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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Zica Bérgami

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.08.2024
10.08.1913 Brasil / São Paulo / Ibitinga
16.04.2011 Brasil / São Paulo / São Paulo
Maria Elisa Campiotti (Ibitinga, São Paulo, 1913 – São Paulo, São Paulo, 2011). Compositora, desenhista. Autora de cancioneiro caracterizado pela nostalgia, seu trabalho em artes plásticas se concentra no desenho figurativo a nanquim.

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Maria Elisa Campiotti (Ibitinga, São Paulo, 1913 – São Paulo, São Paulo, 2011). Compositora, desenhista. Autora de cancioneiro caracterizado pela nostalgia, seu trabalho em artes plásticas se concentra no desenho figurativo a nanquim.

Descendente de imigrantes italianos, trabalhadores rurais, Zica Bergami nasce em Ibitinga, interior do estado de São Paulo, no dia 10 de agosto de 1913. Com 8 meses de idade, sua família se muda para a capital paulista, no bairro de Barra Funda e, posteriormente, de Bom Retiro. Inicia os estudos de música em 1938, incentivada pelo marido, que a presenteia com um piano. Em 1945, as artes plásticas entram na vida da compositora como atividade despretensiosa. 

Na década de 1950, algumas composições da artista alcançam reconhecimento, como "Lampião de Gás", composta em 1957 em parceria com o músico Hervê Cordovil (1914-1979). Apoiada pelo poeta Guilherme de Almeida (1890-1969), procura a cantora Inezita Barroso (1925-2015), que lança a canção pela gravadora Copacabana, em 1958, tornando-a um sucesso nacional. Com essa canção, a compositora ganha o Troféu Zequinha de Abreu, em 1959. A valsinha fala de uma São Paulo bucólica, anterior à modernização que transforma a cidade em metrópole. A música se torna um marco do cancioneiro caipira, embora descreva cenas e personagens urbanos, como a modernização do sistema de iluminação da cidade: "Minha São Paulo / calma e serena / Que era pequena, mas grande demais / Agora cresceu, mas tudo morreu / Lampião de gás que saudades me traz". Regravada por inúmeros artistas, "Lampião de Gás" é uma das 32 canções que compõem a produção musical da compositora, reunida no livro À luz do lampião (1998), que, além de valsas, inclui também tangos, marchinhas e boleros.

A temática dessa produção é melancólica, saudosista, nostálgica e incluem citações a lugares ligados à infância da compositora. Brincadeiras de criança, doces e guloseimas, paixões infantis e personagens do passado, como o imigrante italiano vendedor de batata doce, compõem as imagens evocadas nas composições de Zica. É o caso da canção "O batateiro", na qual rememora o sotaque do vendedor ambulante. 

Quanto às artes plásticas, Zica Bergami não frequenta escolas de arte e desenvolve sua linguagem de modo autodidata. Incentivada pela artista e crítica de arte Ernestina Karman (1915-2004), começa a trabalhar com nanquim. A partir de então, o desenho com bico de pena em preto sobre papel branco se torna característico na produção da artista, embora haja raros trabalhos coloridos. Como acontece na produção musical, os desenhos da artista retratam cenas de infância, tanto no ambiente rural quanto na cidade, com uma visão lírica e inocente. Por meio de traços simples, perspectiva frontal e planos abertos, a desenhista nos apresenta folguedos juninos, o coro carnavalesco pelas ruas da cidade, festas infantis animadas por palhaços, bailes e cenas rurais. 

As composições, ricas em detalhes, procuram representar a coletividade em uma única cena, como no caso de Folguedos (1980), bico de pena sobre papel. Com duas grandes árvores, cada uma delas próxima a uma das margens laterais do papel, a artista emoldura a cena de crianças brincando no gramado em pequenos grupos, algumas pulando carniça, outras no balanço, outras ainda dançando ciranda ou subindo no pau de sebo. Embora os desenhos sejam frequentemente chapados, sem ilusão de volume, eventualmente a profundidade é dada pelo uso de linhas diagonais, como no caso de Baile (1982). Nesse trabalho, as diagonais que representam o chão de tábuas corridas dão uma dimensão grandiosa ao salão, no qual uma série de casais valsam em trajes antigos. O mesmo recurso das diagonais representando o chão de tábuas aparece em Festa com palhaço (1980), desenho no qual a proporção entre móveis da sala e pessoas faz com que essas pareçam minúsculas.

Os desenhos de Zica Bergami, frequentemente identificados como ingênuos ou primitivos, participam de mostras coletivas internacionais, como a I Mostra Contemporânea Brasileira – Expofair, em Lisboa, em 1985, e a First Art Exposition Brazil-Holland, em Amsterdã, em 1987. Em 1984, recebe a Grande Medalha de Prata do Centre International D'Art Contemporain, em Paris. 

A artista também tem suas canções reunidas nos discos Zezé Freitas interpreta Zica Bergami, gravado em 1999, para o qual elabora uma série de desenhos, e Zica Bergami – Salada de danças, de 2000. Em 1989 lança o livro de memórias Onde estão os pirilampos? A artista falece em 16 de abril de 2011, na capital paulista.

Tanto na música quanto no desenho, Zica Bergami desenvolve um trabalho que evoca imagens do início do século XX, no interior paulistano e na capital, com um olhar cândido para as cenas do cotidiano rural e urbano daquele período, evocando  com grande saudosismo cenas de coletividade, como parques e praças, circos e festas.

Obras 22

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Baile

Bico de pena sobre papel

Bairro

Bico de pena sobre papel

Exposições 46

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Fontes de pesquisa 10

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  • BERGAMI, Zica. À luz do lampião. São Paulo: Scortecci Editora, 1998.
  • D'AMBRÓSIO, Oscar Alejandro Fabian. Um mergulho no Brasil Naif: A Bienal Naifs do Brasil do SESC Piracicaba 1992 a 2010. 202f. Tese (Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2013.
  • DRÄNGER, Carlos (coord.). Pop Brasil: arte popular e o popular na arte. Curadoria Paulo Klein; tradução João Moris, Beatriz Karan Guimarães, Maurício Nogueira Silva. São Paulo: CCBB, 2002.
  • GALERIA Estação. Biografia de Zica Bérgami. Disponível em: http://www.galeriaestacao.com.br/pt-br/artista/23/zica-bergami. Acesso em: 18 jan. 2021.
  • LEITE, Edmundo; RODRIGUES, Bia. Morre Zica Bergami, autora de 'Lampião de Gás'. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 19 abr. 2011. Disponível em: https://www.estadao.com.br/cultura/musica/morre-zica-bergami-autora-de-lampiao-de-gas/. Acesso em: 24 jul. 2023.
  • MACHADO, Cassiano Elek. Artista povoa SP com pirilampos. Folha de S.Paulo, São Paulo, 8 maio 1997. Acesso em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/5/08/ilustrada/17.html. Acesso em: 14 ago. 2023
  • MULHERES na arte popular. Versão do texto para o inglês Maria Fernanda Mazzuco. São Paulo: Galeria Estação, 2020. Disponível em: http://www.galeriaestacao.com.br/documents/catalog_108_fc3e6-catexpmulpop2020.pdf. Acesso em: 29 out. 2021.
  • Morre a autora de Lampião de Gás. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 abr. 2011. Caderno2, p.D4.
  • PITTA, Fernanda. “Isso ninguém nunca me ensinou”1: 8 mulheres artistas populares. In: Mulheres na arte popular. São Paulo: Galeria Estação, 2020. pp. 5-15.
  • POP BRASIL: a arte popular e o popular na arte. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), 2002. 130 p. Exposição realizada no período de 06 jul. a 12 ago. 2002.

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