  • A CENA Muda. Cartazes em revista. A Cena Muda, Rio de Janeiro, v. 34, n. 25, 23 jul. 1954. p. 28
  • BARCELOS, Hugo. É Proibido Beijar. Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 13 ago. 1954. p. 8
  • BARRO, Máximo. Caminhos e descaminhos do cinema paulista: a década 50. São Paulo: edição do autor, 1997.
  • CARNEIRO, Gabriel. É Proibido Beijar. Revista Zingu!, São Paulo, n. 39, maio 2010.
  • DIÁRIO Carioca. Tudo poderia ser proibido, menos beijar… Diário Carioca, Rio de Janeiro, 7 ago. 1954. p. 8
  • EBERT, Carlos; ESCOREL, Lauro. Encontro com Ugo Lombardi. Associação Brasileira de Cinematografia (Abcine), São Paulo, 6 jul 2002. Disponível em: < http://abcine.org.br/site/encontro-com-ugo-lombardi/ >. Acesso em 5 jul. 2017.
  • GALVÃO, Maria Rita. Burguesia e cinema: o caso Vera Cruz. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira: Embrafilme, 1981.
  • GALVÃO, Maria Rita. Companhia Cinematográfica Vera Cruz: a fábrica de sonhos: um estudo sobre a produção cinematográfica industrial paulista. Tese (doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de Sâo Paulo, São Paulo, 1975. p. 771.
  • HEIN, Valeria Angeli. O momento Vera Cruz. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, 2003.
  • MARTINELLI, Sérgio (Org.). Vera Cruz: imagens e história do cinema brasileiro. São Paulo: Abooks, 2002.
  • PROJETO Memória Vera Cruz. São Paulo, MIS e SCES, 1987.
  • RAMOS, Fernão Pessoa (org). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1987.
  • REVISTA Zingu! Dossiê Vera Cruz. Revista Zingu!, São Paulo, n. 39, maio 2010.
  • ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
  • VIANY, Alex. Introdução ao cinema brasileiro. Rio de Janeiro: MEC: Instituto Nacional do Livro, 1959.

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