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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Inezita Barroso

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.08.2024
04.03.1925 Brasil / São Paulo / São Paulo
08.03.2015 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica CEDOC TV Cultura

Recital de Inezita Barroso no programa Música Brasileira, da TV Cultura, 1969

Ignez Magdalena Aranha de Lima (São Paulo, São Paulo, 1925 – Idem, 2015). Cantora, atriz, pesquisadora, apresentadora. Destaca-se como uma das grandes divulgadoras da cultura popular brasileira.

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Ignez Magdalena Aranha de Lima (São Paulo, São Paulo, 1925 – Idem, 2015). Cantora, atriz, pesquisadora, apresentadora. Destaca-se como uma das grandes divulgadoras da cultura popular brasileira.

Aprende a tocar violão aos sete anos, tomando contato, desde cedo, com aqueles que se tornam referência para sua obra. Quando criança, conhece o escritor e musicólogo Mário de Andrade (1893-1945), vizinho de sua tia no bairro da Barra Funda, de quem só mais tarde descobre a obra, que aponta caminhos para sua pesquisa musical. No entanto, sua maior influência são os muitos violeiros anônimos com quem aprende a tocar e apreciar a música caipira em sua infância, em passeios pelas fazendas de seus parentes no interior de São Paulo. Além disso, a capital paulista do início do século XX, onde a cantora cresce, é um cenário no qual se encontram simultaneamente a permanência de elementos do universo rural e a incipiente construção da cultura urbana. 

Gradua-se em biblioteconomia pela Universidade de São Paulo (USP) em 1947.  É leitora das obras sobre folclore escritas por Mário de Andrade e canta as músicas recolhidas por ele na Rádio Clube de Recife. Em 1950, ingressa na Rádio Bandeirante e, no ano seguinte, na Record, em São Paulo. Realiza recitais no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), no Cultura Artística e no Colombo. Grava, em 1953, a "Moda da pinga (Marvada pinga)", de Ochelsis Laureano (1909-1996) e Raul Torres (1906-1970), e os sambas "Ronda", de Paulo Vanzolini (1924-2013), e "Estatutos da gafieira", de Billy Blanco (1924-2011), em 1954. Em 1955, grava “Viola quebrada”, uma modinha do século XIX harmonizada por Mário de Andrade. Ainda em 1955, no disco Danças gaúchas, contribui para a fixação de elementos da música tradicional local em temas recolhidos e adaptados pelos pesquisadores Barbosa Lessa (1929-2002) e Paixão Cortes (1927-2018), como "Pezinho", "Quero mana" e "Chimarrita balão". Caracterizadas pela temática geralmente nostálgica e melancólica, acompanhadas de viola ou sanfona, com versos simples e cantados em terça, as modas aparecem em maior volume em sua obra. Respeitando as características do gênero, cuja forma de cantar se aproxima da oralidade habitual do caipira, suas interpretações refletem o esforço em recuperar a cor local da fala nas canções. Na "Moda da pinga", a cantora reproduz esse dialeto em versos como “côa marvada pinga que eu me atrapaio”. Consolidada como a “língua geral paulista” no século XVII, por meio do bandeirismo, essa dicção provém da fonética ameríndia ao falar o português, que articula de maneira peculiar certos sons, como “lh” e “r”.

Como atriz, trabalha em filmes como Ângela (1951), do diretor argentino Tom Payne (1914-1996) e do brasileiro Abílio Pereira de Almeida (1906-1977), O craque (1953), de José Carlos Burle (1910-1983), e Destino em apuros (1953), de Ernesto Remani (1906-1966). Recebe o Prêmio Saci de melhor atriz por sua atuação em Mulher de verdade (1955), de Alberto Cavalcanti (1897-1982), e o troféu Roquette-Pinto de melhor cantora de música popular brasileira de 1954. Publica o livro Roteiro de um violão (1956). Grava “Berceuse da onda” (1956), com poesia de Cecília Meireles (1901-1964) e melodia de Lorenzo Fernandez (1897-1948), e "Azulão" (1958) e "Modinha" (1959), de Manuel Bandeira (1886-1968) e Jayme Ovalle (1894-1955)

Até o final dos anos 1960, lança alguns de seus maiores sucessos, como o coco "Engenho novo", adaptado por Hekel Tavares (1896-1969), a valsa "Lampião de gás", de Zica Bérgami (1913-2011), as toadas "Luar do sertão", de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946) e João Pernambuco (1883-1947), e "Maringá", de Joubert de Carvalho (1900-1977). Em 1962, grava o LP Clássicos da música caipira, com o segundo volume lançado em 1972.

Nos anos 1970, dedica-se a viagens de pesquisa, recitais pelo interior e gravação de programas exibidos em Israel, na antiga União Soviética, na América Latina e nos Estados Unidos. Representa o Brasil com um documentário folclórico na Expo-70, no Japão. Em 1975, grava o LP Inezita em todos os cantos, no qual inclui pontos de candomblé, sambas anônimos recolhidos no Rio de Janeiro e em Niterói e canções folclóricas da Bahia, do Mato Grosso, de Pernambuco e de Minas Gerais. Em 1978 e 1980, grava os dois volumes da coletânea Jóia da música sertaneja. Em 1980, passa a apresentar o programa Viola, Minha Viola, com Moraes Sarmento (1922-1998), na TV Cultura. Em 1985, grava o LP Inezita Barroso: a incomparável, com músicas escolhidas pelos fãs.

Viaja pelo Brasil com o Projeto Pixinguinha, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), ao lado de Oswaldinho do Acordeon (1954). De 1988 a 1993, apresenta o programa Mutirão, na Rádio USP. Leciona folclore na Universidade de Mogi das Cruzes e no curso de turismo da Faculdade Capital. Em 1990, apresenta o programa Estrela da Manhã, na Rádio Cultura AM, que fica no ar por nove anos. Em 1993, grava o CD Alma brasileira. Com o violeiro Roberto Corrêa (1957) grava os CDs Voz e viola (1996) e Caipira de fato (1997). Recebe, em 1997, o Prêmio Sharp de melhor cantora regional. Participa do CD Feito na roça (1998), de Bráz da Viola e Sua Orquestra de Viola Caipira, e de discos de Renato Teixeira (1945) e Jair Rodrigues (1939-2014).

A cantora se considera defensora da música caipira tradicional, privilegiando o gênero mesmo quando as gravadoras o julgam fora de moda. Rejeita a música sertaneja estilizada, aos moldes do country norte-americano, com instrumentos alheios ao gênero.

A atuação de Inezita Barroso contribui para a vitalidade da música caipira em meio às transformações da indústria fonográfica ao introduzir novos compositores na cena musical e celebrar a memória dos antigos.

Obras 89

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Espetáculos 1

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 7

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  • A MÚSICA brasileira deste século pelos seus autores e intérpretes. Inezita Barroso. V. 4, CD 07. 1 CD de música. São Paulo: Sesc: Fundação Padre Anchieta, 2001.
  • AGUIAR, Ronaldo Conde. As divas do rádio nacional: as vozes eternas da Era de Ouro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2010. 247 p.
  • COLEÇÃO revista da música popular. Edição completa em fac-símile, set. 1954-set. 1956. Rio de Janeiro: Funarte: Bem-Te-Vi Produções Literárias, 2006.
  • MORAES, José Geraldo Vinci de. As sonoridades paulistanas: a música popular na cidade de São Paulo – final do século XIX ao início do século XX. Rio de Janeiro: Funarte, 1995. 208 p.
  • NEPOMUCENO, Rosa. Inezita Barroso: a diva da tradição. Música caipira. Da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999. p. 323-335.
  • SANT’ANNA, Romildo. Moda caipira: dicções do cantador. Revista USP, São Paulo, n. 87, Dossiê Música Brasileira, p. 40-55, set.-nov. 2010.
  • VIEIRA, César. Em busca de um teatro popular. 4.ed. atual. São Paulo: Funarte, 2007.

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