Luiz Carlos Barreto
Texto
Luiz Carlos Barreto Borges (Sobral, Ceará, 1928). Produtor de cinema, diretor de cinema. Um dos produtores mais importantes do cinema nacional. Fotojornalista, entra na cinematografia como roteirista e diretor de fotografia, mas constroi carreira sólida na produção executiva, ofício que para ele deve ser exercido com ousadia, a fim de fazer filmes de qualidade sobre temas relevantes e que sejam vistos nas salas de cinema do Brasil e do mundo.
Interessado por política, filia-se ao Partido Comunista, em Fortaleza, e escreve no jornal da agremiação. Por sua atuação, é perseguido e, a pedido da família, muda-se para o Rio de Janeiro, onde começa a trabalhar como repórter fotográfico na revista O Cruzeiro. Cobre momentos marcantes da vida nacional, como o golpe civil-militar de 1964 e a subsequente visita do presidente francês Charles de Gaulle (1890-1970) ao país. Entrevista personalidades como Juscelino Kubitschek (1902-1976), Fidel Castro (1926-2016 e Marilyn Monroe (1926-1962).
É por meio de uma reportagem sobre o cineasta então iniciante Glauber Rocha (1939-1981) que Barreto descobre sua vocação cinematográfica. No set de filmagem de Barravento (1961), os dois têm uma longa conversa e Glauber o convida para escrever o roteiro de O Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias (1932-2018), que marca a estreia de Barreto no cinema, como corroteirista e coprodutor. Começa então um intenso envolvimento com o cinema novo como produtor, distribuidor, participando da criação da Difilm (1965)1, e como diretor de fotografia.
Na fotografia, obtém resultados expressivos com poucos recursos, como em Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018). Segundo Barreto, nessa produção, o objetivo é valorizar a luz, tratando-a como um personagem que incomoda o homem porque destrói tanto a paisagem como a plantação, mostrando assim um Nordeste diferente do veiculado até então. A intensidade de luz é medida a partir do personagem, do objeto em primeiro plano. Se o fundo ficar extremamente claro, ou escuro demais, isso não é um problema. Para ele, esse jeito de filmar rompe com a fotografia da escola holywoodiana.
Em 1963, com sua esposa, a produtora Lucy Barreto (1934), funda a LC Barreto Produções Cinematográficas. No ano seguinte, eclode o golpe civil-militar, mas a LC segue produzindo e defendendo seus títulos diante dos censores durante o regime (1964-1984), como é o caso de Terra em Transe (1967), de Glauber, no qual Barreto assina a fotografia e também a produção. Sátira política, a obra é interditada, exigindo que Barreto e Glauber falem com o chefe da censura. Após alegarem que a trama fala de um país imaginário, conseguem a liberação.
Os interesses particulares de Barreto se misturam com os trabalhos de sua empresa e os filmes em que atua ao lado de Lucy na produção. Um exemplo é o futebol, em documentários como Garrincha, Alegria do Povo (1965), de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), e Isto É Pelé (1974), codireção de Barreto com Eduardo Escorel (1945). O mesmo acontece com a política, presente em sua vida desde a juventude, apresentada em títulos como Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), inspirado no livro de memórias de Graciliano Ramos (1892-1953) sobre o período em que é preso por ser considerado subversivo.
A adaptação literária para o universo do cinema se repete na produção de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), do romance homônimo do escritor Jorge Amado (1912-2001), dirigido por Bruno Barreto (1955). O filme reúne mais de 10 milhões de espectadores e se mantém durante 34 anos como a maior bilheteria do país. Ganha prêmios no Festival de Gramado e concorre no Bafta, importante premiação britânica. Considerada uma superprodução para a época, é exibida em mais de 80 países e ajuda a abrir caminho para o cinema brasileiro no mercado internacional.
A partir dos anos 1980, Lucy passa a participar ativamente das produções da LC, desde o roteiro até a finalização. Enquanto Barreto lida com o lado mais criativo dos trabalhos, cabe a Lucy estudos sobre público, estratégias de mercado e organização, incluindo a criação de uma cartilha sobre o funcionamento de uma produção e a atuação específica de cada técnico. A parceria profissional rende bons frutos, entre eles Bye Bye Brasil (1980), de Cacá Diegues (1940), nomeado ao Palma de Ouro em Cannes, e dois longas que disputam o Oscar de melhor filme em língua estrangeira, O Quatrilho (1995) e O Que É Isso, Companheiro? (1997), dirigidos, respectivamente, por Fábio Barreto (1957-2019) e Bruno Barreto.
Defensor do cinema nacional, Luiz Carlos Barreto trabalha para que os filmes tenham qualidade técnica e artística para conquistar o mercado e o público, mentalidade que o torna um dos maiores ícones do cinema brasileiro.
Nota
1. Empresa criada para tentar colocar nas salas de cinema os filmes em geral pouco comerciais do movimento.
Exposições 10
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6/5/1992 - 5/7/1992
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3/7/2001 - 12/8/2001
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7/5/2002 - 16/6/2002
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1/10/2009 - 14/11/2009
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11/7/2012 - 7/10/2012
Fontes de pesquisa 8
- ARAÚJO, Inácio. “Barretão” exibe vida de um dos maiores nomes do cinema brasileiro. Folha de S.Paulo, São Paulo, 31 ago. 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/08/barretao-exibe-vida-de-um-dos-maiores-nomes-do-cinema-brasileiro.shtml. Acesso em: 7 jun. 2021.
- BARRETO, Luiz Carlos. Luiz Carlos Barreto [Entrevista cedida a Pedro Bial]. Conversa com Bial. TV Globo São Paulo, São Paulo, 19 maio 2021. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/9531400/?s=0s. Acesso em: 8 jun. 2021.
- BARRETO, Paula. Paula Barreto [Entrevista por telefone cedida a Julio Adamor]. [S.l, s.d.]. [filha de Luiz Carlos e Lucy Barreto].
- BARRETÃO. Documentário dirigido por Marcelo Santiago, lançado em 2019 (LC Barreto e Filmes do Equador).
- LIMA, Adriana. Luiz Carlos Barreto completa 90 anos como ícone da produção cultural do Brasil. O Globo, Rio de Janeiro, 15 maio 2018. Cultura. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/luiz-carlos-barreto-completa-90-anos-como-icone-da-producao-cultural-do-brasil-22684646. Acesso em: 8 jun. 2021.
- MERTEN, Luiz Carlos. Tema de filme, produtor Luiz Carlos Barreto enfrenta perdas, mas não perde o entusiasmo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 31 dez. 2019. Cultura. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,tema-de-filme-produtor-luiz-carlos-barreto-enfrenta-perdas-mas-nao-perde-o-entusiasmo,70003139933. Acesso em: 7 jun. 2021.
- RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000. R791.430981 E56 ex.2
- SOBOTA, Guilherme. Família Barreto aposta no cinema de animação com criação de nova produtora. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 27 jan. 2021. Cultura. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,familia-barreto-aposta-no-cinema-de-animacao-com-criacao-de-nova-produtora,70003595138. Acesso em: 7 jun. 2021.
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LUIZ Carlos Barreto.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa15728/luiz-carlos-barreto. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7