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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Guilherme de Almeida

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.10.2024
24.07.1890 Brasil / São Paulo / Campinas
11.07.1969 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

Guilherme de Almeida, s.d.

Guilherme de Andrade e Almeida (Campinas, São Paulo, 1890 – São Paulo, São Paulo, 1969). Poeta, tradutor, dramaturgo e ensaísta. Conhecido principalmente por sua poesia e seu papel ativo na fundação do modernismo no Brasil, Guilherme de Almeida tem intensa atividade intelectual também em outras esferas, sendo um dos maiores nomes da literatura b...

Texto

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Guilherme de Andrade e Almeida (Campinas, São Paulo, 1890 – São Paulo, São Paulo, 1969). Poeta, tradutor, dramaturgo e ensaísta. Conhecido principalmente por sua poesia e seu papel ativo na fundação do modernismo no Brasil, Guilherme de Almeida tem intensa atividade intelectual também em outras esferas, sendo um dos maiores nomes da literatura brasileira. 

Forma-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, em 1912. Inicia sua carreira literária em 1916 com a publicação das peças teatrais em francês Mon coeur balance e Leur âme, ambas escritas em parceria com Oswald de Andrade (1890-1954). Lança-se na poesia no ano seguinte, com a publicação de Nós. Seguem-se a essa publicação outros títulos, como A dança das horas (1919) e Era uma vez... (1922), que o tornam poeta de grande sucesso.

Essa fase se caracteriza pela grande influência do parnasianismo e do simbolismo, correntes literárias predominantes no Brasil durante o final do século XIX e começo do século XX. Nela, a lírica do autor é marcada pela temática crepuscular, cara ao simbolismo, e pelas rígidas formas fixas — sobretudo o soneto — priorizadas pelo parnasianismo.

Em 1922 participa da Semana de Arte Moderna e passa a divulgar os princípios do movimento. Funda, com Oswald de Andrade, Mário de Andrade (1893-1945), Sérgio Milliet (1898-1966) e outros artistas da época, a Revista Klaxon, principal meio de divulgação do modernismo. A partir desse engajamento, sua poesia assume dicção modernista, embora conjugada a certo tom simbolista e à fixidez formal parnasiana presente em publicações anteriores. 

Em Meu (1925), sua primeira obra de fato modernista, o poeta alterna o verso livre — uma das grandes conquistas do movimento — com o verso tradicional. Em poemas como "Humorismo", por exemplo, o tom modernista faz-se presente na temática — “um Sol atrapalhado e preguiçoso que, nas alturas, tropeça e cai na Terra entre sapos e grilos” — e também na forma mais despojada, composta de versos livres. O poeta, no entanto, jamais prescinde das rimas, como se pode perceber em outro momento do mesmo poema: "uma nuvenzinha alva como um lenço / para enxugar as primeiras estrelas / silêncio". Nesse sentido, vale lembrar que o virtuosismo técnico do poeta é uma das características mais marcantes de sua obra, como ressaltam os críticos Sérgio Milliet e Alfredo Bosi (1936-2021).

No mesmo ano, publica também os livros de poemas Raça e Encantamento. Essa intensa produção com características marcantes do modernismo concentrada no ano de 1925 leva Alfredo Bosi a nomear esse período como “ano modernista”1.  Nessa fase, conjuga temas e recursos poéticos de movimentos estéticos contraditórios: simbolismo, parnasianismo e modernismo figuram, muitas vezes, em um mesmo poema, evidenciando o quanto o autor não efetua, como alguns de seus colegas de geração, um efetivo rompimento com o passadismo.

Em Encantamento (1925), por exemplo, o poema "Branca de Neve" apresenta imagens simbolistas ("Amei-te ...e amei-te, figurinha aluada, / porque nunca exististe e porque sei / que o sonho é tudo – e tudo o mais é nada"); o poema "Cinema" conjuga o tema moderno com imagens passadistas ("Na grande sala escura / só teus olhos existem para os meus / olhos cor de romance e de aventura, / longos como um adeus"). Já o poema "Cubismo", embora aluda, pelo título, à moderna vanguarda europeia, é composto por um rígido sistema de rimas e métricas. No entanto, a imagem central do poema é a do arlequim, figura modernista por excelência.

A partir de 1929, com Simplicidade, Almeida encerra definitivamente sua fase modernista; o tom e a linguagem decadentistas, além do domínio da métrica portuguesa, voltam a predominar em sua obra. Nesse período, o poeta entra em contato com a forma oriental do haikai — poema composto apenas de três versos que aborda, comumente, questões como a espiritualidade, a natureza e a fugacidade do tempo —  e se torna o primeiro poeta brasileiro a elaborar poemas desse tipo.

Almeida demonstra notável habilidade poética na escrita de seus haikais, imprimindo-lhes forma bastante original. Um exemplo dessa originalidade são as rimas, uma vez que raramente elas figuram nessa forma poética. Nesses condensados poemas, os primeiros versos rimam com os terceiros, e nos segundos há uma rima interna, na segunda e sétima sílabas: "Na cidade, a lua: / a jóia branca que boia / na lama da rua". Com os haikais, o poeta trabalha de forma original e interessante temas que sempre estiveram presentes em sua obra, como a espiritualidade, o tempo e a transcendência. Essa produção constitui o ponto alto de sua poesia.

Tamanha notabilidade rende a ele uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), que assume em 1930, sendo o primeiro modernista a ser eleito pela instituição. Em 1932, participa ativamente da Revolução Constitucionalista de São Paulo, alistando-se voluntariamente como soldado. Devido à atuação política, é preso e exilado. Vive em Portugal até 1933, ano em que publica o volume em prosa Meu Portugal, um conjunto de crônicas elaboradas durante o exílio. Em 1959 é eleito, pelo jornal Correio da Manhã, o "Príncipe dos poetas brasileiros”. 

A inquestionável contribuição de Guilherme de Almeida para a literatura faz dele um dos mais brilhantes poetas brasileiros. Seu rigor estético aliado à habilidade de conciliar princípios artísticos contrastantes produz uma obra original, que condensa a eterna contradição do nacionalismo brasileiro: o velho e o novo.
 
Nota

1. A expressão é de Alfredo Bosi em História concisa da literatura brasileira.

Obras 8

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Espetáculos 7

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Exposições 3

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Fontes de pesquisa 3

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  • BOSI, Alfredo. Guilherme de Almeida. In: ______. História concisa da literatura brasileira. 32. ed. rev. e aum. São Paulo: Cultrix, 1994. 528 p.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
  • MILLIET, Sérgio. Poesia vária. In: ALMEIDA, Guilherme. Poesia vária. São Paulo: Cultrix, s.d.

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