Hervé Cordovil
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Biografia
Hervé Cordovil (Viçosa MG 1914 - Rio de Janeiro RJ 1979). Compositor, pianista e regente. Recebe as primeiras lições de música de sua mãe, musicista amadora. Muda-se para o Rio de Janeiro, toca na banda do Colégio Militar, tendo como professor Romeu Malta, e forma um conjunto de jazz. Nesse período se aperfeiçoa no piano e depois conclui o curso de direito.
Começa a carreira como pianista e compositor na Rádio Sociedade, em 1931, e na orquestra de Romeu Silva. Compõe a marcha Carolina, com Bonfiglio de Oliveira, sucesso no Carnaval de 1934 na voz de Carlos Galhardo; o samba No Morro de São Carlos, com Orestes Barbosa (1933), gravado por Moreira da Silva; a marcha Inconstitucionalissimamente (1933), gravada por Carmen Miranda; o samba-canção Um Caboclinho, com Luiz Peixoto, gravado por Francisco Alves, em 1936; o samba Triste Cuíca (1935), gravado por Aracy de Almeida, e as marchas Não Resta a Menor Dúvida (1936) e O que É que Você Fazia (1936), parceria com Noel Rosa e gravadas por Carmen Miranda; as marchas Menina Oxigenée (1934), gravada por Almirante; Alô, Alô Carnaval (1936) e Seu Abóbora (1935), também gravadas por Carmen Miranda; e os jingles Madame du Barril (1934) e Esquina da Sorte (1938), com Lamartine Babo. É maestro da orquestra que produz a trilha sonora do filme Estudantes (1935), de Wallace Downey, e compõe trilhas para teatro, entre as quais Da Favela ao Catete (1935), de Freire Júnior.
Muda-se para Belo Horizonte no início dos anos 1940, e trabalha na Rádio Guarani. Em 1945, é contratado pela Rádio Record de São Paulo, em que permanece por 26 anos, até se aposentar, tornando-se um dos mais respeitados maestros e arranjadores da emissora. Também se destaca como compositor de baião. São de sua autoria Esta Noite Serenou (1951) e, em parceria com Luiz Gonzaga, Baião na Garoa (1952). Compõe Xaxado, as toadas A Vida do Viajante (1953) e Moreninha, Moreninha (1951) e a polca Tô Sobrando (1951). Muitos sucessos do compositor são gravados pela cantora Carmélia Alves, como Sabiá na Gaiola (1950), parceria com Mário Vieira, Pé de Manacá (toada, parceria com Marisa Coelho, gravada em 1950 por Isaura Garcia), Cabeça Inchada (1951), que recebe regravações no exterior, e a toada Me Leva (1949), parceria com Rochinha.
Compõe o samba-canção Uma Loira (1951), gravado por Dick Farney, e o samba Prova de Carinho (1960), com Adoniran Barbosa, com quem também faz Aguenta a Mão, João, gravada em 1971 pelo Demônios da Garoa. Em 1964, compõe o twist Rua Augusta, para o repertório do filho Ronnie Cord, considerado pelos compositores Erasmo Carlos e Tony Campelo o "primeiro hino do rock brasileiro" (Severiano: 1998, p. 78). Também faz a versão de sucesso Biquíni de Bolinha Amarelinha tão Pequenininho (1996), para Cord. A música é regravada pela banda Blitz, em 1983. Participa do show em comemoração dos 30 anos do baião, em 1977, no Theatro Municipal de São Paulo, com Luiz Gonzaga, Carmélia Alves e Humberto Teixeira.
Comentário Crítico
Hervé Cordovil é autor de uma obra bastante rica e diversificada. Compositor versátil, adapta-se com facilidade ao ambiente dinâmico das rádios, chegando a compor de três a quatro músicas por semana, abrangendo vários estilos. Destaca-se na produção de jingles, em parceria com Lamartine Babo, nos quais os compositores trabalham as palavras de maneira bem-humorada, veiculando a mensagem publicitária implicitamente, por meio de letras com duplo sentido. Uma prática muito comum na época é aproveitar músicas de sucesso para as peças publicitárias. É o que o compositor faz com a marcha Carolina (1934), usada na propaganda do fortificante Carogeno. Cordovil desempenha um papel importante, como compositor e arranjador contratado pela Rádio Gravações Especializadas (RGE), primeira empresa brasileira voltada para jingles e spots, fundada em 1948, quando a rádio já está consolidada como principal meio de comunicação social.
Do início de sua carreira até os anos 1960, quando se destaca como autor de música jovem, Cordovil transita entre diversos gêneros, do samba e marcha à canção romântica, do baião à valsa, passando pelas sinfonias e trilhas musicais dos teatros de revista e cinema, como a parceria com José Mojica Marins, o Zé do Caixão, em Quero Estar Junto de Ti (1961). Isso lhe permite vivenciar diferentes aspectos da produção cultural de seu tempo. O compositor é alvo de polêmica ao lançar o samba Vila Isabel do Espaço (1964), cuja inusitada parceria póstuma, atribuída a Noel Rosa, supostamente é psicografada num centro espírita.
Cordovil atua de maneira significativa na popularização do baião no Sudeste do país, ao lado dos compositores Luiz Gonzaga, Zé Dantas e Humberto Teixeira. Entre a segunda metade da década de 1940 e meados da década seguinte, esse gênero assume um papel relevante nas rádios e cresce no catálogo das gravadoras, sendo até mesmo adotado como símbolo de nacionalidade, ao lado do samba. O baião conquista um espaço na mídia impressa, como objeto de interesse de matérias jornalísticas, além de ser gravado por intérpretes consagrados publicamente em outros gêneros, executado por instrumentos e em espaços tradicionalmente associados à música erudita. Hervé Cordovil participa ativamente desse processo: ao retornar a Minas Gerais, na década de 1940, percebe a aceitação popular do balancê, gênero que se aproxima ao baião. Assim, faz uma releitura desses motivos tradicionais mineiros, dando origem a composições como a toada-baião Esta Noite Serenou, gravada por Dalva de Oliveira, em 1951.
É também o primeiro compositor a colocar em partituras a música folclórica do Rio Grande do Sul, gravada pela cantora e folclorista Inezita Barroso, no LP Danças Gaúchas (1955). Entre as peças que desenvolve, destacam-se a toada Prece a São Benedito (1955) e o samba-jongo Zabumba de Nego (1958). Além de compor, realiza importantes trabalhos de orquestração e arranjos no gênero, tais como Engenho Novo (1945), tema folclórico do Nordeste, adaptado pelo maestro Heckel Tavares, com participação do Coro da Rádio Record e interpretada por Inezita Barroso; e Festa do Congado (1958), de Juracy Silveira, manifestação do interior de Minas Gerais. Participa também de A Sinfonia do Couro, suíte de Hector Lagna Fietta e Heitor Carillo, que aborda o ciclo do gado, em suas diversas fases, da criação à confecção de artigos de couro. Em parceria com o compositor Mauro Damotta, conta através de músicas as lendas recolhidas pelo folclorista paulista Alceu Maynard de Araújo em Ubatuba, São Paulo: A Mãe de Ouro, O Preto do Corcovado, A Gruta da Sununga.
Apesar de sua importância na divulgação e popularização desses gêneros, não existe ainda nenhum trabalho acadêmico que examine atentamente sua trajetória.
Obras 21
Fontes de pesquisa 6
- Dicionário Cravo Albin. Disponível em: . Acesso em: 14 nov. 2011. Não catalogada
- HERVÊ Cordovil. In: BOTEZELLI, J. C. (Coord.); PEREIRA, Arley (Coord.). A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes. São Paulo: SESC SP, 2000. v. 3, 256 p., il. p&b. 1CD Sonoro.
- PANIAGO, Maria do Carmo Tafuri. Hervé Cordovil: um gênio da Música Popular Brasileira. São Paulo: João Scortecci Editora, 1997.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
- VIEIRA, Sulamita. O sertão em movimento: a dinâmica da produção cultural. São Paulo: Annablume, 2000. 268 p.
Como citar
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HERVÉ Cordovil.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12425/herve-cordovil. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7