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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Leila Diniz

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.10.2022
25.03.1945 Brasil / Rio de Janeiro / Niterói
14.07.1972 Índia / a definir / Nova Délhi
Leila Roque Diniz (Niterói, Rio de Janeiro, 1945 – Nova Délhi, Índia, 1972). Atriz. Atua principalmente em telenovelas e no cinema, em papéis nos quais se sobressaem a vontade de ser livre e viver fora dos padrões vigentes de moral e bons costumes, numa época em que a luta das mulheres para conquistar sua liberdade sexual ainda chocava uma parce...

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Leila Roque Diniz (Niterói, Rio de Janeiro, 1945 – Nova Délhi, Índia, 1972). Atriz. Atua principalmente em telenovelas e no cinema, em papéis nos quais se sobressaem a vontade de ser livre e viver fora dos padrões vigentes de moral e bons costumes, numa época em que a luta das mulheres para conquistar sua liberdade sexual ainda chocava uma parcela considerável da sociedade.

Com a separação dos pais, Leila é criada por avós e depois pela segunda mulher de seu pai. Só na adolescência descobre quem é a mãe biológica. Começa a trabalhar aos 15 anos, como professora no ensino infantil. Dá aulas de dia e cursa ensino médio à noite. Para ajudar na renda doméstica, participa de anúncios publicitários e figurações em filmes.

A estreia no teatro ocorre no espetáculo infantil Em Busca do Tesouro (1962), dirigido por Domingos de Oliveira (1936-2019), no papel de uma onça mansa. A presença no palco resulta num convite da recém inaugurada TV Globo para fazer papel de vilã na primeira telenovela da emissora: Ilusões Perdidas (1965), de Enia Petri. Entre todos os papéis de Leila em novelas, destaca-se Madelon, que, apaixonada por um capitão de guerra francês, trai os árabes para favorecer a França em O Sheik de Agadir (1966), de Glória Magadan (1920-2001).

No mesmo ano, Leila estreia no cinema e de cara faz seu grande papel, pelo qual recebe menção honrosa no Festival de Brasília e prêmio Air France de melhor atriz. Em Todas as Mulheres do Mundo (1966), comédia romântica de Domingos de Oliveira, interpreta a professora Maria Alice, que conquista o sedutor profissional Paulo, interpretado por Paulo José (1937-2021). Ela desfila no Carnaval, ama a praia e as crianças; é traída, mas perdoa, casa e tem dois filhos. Leila fascina público e crítica com a sensualidade e a graça da personagem, criada à sua imagem e semelhança. Segundo o crítico Luiz Carlos Merten, Leila era a própria Maria Alice e o filme é o tributo do diretor à mulher com quem fora casado – durante as filmagens, já haviam se separado.

Por trás do romance, desenvolve-se uma trama que questiona o conservadorismo da sociedade. Logo no início da obra, um narrador diz: "Agora as mulheres resolveram ser independentes, o que complica as coisas". Maria Alice a seguir se revela a encarnação desse ideal, assim como sua intérprete Leila faz na vida privada.

Leila atua em filmes de características diversas, como Corisco, o Diabo Loiro (1969), de Carlos Coimbra (1925-2007), em que vive Dadá, figura exponencial do cangaço nordestino, bem como comédias, como O Homem Nu (1968), de Roberto Santos (1928-1987), e dramas, como Fome de Amor (1968), de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018).

Nesse último, na opinião do crítico José Carlos Monteiro, Leila revela sua plenitude feminina e se eleva à condição de mulher fatal ao interpretar Ula, que administra doses de sedução e crueldade para se livrar de seu companheiro, um ex-guerrilheiro cego e surdo, e outra mulher. Numa cena catártica, numa festa à fantasia macabra, Ula se despe enquanto conta para os convivas que está fantasiada de “a verdade”.

“A Leila queria viver com liberdade, prazer, vontade. Não foi uma militante, nem feminista. Por isso é tão contemporânea”, analisa a antropóloga Mirian Goldenberg, autora do livro Toda Mulher é Meio Leila Diniz (2008). Para ela, Leila – também tema de música por Rita Lee (1947) e de filme dirigido por Luiz Carlos Lacerda (1945) em 1987 – não expressava uma sexualidade para parecer sexy ou seduzir, e sim para o próprio prazer.

Em 1969, Leila concede entrevista a O Pasquim, na qual defende ser possível “amar muito uma pessoa e ir pra cama com outra”, entre outros pontos de vista libertários. Para evitar problemas com os censores da ditadura militar (1964-1985)1, os palavrões são substituídos por asteriscos. Exemplo: “Acho uma (*) fazer papel sexy”. Em resposta à entrevista, o governo decreta lei de censura prévia à imprensa, apelidada de Decreto Leila Diniz. Parte da opinião pública a cultua e imita. Outra parte se volta contra ela. A escritora Janete Clair (1925-1983) veta seu nome para a equipe de Véu de Noiva (1969), alegando não haver papel de prostituta na novela. Sem grandes papéis no cinema e com as portas fechadas na teledramaturgia, fica restrita a filmes alternativos, teatro de revista e ao programa televisivo de Flávio Cavalcante (1923-1986), em que participa como jurada até o dia em que policiais aparecem no estúdio atrás dela – graças ao apresentador, consegue fugir.

Fora dos estúdios, ganha o título de madrinha da Banda de Ipanema e escandaliza com uma foto de biquíni na praia quando está grávida de Janaína, sua filha com o cineasta Ruy Guerra (1931). Na época, gestantes não expunham suas barrigas publicamente. 

Leila, uma autodidata sem formação em artes cênicas, define  assim o seu aprendizado: “A gente é atriz porque cisma que é atriz. Vai entrando na coisa e vira atriz”. Segundo Mirian Goldenberg, ela é uma atriz autobiográfica, que usa intuição e personalidade na construção de seus personagens, com prazer e irreverência. O escritor Sérgio Augusto (1942) afirma que Leila se situa na zona intermediária entre a grande atriz e a estrela. E lamenta que tenha sido mais falada do que filmada.

Leila Diniz é uma mulher à frente do seu tempo, vulgar para uns, revolucionária para outros tantos. Com uma capacidade marcante de encantar, seja na vida real, seja nos personagens aos quais deu vida – em 14 filmes e 12 novelas –, é uma pessoa fiel aos seus valores e ícone da liberdade feminina.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

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