Anatol Wladyslaw Naftali (Varsóvia, Polônia, 1913 – São Paulo, São Paulo, 2004). Pintor, desenhista, gravador. Integrante do Grupo Ruptura, é um dos pioneiros da arte abstrata no Brasil.

Chega ao Brasil em 1930, onde inicialmente estuda engenharia eletrônica, formando-se em 1939. Começa a estudar desenho e pintura, em 1944, tendo aulas com Lucy Citti Ferreira (1911-2008), Yolanda Mohalyi (1909-1978) e Flexor (1907-1971). Nas primeiras pinturas, produzidas durante a segunda metade da década de 1940, adota o estilo figurativo. Expõe pela primeira vez no 11º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, em 1947, apresentando paisagens com fortes contrastes de cor.

Dois anos depois, conhece Waldemar Cordeiro (1925-1973) e outros artistas interessados em formar um grupo construtivista em São Paulo. Nesse período, sua obra dá uma guinada em direção ao abstracionismo geométrico. Em 1952, participa da fundação do Grupo Ruptura. Assina o manifesto do grupo e integra a sua primeira exposição, no mesmo ano, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Também participam da fundação do coletivo Leopold Haar (1910-1954), Lothar Charoux (1912-1987), Féjer (1923-1989), Geraldo de Barros (1923-1998) e Luiz Sacilotto (1924-2003).

Sem o rigor e a impessoalidade do concretismo mais ortodoxo, a pintura construtivista de Wladyslaw é produzida com tinta a óleo, de modo tradicional, e apresentando um colorido suave e variado. Essa fase geométrica se estende até 1957, quando suas telas se tornam mais gestuais, passando a flertar com o tachismo.

Progressivamente, passa do construtivismo para a abstração informal, reaproximando-se da figuração. Na 6ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1961, recebe o prêmio de desenho nacional. Seu trabalho como desenhista se torna então mais conhecido do que o de pintor. Segundo o historiador Wolfgang Pfeiffer (1912-2003), os desenhos dessa época são feitos “de maneira bastante lírica [...] enfatizando suas zonas de concentração tachista”¹.

A partir de 1963, retorna ao figurativismo, passando a articular formas reconhecíveis com pintura gestual. Na década seguinte, o artista diminui a expressividade da pincelada, dá mais destaque às áreas de cor e centraliza a composição nos temas. Sua pintura se ocupa de motivos imaginativos, construídos com figuras míticas. Cada vez mais próximo da sensibilidade surrealista, aborda narrativas judaicas tradicionais. Os temas e a composição o aproximam do trabalho do pintor russo Marc Chagall (1887-1985).

Em 1984, expõe no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Essa é uma de suas últimas exposições na década. Depois de 1986, seu trabalho entra em recesso, ficando seis anos sem ser exibido. Em 1992, retorna às galerias e monta uma exposição de pinturas em Wroclaw e Varsóvia, na Polônia. No ano seguinte, a mesma individual é trazida para a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Com uma obra extensa e variada, composta de pinturas, desenhos e gravuras, Anatol Wladyslaw é um nome fundamental no panorama da arte contemporânea brasileira. Sua importância se deve tanto ao pioneirismo do trabalho junto ao Grupo Ruptura quanto à singularidade do construtivismo de sua obra.

Notas

1. WLADYSLAW, Anatol. Anatol Wladyslaw: desenhos. São Paulo: MAC/USP, 1980 apud BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo, p. 206.