Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Odete Lara

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.03.2024
17.04.1929 Brasil / São Paulo / São Paulo
04.02.2015 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Odete Righi Bertoluzzi (São Paulo, São Paulo, 1929 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015). Atriz, cantora. Integra alguns elencos em televisão e teatro, mas se destaca sobretudo no cinema, em comédias e, principalmente, em dramas. Vive personagens variadas com tanta veracidade que é tida como uma das atrizes mais relevantes para a modernização ...

Texto

Abrir módulo

Odete Righi Bertoluzzi (São Paulo, São Paulo, 1929 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015). Atriz, cantora. Integra alguns elencos em televisão e teatro, mas se destaca sobretudo no cinema, em comédias e, principalmente, em dramas. Vive personagens variadas com tanta veracidade que é tida como uma das atrizes mais relevantes para a modernização do cinema nacional. Em sua trajetória artística, vivida sob o nome de Odete Lara, também canta e escreve.

Após iniciar a vida profissional como secretária e datilógrafa, faz curso de modelo e chega à TV Tupi, onde inicia sua carreira de atriz de teleteatro em Luz de gás (1954), com Tônia Carrero (1922-2018) e Paulo Autran (1922-2007), e se torna conhecida no programa TV de vanguarda (1952-1967). Ao longo de sua carreira, a atriz faz também algumas novelas, na Tupi, assim como em outras emissoras, como Excelsior e Rede Globo.

Da televisão, migra para o palco do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Atua em alguns espetáculos e chega a ser premiada, mas é no Grupo Opinião que tem a vivência mais produtiva. Lá, a atriz dá vazão à militância política, seja no palco, participando de montagens que contestam a ditadura militar (1964-1985)1, seja fora dele, em passeatas e assembleias de classe. Certa vez, questionada por agentes da repressão sobre quem era o autor de uma peça, diz que é Sófocles (406-496) e que ele não está disponível. Questionada sobre o endereço, diz que não poderia informar. Indagada se está sonegando informações, responde que não, porque Sófocles havia morrido havia mais de 2 mil anos – o dramaturgo grego viveu no século V a.C.

Outro ponto positivo da vivência no Opinião, segundo ela, é conhecer músicos. Estabelece  parceria com Vinicius de Moraes (1913-1980) no show “Skindô”, que deu origem ao disco Vinicius e Odette Lara (1963). Também grava Contrastes (1966), com composições de Vinicius e Tom Jobim (1927-1994), e tem parcerias com outros músicos, como Chico Buarque (1944).

Embora tenha carreira importante no teatro, é no audiovisual que estabelece carreira mais longeva e onde se sente estimulada pela proximidade com a câmera. Considera que o cinema permite um envolvimento mais amplo com a obra, que extrapola a função de atriz. Somando produções para cinema e televisão, atua em mais de 40 títulos, a maioria num intervalo de 20 anos, de 1954 a 1974.

Sua estreia no cinema se dá na comédia O gato de madame (1956), de Agostinho Martins Pereira (1923-2017), ao lado de Mazzaropi (1912-1981). Após alguns títulos de pouco destaque, Odete começa a atuar em filmes que marcam época. Em Boca de ouro (1963), de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), interpreta Guigui, ex-amante do bicheiro assassinado, Boca de Ouro, uma personagem sensual, provocativa, levemente perversa, que ajuda a reconstruir a carreira do personagem-título.

No ano seguinte, Odete faz o papel de Cristina, considerado por grande parte da crítica como sua melhor atuação, em Noite vazia (1964), de Walter Hugo Khouri (1929-2003), que retrata uma noitada de duas garotas de programa com dois playboys. Numa determinada sequência, um cafetão bêbado as ofende com palavras chulas.

A cineasta Ana Maria Magalhães (1950), que dirige Lara (2002), uma cinebiografia de Odete, afirma que a atriz tem papel fundamental na moderna interpretação cinematográfica. Numa época em que o cinema era dominado por comédias e paródias, com interpretações caricaturais, Odete integra um grupo de intérpretes que empresta veracidade às personagens. Para o produtor Luiz Carlos Barreto (1928), é a primeira grande atriz do cinema brasileiro e está para o cinema assim como Fernanda Montenegro (1929) está para o teatro.

Após receber um prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pelo conjunto da obra, em 1975, Odete se afasta das câmeras. Descobre o budismo, isola-se num sítio, passa a meditar e a escrever. Publica três livros autobiográficos: Eu nua (1975), Minha jornada interior (1990) e Meus passos em busca da paz (1997), além de traduzir obras do budismo. “Eu via o mundo como um close, onde só havia o rosto do homem amado. De repente, passei para uma grande angular e hoje vejo tudo ao meu redor”, disse certa vez. “Eu tinha talento pra ser atriz, mas vocação pra monja”.

Odete interrompe o isolamento para trabalhar no filme O princípio do prazer (1979), sobre dois casais de irmãos que se entregam a uma vida de ócio e prazeres sexuais incestuosos. O diretor, Luiz Carlos Lacerda (1945), destaca a intensa dedicação dela à construção da personagem. Relembra que ela fica isolada durante as filmagens, buscando explicação para a introspecção psicológica de sua personagem. É, para ele, uma mulher corajosa, que não hasteia bandeiras, mas mergulha profundamente em viver coisas novas; que leva uma vida intensa e sempre tem sua beleza exaltada, mas nunca quer ser musa; que trabalha com grandes diretores, como Glauber Rocha (1939-1981), mas aceita fazer filmes independentes. Uma atriz “magistral”, com sensibilidade aguda para criar personagens, na opinião de Antônio Carlos da Fontoura (1939), que a dirige duas vezes.

Odete Lara tem uma jornada de duas fases bem distintas. Na primeira, encanta o mundo ao redor, consagra-se, ganha rótulos como “diva” e “musa”. Na segunda, larga tudo para trabalhar seu universo interior e escrever. Em ambas, constrói seu legado.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Espetáculos 5

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 9

Abrir módulo

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: