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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Grupo Ruptura

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 18.03.2024
12.1952 Brasil / São Paulo / São Paulo – Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)
A exposição é concebida, organizada e montada pelo próprio grupo, que tem Waldemar Cordeiro como líder teórico e provável o autor do Manifesto Ruptura (1952), assinado pelos artistas participantes. O Manifesto é distribuído ao público no dia da inauguração e expõe as bases artísticas e políticas do Ruptura. No texto, o grupo defende uma nova art...

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A exposição do grupo abstracionista Ruptura, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, localizado à época na rua 7 de Abril, é inaugurada em 9 de dezembro de 1952. A mostra reúne os integrantes do grupo, que se destacam pelo estudo e pela produção de obras de tendência construtiva: Anatol Wladyslaw (1913-2004), Geraldo de Barros (1923-1988), Kazmer Féjer (1923-1989), Leopold Haar (1910-1954), Lothar Charoux (1912-1987), Luiz Sacilotto (1924-2003) e Waldemar Cordeiro (1925-1973). Por falta de documentação, não se sabe ao certo quantas obras integram a mostra.

A exposição é concebida, organizada e montada pelo próprio grupo, que tem Waldemar Cordeiro como líder teórico e provável o autor do Manifesto Ruptura (1952), assinado pelos artistas participantes. O Manifesto é distribuído ao público no dia da inauguração e expõe as bases artísticas e políticas do Ruptura. No texto, o grupo defende uma nova arte, que privilegie “todas as experiências que tendem à renovação dos valores essenciais da arte visual (espaço-tempo, movimento e matéria)”. É o começo da produção abstrata no país, em especial, da linguagem construtiva, que ganha destaque entre as gerações mais jovens de artistas. 

Essa nova concepção artística se insinua em 1947, na exposição 19 Pintores, realizada na Galeria paulista Prestes Maia. A mostra conta com participação de obras abstratas de Barros, Charoux e Sacilotto. Destaque-se também a primeira edição da Bienal de São Paulo, em 1951, evento que torna público obras de importantes artistas abstracionistas nacionais e internacionais. Para exemplificar essa abertura para as artes brasileiras, o escultor suíço Max Bill (1908-1994) recebe o primeiro prêmio de escultura por Unidade Tripartida (1951). Feita em aço, a obra explora o conceito do matemático e astrônomo alemão August Ferdinand Möbius (1790-1898), que propõe o desenvolvimento geométrico da forma no espaço.

Os encontros do Ruptura nascem no próprio local da exposição, especificamente, no bar do museu. Sacilotto explicita melhor essa vontade da reunião e o espírito do grupo: “Nós nos encontrávamos desde a exposição, 19 pintores com a vontade de desenvolver alguma coisa nova, de reformular o que a gente vinha fazendo. O Cordeiro escrevia para a Folha da Manhã e trazia muitos assuntos interessantes para o grupo, como arte abstrata, geometrismo, Gestalt [...]”2.

O núcleo inicial do grupo é formado por Cordeiro, Barros e Sacilotto, e amplia-se com o ingresso de Lothar Charoux, Kazmer Féjer (provavelmente em 1949) e Haar (em 1950). Provavelmente em 1951, Cordeiro convida Wladyslaw a participar do grupo depois da exposição do artista na galeria Domus, na capital paulista. O grupo caracteriza-se pela diversidade cultural: Sacilotto e Barros são paulistas; Haar e Wladyslaw, poloneses; Féjer, húngaro; Charoux, austríaco; e, Cordeiro, ítalo-brasileiro.

O Ruptura antecede outros notáveis grupos e compromissos estéticos sediados no Brasil, que têm o abstracionismo como linha de pesquisa, como o Grupo Frente (1954-1956) e o neoconcretismo.

A exposição não possui catálogo, mas é amplamente divulgada pela imprensa. O Manifesto, mais que a exposição, gera duras críticas do meio artístico paulista. O posicionamento do texto contra a arte figurativa é virulento: “É o velho [...] o não-figurativismo hedonista, produto do gosto gratuito, que busca a mera excitação do prazer ou do desprazer”. Essa caracterização é, em certa medida, um golpe inesperado para um meio que privilegia artistas figurativos e que pesquisa temáticas relacionadas ao meio social ou à identidade nacional. Segundo a artista visual Rejane Cintrão e a crítica Ana Paula Nascimento (1973), “Sérgio Milliet (1898-1966) escreveu uma dura crítica ao manifesto realizado pelos artistas, apesar de salientar qualidades nos trabalhos de Geraldo de Barros e Waldemar Cordeiro, no jornal O Estado de S.Paulo3. A crítica é respondida por Cordeiro, no periódico Correio Paulistano.  A resposta do artista traduz o ambiente belicoso que a arte atravessa naquele momento:

O primeiro exemplo reclamado pelo sr. Milliet é o de um artista não figurativo hedonista. Um protótipo do não figurativismo hedonista, produto do gosto gratuito – respondemos – é a pintura do Sr. Cícero Dias. Um exemplo mais perfeito de concepção hedonista da arte abstrata é o do Sr. Sérgio Milliet escrevendo sobre a pintura do sr. Cícero Dias [...]4.

O grande destaque da exposição está no fato de ser a primeira mostra no país em que os artistas organizam-se em torno da discussão, apresentação e celebração da arte concreta no Brasil. Como ressaltam Cintrão e Nascimento:

a partir de sua realização – embora tenha sido divulgada simplesmente como “exposição de arte abstrata” –, a discussão deslocou-se entre abstracionismo (como um tipo de arte em que formas naturais são geometrizadas, às vezes de modo intuitivo) e concretismo (arte que não quer representar nenhum elemento fora de si, ou seja, apenas aqueles intrínsecos à própria obra, como linhas, planos, progressões, modularidade, bidimensionalidade...)5.

Ao longo dos anos 1950, membros do Ruptura expõem juntos em mostras nacionais e internacionais. Após a dissolução do grupo, vários integrantes realizam projetos em áreas como design, paisagismo e arquitetura, estabelecendo vínculo profícuo entre artes plásticas, indústria e sociedade. Um legado importante que perdura na interdisciplinaridade da produção artística contemporânea.

Notas

1 SACRAMENTO, Enock. Sacilotto. São Paulo: edição do autor, 2001. p. 56.
2 MANIFESTO Ruptura, 1952
3 A crítica de Sérgio Milliet, intitulada “Duas exposições”, é publicada no jornal O Estado de S.Paulo, em 13 dez. 1952. p. 6. Cf. CINTRÃO, Rejane; NASCIMENTO, Ana Paula. Grupo Ruptura. São Paulo: Cosac & Naify: Centro Universitário Maria Antônia, 2002. p. 13. 
4 CORDEIRO, Waldemar. Ruptura. Correio Paulistano, São Paulo, 11 jan. 1953. Suplemento, p. 3.
5 CINTRÃO, Rejane; NASCIMENTO, Ana Paula. Grupo Ruptura. São Paulo: Cosac & Naify: Centro Universitário Maria Antônia, 2002. p. 14.

Ficha Técnica

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Fontes de pesquisa 6

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  • AMARAL, Aracy (org.). Arte construtiva no Brasil - Constructive art in Brazil. Tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Companhia Gráfica Melhoramentos: DBA Artes Gráficas, 1998. (Coleção Adolpho Leirner).
  • AMARAL, Aracy (org.). Projeto Construtivo Brasileiro na arte (1950-1962). Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna; São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1977.
  • BARROS, Fabiana de (Org.). Geraldo de Barros: isso. São Paulo: Edições Sesc, 2013.
  • CINTRÃO, Rejane; NASCIMENTO, Ana Paula. Grupo Ruptura. São Paulo: Cosac & Naify; Centro Universitário Maria Antônia da USP, 2002.
  • COCCHIARALE, Fernando; GEIGER, Anna Bella. Abstracionismo geométrico e informal: a vanguarda brasileira nos anos cinquenta. Rio de Janeiro: Funarte, Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1987.
  • SACRAMENTO, Enock. Sacilotto. São Paulo: edição do autor, 2001.

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