Comédia Brasileira
Texto
Criada no governo Getúlio Vargas, é a primeira companhia oficial de teatro do Brasil. Inicialmente pautada pelo espírito do Estado Novo que ajuda a propagar, termina por adotar os padrões mais antigos do teatro comercial. A única exceção em seu repertório é a montagem de estréia de A Mulher Sem Pecado, primeiro texto de Nelson Rodrigues.
A política cultural que norteia o Serviço Nacional de Teatro - SNT, órgão responsável pela administração da recém-criada companhia oficial, reproduz o conservadorismo do governo de Getúlio Vargas. Constitui exceção a esta engrenagem, o ministro Gustavo Capanema, responsável pela cessão de verbas a vários espetáculos renovadores do período, entre eles Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues. Capanema não consegue, porém, evitar que seja nomeado diretor do SNT o escritor Abadie Faria Rosa, ex-chefe de gabinete de vários ministros. Na gestão da Comédia Brasileira, usa o poder em benefício próprio e entre outras ações nessa linha, faz a companhia oficial montar dois textos de sua autoria.
Na primeira temporada, em 1940, dois dos três espetáculos realizados pela Comédia Brasileira são dramas históricos triunfalistas. Caxias, de Carlos Cavaco, é uma peça cívica sobre a vida do patrono do Exército Brasileiro, responsável por atrocidades nunca mencionadas pela história oficial e tampouco por essa peça, cujo autor, ao que parece, era ligado ao movimento integralista. O Caçador de Esmeraldas, de Viriato Corrêa, é uma exaltação à epopéia dos Bandeirantes. Ombro, Armas!, uma peça cívico-patriótica do diretor do SNT, também na linha do ideário do Estado Novo, é encenada em 1942.
A montagem de A Mulher Sem Pecado, no mesmo ano, segue a linha realista, o que torna deslocados, de saída, três personagens: a velha mãe paralítica, imobilizada e muda, os fantasmas de um mendigo e da falecida mulher do protagonista. O crítico Mário Nunes estranha suas roupas cotidianas e lamenta a ausência da palidez cadavérica e da roupa própria aos defuntos. A crítica reconhece mérito no esforço do autor em renovar o teatro e encoraja-o a uma nova tentativa, em que resista às incoerências e irrealidades, não procure dificultar o entendimento do público e evite nas falas das personagens as explicações redundantes e as argumentações demoradas.
Em 1943, o repertório tende para a mesma dramaturgia que povoa as salas desde os tempos do Teatro Trianon: comédias de costumes e dramas românticos, tais como: O Morro Começa Ali, de Jorge Maia; A Mulher e Os Espelhos, mais um texto de Abadie Faria Rosa; e Mulher, de Mário Nunes, ambos com direção de Otávio Rangel. Em 1945, é a vez de Um Aventureiro Diante da Porta, de Milan Begovic, com direção de Teixeira Pinto.
Na avaliação da trajetória da Comédia Brasileira, os pesquisadores Yan Michalski e Rosyane Trotta chamam a atenção para a parcialidade da crítica da época, o que não permite que seus comentários sirvam para dimensionar com precisão o valor estético das montagens:
"Na sua quase totalidade, as críticas soam tão triunfalistas quanto o espírito dentro do qual ficou inicialmente empostada a atuação da companhia; e, em todo caso, elas revelam um cuidado no mínimo suspeito de não ferir as vaidades dos responsáveis pelo SNT, e uma espantosa incapacidade de avaliar criticamente os espetáculos da Comédia Brasileira: embora hoje seja fácil perceber a desimportância artística dos seus espetáculos e a sua pouca repercussão junto à opinião pública, praticamente todos eles foram saudados pelos críticos de seu tempo com elogios tonitruantes".1
Nos cinco anos de sua existência, a companhia oficial não consegue realizar um único espetáculo marcante, não define em nenhum momento uma linha de atuação cultural e não conquista faixa significativa de público.
Notas
1. MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro do Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. p. 52-53.
Espetáculos 23
Fontes de pesquisa 3
- MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro no Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. 235 p. (Teatro, 21).
- NUNES, Mário. 'Ginástico - O Caçador de Esmeraldas': peça em 3 atos e 7 quadros de Viriato Corrêa. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 out. 1940.
- NUNES, Mário. 'Mulher sem pecado', peça em três atos de Nelson Rodrigues. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11 dez. 1942.
Como citar
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COMÉDIA Brasileira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo399387/comedia-brasileira. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7