1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas
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A 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas, denominação oficial daquela que ficou conhecida como a Bienal da Bahia, é aberta ao público em dezembro de 1966, no Convento do Carmo, em Salvador. Promovida por iniciativa conjunta do governo do Estado da Bahia e de artistas locais como Juarez Paraíso (1934), Chico Liberato (1936) e Riolan (1932-1994), a Bienal tem importância destacada na descentralização da atividade artística no país, como também na a atualização da arte na Bahia e em toda a Região Nordeste. Reunindo artistas de variadas procedências regionais e estéticas, a mostra revela o compromisso com a divulgação de correntes artísticas díspares. Os premiados na primeira edição indicam tal postura: Lygia Clark (1920-1988), Rubens Gerchman (1942-2008), Hélio Oiticica (1937-1980) e Rubem Valentim (1922-1991). Participam ainda dessa 1ª Bienal artistas renomados do eixo Rio-São Paulo e figuras importantes da cena artística local, tais como Emanoel Araújo (1940), Mario Cravo Neto (1947-2009) e Calasans Neto (1932-2006).
A iniciativa, com ampla repercussão em todo o país, vem somar-se às inúmeras atividades de artistas baianos que, ao longo dos anos de 1940 e 1950, se empenham na modernização do circuito artístico em Salvador pela divulgação das conquistas estéticas dos modernismos nacional e internacional. No campo das artes visuais, os nomes de Mario Cravo Júnior (1923-2018), Carlos Bastos (1925-2004) e Genaro (1926-1971) merecem ser lembrados como expoentes da arte moderna baiana. O ateliê de Mário Cravo Júnior, especialmente, constitui um pólo aglutinador da intelectualidade local, reunindo críticos, ensaístas e escritores como José Valladares (1917-1959), Wilson Rocha (1921-2005), Anísio Teixeira (1900-1971), Jorge Amado (1912-2001), e outros. Do ponto de vista de espaços dedicados às artes plásticas, a cidade de Salvador conta, até então, com a Biblioteca Pública e com a Associação Cultural Brasil-Estados Unidos, além das galerias de arte Anjo Azul e Oxumaré. O 1º Salão Baiano de Belas Artes (1949) e a revista Cadernos da Bahia, veículo de divulgação e defesa do modernismo, expressam tentativas de renovação do universo das artes na Bahia. A presença do argentino Carybé (1911-1997) e do francês Pierre Verger (1902-1996), que se instalam em Salvador no período, tem grande importância na vida cultural local, alimentando o trânsito entre a arte moderna e a cultura popular, sobretudo o universo do candomblé.
Mas não é possível falar na atualização artística baiana - da qual faz parte a 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas - sem fazer menção à intensa e vigorosa atuação da universidade sob a direção do reitor Edgar Santos, que, entre 1946 e 1962, é responsável pelos mais importantes acontecimentos artísticos na cidade. Em claro movimento de internacionalização da vida cultural, Edgar Santos está na raiz de uma série de iniciativas que são lidas hoje como parte do chamado "modernismo baiano". A Escola de Teatro, que conta com a presença de Helena Ignez (1939), Glauber Rocha (1939-1981), Eros Martim Gonçalves (1919-1973), Geraldo del Rey (1930-1993), Sérgio Cardoso (1925-1973), entre outros, encena o teatro moderno de Bertolt Brecht (1898-1956), experimentando novas concepções cênicas, alimentadas pelas contribuições de Lina Bo Bardi (1925-1992). Lina chega a Salvador atendendo a convite do arquiteto Diógenes Rebouças (1914-1994) para lecionar na universidade, quando aceita então mais um convite: o do governador Juracy Magalhães para que trabalhe na implantação do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). O Clube de Cinema e as aulas de Walter Silveira, por sua vez, formam novas gerações de realizadores, entre eles Glauber Rocha, ideólogo do cinema novo. O Seminário de Música reúne, entre 1954 e 1963, Hans Joachim Koellreutter (1915-2005), Walter Smetak (1913-1984) e Ernst Widmer (1927-1990), que trazem as contribuições do dodecafonismo e realizam experiências de vanguarda, como as plásticas sonoras idealizadas por Smetak, exibidas em eventos em que os músicos "tocam esculturas". A Escola de Dança, criada em 1956, primeira de nível superior no país, traz a polonesa Yanka Rudzka (1916-2008), uma das pioneiras da dança moderna no Brasil.
O fechamento do regime político em fins dos anos 1960 - coroando o golpe civil-militar de 1964 - provoca, como sabido, a forte censura às manifestações artísticas e a perseguição a artistas e intelectuais. A segunda edição da Bienal da Bahia, inaugurada em dezembro de 1968 no Convento da Lapa, sofre de perto as conseqüências da ditadura militar: é fechada durante um mês, no dia seguinte à sua inauguração. Dez das obras expostas são confiscadas antes da reabertura, consideradas "subversivas". Com ela, encerram-se as Bienais Nacionais de Artes Plásticas da Bahia.
Ficha Técnica
Clarival do Prado Valladares
Mario Pedrosa
Mario Schenberg
Wilson Rocha
Artista participante
Adam Firnekaes
Adão Pinheiro
Adelson do Prado
Aderbal Moura
Adilson Santos
Agnaldo
Aldir Mendes de Souza
Alexandre Filho
Alfredo Volpi
Alice Brill
Álvaro Apocalypse
Amarilis Rodrigues
Anatol Wladyslaw
Angelo de Aquino
Anna Bella Geiger
Anna Maria Maiolino
Antônio Alves Dias
Antônio Carelli
Antonio Henrique Amaral (Prêmio Aquisição)
Antonio Maia
Antonio Manuel
Armenuhi Baudakian
Arnaldo Ferrari
Áureo Abílio
Bernardo Caro
Bess
Betty King
Caciporé Torres
Caio Mourão
Calasans Neto
Carlos Bastos
Carlos Harle
Carlos Jorge Guidacci da Silveira
Carlos Lousada
Carlos Vergara
Carybé
Célia Shalders
Chanina
Chico Liberato
Chico Pereira
Cidinha Pereira
Corbiniano Lins
Danúbio Gonçalves
Dora Basílio
Edelweiss
Édison da Luz
Eduardo Ribeiro Rocha
Efísio Putzolu
Eládio Barbosa
Elber Duarte
Emanoel Araújo
Eraldo Motta
Evandro Carlos Jardim
Evany Fanzeres
Fayga Ostrower
Fernando Coelho
Flávia Lúcia Fagundes Arrigucci
Floriano Teixeira
Florita
Francisco Brennand
Francisco Stockinger
Franklin Delano
Frans Krajcberg
Genaro
Geraldo de Souza (Prêmio Estímulo)
Geraldo Décourt
Gerson de Souza
Gilson Barbosa
Grauben
Guita Charifker
Helena Maria Beltrão de Barros
Helena Wong
Helenos
Hélio Oiticica
Hélio Oliveira
Heloisa Sollero
Henrique Leo Fuhro
Henrique Oswald
Hilda Campofiorito
Hisao Ohara
Humberto Vellame
Iberê Camargo
Ilo Krugli
Isa Aderne
Ismenia Coaracy
Ivan Freitas
Ivan Serpa
Ivens Machado
Jacques Avadis
Jamison
Jandyra Waters
Jarbas Juarez
Jenner Augusto
João Baptista da Costa Aguiar
João Câmara
João Carlos Galvão
João Osorio Brzezinski
Jorge Carlos Sade
Jorge Tavares
José Antônio da Silva
José Lucena
José Maria
José Pancetti
José Roberto Aguilar
Josely Carvalho
Lenio Braga
Leonardo Alencar
Leopoldo Raimo
Lia Robatto / Bienal Nacional de Artes Plásticas (1. : 1966 : Salvador, BA)
Lothar Charoux
Lourdes Cedran
Luciano Pinheiro
Lygia Clark
Lygia Milton
Marcello Grassmann
Márcio Mattar
Mari Yoshimoto
Maria Bonomi
Maria Carmen
Maria do Carmo Secco
Maria Guilhermina
Maria Lucia Luz
Maria Polo
Marianne Peretti
Marie Brych
Marília Giannetti Torres
Marina Caram
Mário Bueno
Mário Campello
Mario Cravo Júnior
Mario Cravo Neto
Mário Ishikawa
Mario Levi
Mariselda Bumajny
Marlene Crespo
Mary Ann
Massuo Nakakubo
Masumi Tsuchimoto
Maurício Nogueira Lima (Prêmio Aquisição)
Maurício Salgueiro
Mestre Didi
Milton Dacosta
Mirabeau Sampaio
Miriam Chiaverini
Moacyr Andrade
Montez Magno (Prêmio Pesquisa)
Moysés Baumstein
Newton Cavalcanti
Nicolas Vlavianos
Nilson Seoane
Niobe Xandó
Oswaldo Goeldi
Parisi Filho
Paulo Menten
Pedro Amado
Pedroso
Poty Lazzarotto
Rachel Strosberg
Raimundo de Oliveira
Rajá Simon
Ramiro Bernabo
Raul Córdula
Raul Porto
Regina Vater
Reinaldo Eckenberger
Rescála
Roberto Mendez y Mendez
Rosina Becker do Valle
Rubem Ludolf
Rubem Rey
Rubem Valentim (Prêmio Contribuição à Pintura Brasileira)
Rubens Gerchman
Sami Mattar
Sante Scaldaferri
Sara Ávila
Sérgio Pastura
Shiroma
Solange Escosteguy
Sônia Castro
Sulita Di Franco
Terciliano Jr.
Tetsuo Nomura
Tiago Amorim
Tikashi Fukushima
Tomie Ohtake
Udo Knoff
Vallandro Keating
Vasco Prado
Vera Ilse Siqueira Alves Pedroso
Vera Motlis Roitman
Victor Gerhard
Vilma Pasqualini
Wakabayashi
Waldemar Cordeiro
Waldomiro de Deus
Waleska Ramos
Exposições 1
Fontes de pesquisa 8
- BIO Regina Vater. Galeria Jaqueline Martins, [S.l.:s.n.]. Disponível em: https://www.arrematearte.com.br/artistas/regina-vater-1943. Acesso em: 25 nov. 2023.
- GALERIA MENDES WOOD. Envio de materiais do artista Rubem Valentim [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por enciclopedia@itaucultural.org.br em 15 jul. 2021. Acesso em: 14 dez. 2021.
- MAGNO, Montez. Montez Magno: 2000. Recife: MAMAM, 2000.
- MAIOLINO, Anna Maria. [Currículo virtual]. Disponível em: http://annamariamaiolino.com/linha-do-tempo-amm.html. Acesso em: 19 Out.2023
- PONTUAL, Roberto. Arte brasileira contemporânea: Coleção Gilberto Chateaubriand. Tradução Florence Eleanor Irvin, John Knox. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1976.
- PRIMEIRA Bienal Nacional de Artes Plásticas: catálogo. Salvador: Secretaria de Educação e Cultura. Divisão Cultural, 1966/1967.
- RISÉRIO, Antonio. Avant-garde na Bahia. Apresentacao Marcelo Carvalho Ferraz; apresentação Caetano Veloso. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1995.
- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento81697/1-bienal-nacional-de-artes-plasticas. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7