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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Diógenes Rebouças

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.01.2024
1914 Brasil / Bahia / Amargosa
1994 Brasil / Bahia / Salvador
Diógenes de Almeida Rebouças (Amargosa, Bahia, 1914 – Salvador, Bahia, 1994). Engenheiro agrônomo, arquiteto, urbanista, pintor, professor. Sua atuação e obra são fundamentais para a afirmação da arquitetura e do urbanismo modernos na Bahia.

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Diógenes de Almeida Rebouças (Amargosa, Bahia, 1914 – Salvador, Bahia, 1994). Engenheiro agrônomo, arquiteto, urbanista, pintor, professor. Sua atuação e obra são fundamentais para a afirmação da arquitetura e do urbanismo modernos na Bahia.

Forma-se em agronomia, em 1933, na Escola Agrícola da Bahia. Entra em contato com o modernismo por meio de revistas de arte e arquitetura. Em 1935, muda-se para Itabuna e concebe a catedral da cidade, sua primeira obra arquitetônica. Empenhado em realizar um projeto atual, que não remetesse aos estilos do passado, Rebouças recorre a revistas, colhendo referências de modernidade que culminam em uma obra que ele próprio reconhece como eclética. Trabalha em obras de tratamento de água e esgoto da cidade, além de ser responsável pelo desenho da avenida Cinquentenário e de vários jardins. Esses projetos chamam a atenção do engenheiro Mário Leal Ferreira (1895-1947), que o convida a projetar os jardins do estádio da Fonte Nova, em Salvador.

Em visita à obra, Rebouças desaprova a implantação do estádio, tanto do ponto de vista econômico quanto paisagístico, e se encarrega, em 1941, do desenvolvimento de um novo projeto, que afinal é concretizado. O mesmo caráter livresco da catedral está presente neste projeto. Em 1942, provavelmente por indicação de Ferreira, ingressa no Escritório do Plano Urbanístico da Cidade do Salvador (Epucs), como responsável pelo setor paisagístico.

O projeto do estádio da Fonte Nova coloca Rebouças em contato com arquitetos cariocas, como Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) e Oscar Niemeyer (1907-2012), com quem mantém um diálogo contínuo que favorece seu amadurecimento como arquiteto. Atua como consultor técnico, entre 1947 e 1952, do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) – atual Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em virtude dos rumos tomados por sua carreira profissional e das limitações impostas pela falta de diploma, ingressa, em 1948, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e se forma em 1952.

Nos projetos desenvolvidos entre os anos 1940 e 1950, é possível perceber a assimilação dos preceitos corbusianos1 e da linguagem carioca – seja no emprego da estrutura independente, na exploração plástica dos brises-soleils ou na sinuosidade e leveza das formas – e, ao mesmo tempo, certa invenção, que garante ao arquiteto originalidade em projetos como o Hotel da Bahia (1947-1951), realizado com Paulo Antunes Ribeiro (1905-1973), e os edifícios Otacílio Gualberto (1953) e Comendador Salvador (1959), construídos em Salvador.

Entre 1958 e 1959, viaja pelos Estados Unidos e Europa conhecendo a obra de arquitetos e engenheiros como o espanhol Felix Candela (1910-1997) e o italiano Pier Luigi Nervi (1891-1979), que se destacam pela invenção de estruturas e coberturas esculturais de concreto armado. Quando retorna a Salvador, é chamado para concluir a obra do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (1947-1956), em que é perceptível o impacto causado por essa viagem. Materialização da proposta de "escolas-classe” e “escolas-parque", idealizadas por Hélio Duarte (1906-1989) com base no projeto pedagógico do educador Anísio Teixeira (1900-1971), o centro é composto de quatro "escolas-classe", que abrigam as salas de aula destinadas ao ensino de ciências e letras, a administração e áreas de estar, e uma "escola-parque", com uma biblioteca infantil e ateliês variados destinados às atividades sociais, artísticas, de trabalho e de educação física2.

Nesse projeto, os edifícios projetados por Rebouças buscam uma integração entre as áreas internas e externas. Destaca-se a biblioteca pela cobertura de concreto plissado, que garante boa iluminação natural, além de ser um teto lúdico que remete a dobraduras de papel. Nesse edifício, a estrutura de concreto armado ganha o peso e a robustez que marcam suas obras a partir da década de 1960, tais como a Escola Politécnica (1960), a primeira estação rodoviária de Salvador (1961), a estação marítima de Salvador (1962) e a Escola de Arquitetura de Salvador (1965) – atualmente Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFABC). Nelas, o princípio de independência estrutural ainda está presente, mas com a diferença fundamental de ter alcançado um destaque tal que a arquitetura é definida pela própria estrutura, com os demais componentes do edifício perdendo expressividade e importância na composição final. Apesar dessa mudança, Rebouças não realiza estruturas contínuas de concreto armado que solidarizam pilares, vigas e vedação, comum entre os arquitetos da época, mantendo-se fiel ao sistema de vigas e pilares independentes.

Nos anos 1980, atua pela segunda vez como consultor do Iphan, de 1983 a 1991, e realiza uma série de intervenções em edifícios históricos, destacando-se a realizada no Solar Berquó (1983-1988), sobrado nobre do fim do século XVII, tombado pelo Sphan em 1938. Em sua intervenção, o arquiteto demole todos os elementos acrescidos à edificação no século XIX, redesenha elementos do século XVIII levantados pela prospecção do edifício e projeta nas áreas de apoio uma intervenção moderna. Tal procedimento revela não só a valorização da arquitetura colonial em detrimento da arquitetura neoclássica e eclética do século XIX, como também um procedimento de intervenção característico dos arquitetos modernos.

Diógenes Rebouças sintetiza em sua trajetória uma das premissas modernistas: produz uma arquitetura nova, modernizando o país, sem esquecer o passado, preservando o patrimônio histórico, e, por isso, é considerado um importante nome da arquitetura brasileira.

Notas

1. Preceitos propostos pelo arquiteto suíço Le Corbusier (1887-1965): pilotis (conjunto de colunas que sustentam uma obra), teto-jardim, janela horizontal, fachada livre e planta livre.

2. TEIXEIRA, Anísio. Centro Educacional Carneiro Ribeiro. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 31, n. 73, p.78-84, jan./mar. 1959. Disponível em: http://www.prossiga.br/anisioteixeira/fran/artigos/cecr.htm. Acesso em: 10 dez. 2007.

Exposições 3

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Fontes de pesquisa 6

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  • ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira. Arquitetura moderna e preexistência edificada: intervenções sobre o patrimônio de Salvador a partir dos anos 1950. Docomomo Brasil. Seção seminários. Disponível em: [http://www.docomomo.org.br/seminario%206%20pdfs/Nivaldo%20Vieira%20de%20Andrade%20Junior.pdf]. Acesso em: 11 dez. 2007.
  • OLIVEIRA, Dênisson (coord.). +100 Artistas Plásticos da Bahia. Salvador: Prova do Artista, 2001. 709.8142 M231
  • REIS, Assis; ALBAN, Naia; NERY, Pedro. Diógenes Rebouças. Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, n.58, pp.55-63, fev./mar, 1995.
  • SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.
  • TEIXEIRA, Anísio. Centro Educacional Carneiro Ribeiro. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.31, n.73, jan./mar. 1959. p.78-84. In: Biblioteca Virtual Anísio Teixeira. Disponível em: [http://www.prossiga.br/anisioteixeira/fran/artigos/cecr.htm]. Acesso em: 10 dez. 2007.
  • UM VISIONÁRIO PARA ALÉM DO CONCRETO. Bahia Invest, Salvador, jun. 2006. Seção Perfil. Disponível em:[http://www.seplan.ba.gov.br/bahiainvest/port/perfil.php?find=versao008]. Acesso em: 11 dez. 2007.

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