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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Kitsch

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.09.2017
O termo kitsch é utilizado para designar o mau gosto artístico e produções consideradas de qualidade inferior. Aparece no vocabulário dos artistas e colecionadores de arte em Munique, em torno de 1860 e 1870, com base em kitschen, [atravancar], e verkitschen, [trapacear] (vender outra coisa no lugar do objeto combinado), o que denota imediatamen...

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Definição
O termo kitsch é utilizado para designar o mau gosto artístico e produções consideradas de qualidade inferior. Aparece no vocabulário dos artistas e colecionadores de arte em Munique, em torno de 1860 e 1870, com base em kitschen, [atravancar], e verkitschen, [trapacear] (vender outra coisa no lugar do objeto combinado), o que denota imediatamente o sentido pejorativo que o acompanha desde o nascimento. A gênese do kitsch é localizada no romantismo, pela ênfase observada na expressão dos sentimentos e das emoções, o que na literatura, por exemplo, toma forma do melodrama e da literatura popular. Negação do autêntico, cópia e artificialidade são os significados freqüentemente associados aos objetos e produções kitsch, encontráveis tanto nas artes visuais, na literatura e na música, quanto no design e na profusão de produtos que cercam o cotidiano: souvenir turístico, miniatura, adorno, objetos de decoração e devoção, talismã religioso e outros. 

O kitsch se populariza na década de 1930 com as formulações dos críticos Theodor Adorno (1903-1969), Hermann Broch (1886-1951) e Clement Greenberg (1909-1994), que definem o por oposição às pesquisas inovadoras da arte moderna e da arte de vanguarda. Pensando o kitsch com base no conceito marxista de "falsa consciência", Adorno localiza-o no seio da indústria cultural e da produção de massas. Broch, por sua vez, opõe a arte criativa às imitações e convenções artificiais que orientam as produções kitsch. Greenberg define o "estilo" como arte da cópia, das "sensações falsas" e da obediência às regras acadêmicas. Nesse sentido, o kitsch é definido como o avesso da vanguarda. Diz ele: "Onde há uma vanguarda geralmente também encontramos uma retaguarda. É bem verdade - simultaneamente à entrada em cena da vanguarda, um outro fenômeno cultural apareceu no Ocidente industrial: aquilo a que os alemães dão o maravilhoso nome de Kitsch: a arte e a literatura popular e comercial com seus cromotipos, capas de revista, ilustrações, anúncios, subliteratura, histórias em quadrinhos, a música de Tin Pan Alley, sapateado, filmes de Hollywood etc. etc.". 

Ainda que, muitas vezes, se fale no kitsch como um conceito universal - reconhecível portanto em qualquer época e estilo artístico -, a maior parte dos estudiosos encontra-o no seio da sociedade industrial, de feitio burguês, o que faz dele um dos produtos típicos da modernidade. A pujança do kitsch, indica Abraham Moles, coincide com a expansão do mercado e a emergência da sociedade de massa que impõem normas à produção artística ditadas pela difusão e possibilidades de aquisição de produtos artísticos - de modo geral, reproduções e cópias - em função dos baixos preços. Os grandes magasines, que abrem as portas a partir da segunda metade do século XIX, dão vazão aos novos produtos que visam agradar a classe média: porcelana, bibelô, estatueta, cromo com reproduções de estampas e/ou figuras célebres etc. O kitsch apresenta-se desse modo como a arte que está ao alcance do homem, disponível nas vitrines e casas comerciais.

Os artifícios do mundo burguês revelam-se nos produtos kitsch, confeccionados em geral com novos materiais que nunca se apresentam como são: a madeira é pintada imitando o mármore; os objetos de zinco, bronzeados; as estátuas de bronze, por sua vez, douradas. A norma consiste em utilizar matéria-prima considerada inferior - por exemplo, gesso, estuque, ferro e zinco - dissimulando-a para que pareça nobre. A técnica da simulação combina-se nas produções kitsch com a ornamentação rebuscada, com a associação de ampla gama de cores e com a distorção das dimensões da figura em relação ao objeto representado (por exemplo, o Arco do Triunfo em miniatura ou um rato gigante estilizado de bronze). Nota-se ainda a tendência ao exagero e à acumulação de elementos numa só composição. Nesse sentido, a arte kistch é essencialmente sincrética, alimentando-se de elementos retirados de diferentes escolas e artistas. Localiza-se, assim, nas antípodas da funcionalidade e do despojamento que caracterizam, por exemplo, as obras da Bauhaus. Longe da funcionalidade, as produções kitsch caracterizam-se pela gratuidade e por seu caráter eminentemente decorativo.

A despeito das considerações críticas sobre a existência de uma oposição entre o kitsch e as vanguardas, nota-se uma estreita relação entre os termos: tanto as produções kitsch incorporam procedimentos das vanguardas quanto, ao contrário, diferentes movimentos de vanguarda se interessam pelo kitsch  pelo modo como ele subverte os padrões estéticos, de modo muitas vezes irônico. Um bom exemplo são os bigodes colocados por Marcel Duchamp (1887-1968) numa reprodução da Gioconda de Leonardo da Vinci (1452-1519), que fazem dela um ready-made retificado, o L.H.O.O.Q., 1919. O ato e a obra de Duchamp empreendem uma leitura da tradição com caráter falsificado e postiço que ela assumi no mundo moderno.

No período posterior à Segunda Guerra Mundial, 1939-1945, a arte pop retira o sentido pejorativo que cerca o kitsch. A arte pop se apresenta como um dos movimentos que recusam a separação arte/vida, e o faz - eis um de seus traços característicos - pela incorporação das histórias em quadrinhos, da publicidade, das imagens televisivas e do cinema. Ao aproximar arte e design comercial, os artistas superam, propositadamente, as fronteiras entre arte erudita e arte popular, ou entre arte elevada e cultura de massa, flertando sistematicamente com o kitsch. Podem ser citadas, entre outros, a colagem de Richard Hamilton (1922), O que Exatamente Torna os Lares de Hoje Tão Diferentes, Tão Atraentes?, de  1956; as naturezas-mortas de Tom Wesselmann (1931), compostas com produtos comerciais; os quadrinhos de Roy Lichtenstein (1923); as esculturas de Claes Oldenburg (1929), em Duplo Hamburguer , 1962;  e as obras de Andy Warhol (1928-1987), 32 Latas de Sopas Campbell, 1961-1962, Caixa de Sabão Brilho , 1964, entre outras. No Brasil as obras de Nelson Leirner (1932) e Wesley Duke Lee (1931-2010) são pioneiras na incorporação dessas discussões. O pós-modernismo da década de 1980 rompe mais uma vez, e com resultados diversos, as fronteiras entre o kitsch e a chamada arte erudita.

Fontes de pesquisa 3

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  • CALINESCU, Matei. Five faces of modernity. Modernism, Avant-Garde, Decadence, Kitsch, Post Modernism. Durham: Duke University Press, 1987, 395 pp.
  • GREENBERG, Clement. Arte e cultura. Tradução de Otacílio Nunes. São Paulo: Ática, 1996, 280 pp.
  • MOLES, Abraham. O Kitsch: a arte da felicidade. 3.ed. Tradução Sérgio Miceli. São Paulo, Perspectiva, 1986, 231 pp. il p&b. [Coleção Debates].

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