Hélio Duarte
Texto
Hélio de Queiroz Duarte (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1906 - São Paulo, São Paulo, 1989). Arquiteto, urbanista, professor. Forma-se arquiteto na Escola Nacional de Belas Artes - Enba em 1930. Em 1932, trabalha com o arquiteto Nestor de Figueiredo, nos planos urbanísticos das cidades do Recife, em Pernambuco e João Pessoa e Cabedelo, na Paraíba. Em 1934, torna-se arquiteto do Banco Hipotecário Lar Brasileiro, sendo transferido para a filial de Salvador em 1936. Dois anos depois é contratado pela Companhia Brasileira Imobiliária e de Construções, que tem papel importante na difusão da arquitetura moderna em Salvador, e, nessa cidade, passa a lecionar na Escola de Belas Artes. Muda-se para São Paulo, em 1944, e estabelece diversas parcerias e sociedades até 1969, quando encerra suas atividades profissionais privadas. Em 1945, participa da organização do 1º Congresso Brasileiro de Arquitetos em São Paulo, sendo primeiro secretário do evento em três anos consecutivos, e é membro dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna - Ciam.
De 1945 a 1947, mantém sociedade com Zenon Lotufo (1911) e Abelardo de Souza (1908 - 1981). Assume direção da Comissão Executiva do Convênio Escolar da Prefeitura de São Paulo, entre 1948 e 1952, coordenando a reorganização do sistema escolar com planejamento e execução de uma rede de escolas e equipamentos conexos, inspirados nos ensinamentos do educador baiano Anísio Teixeira (1900 - 1971), com quem trabalha em Salvador. Ingressa como professor, em 1949, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, onde é um dos primeiros titulares, com livre-docência defendida pela Faculdade Nacional de Arquitetura - FNA do Rio de Janeiro, em 1957, com a tese Espaços Flexíveis, uma Tendência em Arquitetura.
Entre 1950 e 1955, associa-se a Ernst Robert de Carvalho Mange (1922 - 2005). É professor na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo - EESC/USP, entre 1953 e 1955. Chefia o Escritório de Engenharia e Arquitetura da Comissão da Cidade Universitária de São Paulo, de 1955 a 1959, e estabelece, entre 1961 e 1966, sociedade com José Roberto Goulart Tibau (1924 - 2003), Lucio Grinover (1936) e Marlene Picarelli (1935). Preside a Comissão Organizadora da Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará - UFCE, em 1965, e leciona na Universidade de Brasília - UnB, em 1967.
A partir de 1969 dedica-se integralmente à FAU/USP, organiza, em 1970, o primeiro programa de pós-graduação em arquitetura do Brasil, e cria no ano seguinte, o Trabalho de Graduação Interdisciplinar - TGI, requisito obrigatório para a conclusão do curso de arquitetura na FAU/USP.
Análise
Formado no Rio de Janeiro, radicado em Salvador e posteriormente em São Paulo, e trabalhando em quase todo o território nacional, Hélio Duarte marca a história da arquitetura moderna brasileira mais por suas iniciativas, tanto no campo institucional como no do ensino, do que por seus projetos individuais.
Sua atividade profissional se inicia, como muitos de seus contemporâneos formados na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1931, seguindo os preceitos da arquitetura eclética que então se pratica. Em 1934, é contratado como arquiteto do Banco Hipotecário Lar Brasileiro, que dois anos depois o transfere para Salvador. É como arquiteto-chefe da Companhia Brasileira Imobiliária e de Construções que Duarte começa a projetar dentro dos princípios da nova arquitetura, como atesta o Edifício Bráulio Xavier, 1939. Ao ser transferido para São Paulo, em 1944, inicia outra fase. Associa-se no ano seguinte a Zenon Lotufo (1911) e a Abelardo de Souza (1908 - 1981) e, completamente imerso nos preceitos da arquitetura moderna, desenvolve projetos como a sede da Associação Baiana de Imprensa, 1948 e a sede paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil, 1947.
Em Salvador, é o responsável por traduzir espacialmente as idéias esboçadas pelo educador baiano Anísio Teixeira (1900 - 1971) no plano teórico, desenvolvendo as "escolas-classe e escolas-parque" no plano geral do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, cujos edifícios são projetados por Diógenes Rebouças (1914 - 1994) em 1950. É essa experiência que o habilita a coordenar o convênio firmado entre prefeitura e Estado para dotar São Paulo de uma série de escolas e equipamentos conexos, como ginásios, parques infantis, teatros populares e bibliotecas públicas. Recém-egresso de uma experiência de educação progressista ao lado de Teixeira, ele é convidado a dirigir o escritório técnico da Comissão Executiva do Convênio Escolar em São Paulo. É nesse programa que Duarte encontra sua vocação maior: atuar na relação entre arquitetura e ensino.
Duarte propõe formas generosas e luminosas, que incorporam os jardins, como meio de estimular o desenvolvimento intelectual e físico da criança. O edifício escolar passa a ser pensado como o equipamento urbano aglutinador da comunidade local, ao mesmo tempo que é o pólo irradiador de experiências. A separação dos programas de ensino e administração em dois blocos conectados por circulação externa, a utilização de elementos recorrentes - como pérgulas e marquises apoiadas em pilares de ferro em V, telhas de fibrocimento cobrindo os volumes com telhados em asa de borboleta, a forma abobadada do galpão de recreação infantil, obtida com arcos de concreto armado pré-moldados, na maioria dos projetos, notadamente na E.E. Pandiá Calógeras, 1949, e na E.E. Visconde de Taunay, 1949, de sua autoria -, ajudam a dar mais graça e leveza aos projetos bem como torná-los reconhecíveis na paisagem.
Se a experiência pedagógica desenvolvida não corresponde aos anseios de renovação esperados, ao menos os edifícios têm o papel de introduzir uma nova espacialidade no ambiente de ensino. Das escolas sisudas e hierarquizadas, simétricas e imponentes da República Velha, passa-se aos espaços fluidos da nova arquitetura. Os quase 600 edifícios construídos - projetados por Duarte e por, Eduardo Corona (1924 - 2003), José Roberto Tibau (1924 - 2003), Oswaldo Corrêa Gonçalves (1917 - 2005) e Ernst Robert de Carvalho Mange (1922 - 2005), entre outros - difundem a arquitetura moderna em São Paulo, pela primeira vez patrocinada pelo poder público. Como explicita o crítico Guilherme Wisnik, valendo-se da precisa definição do historiador Hugo Segawa, Duarte se torna "mensageiro e portador, em São Paulo, de dois importantes legados recentes no Brasil: a arquitetura moderna carioca - de herança corbusiana e, àquela altura, já reconhecida mundialmente sob a alcunha de brazilian style - e o projeto pedagógico de Anísio Teixeira, pioneiro defensor de uma escola pública, laica e gratuita no Brasil". Nomeado presidente da subcomissão de Planejamento Escolar em 1950, Duarte se afasta do programa dois anos depois.
A relação entre arquitetura moderna e educação tem continuidade nas diversas escolas profissionalizantes do Serviço Nacional da Indústria - Senai, em São Paulo, que projeta com o sócio Ernst Mange, entre elas, a Escola Técnica Anchieta e a Escola Têxtil Central, de 1952. No mesmo período, desenvolve planos urbanísticos e de arquitetura para diversos campi universitários, ainda que poucos dos projetos tenham sido efetivamente implementados. Na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo - EESC/USP, 1952, por exemplo, além do desenho do campus, apenas o edifício principal - uma refinada proposta de arquitetura flexível e industrializada - é construído. Também do projeto para a Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, 1955, apenas o sistema viário e o zoneamento são aproveitados - evidenciando sua filiação aos preceitos urbanísticos dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna - Ciam. Esses exemplos se somam às experiências nos campi de São Paulo, 1955/1959, São Bernardo, 1962, Fortaleza, 1965, e Ilha Solteira, 1976.
A atividade como docente é também bastante profícua. Como professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, é responsável por ações importantes que definem o ensino dali para a frente, como a criação do primeiro programa de pós-graduação em arquitetura do Brasil, a orientação da primeira geração de doutores da FAU/USP, a partir de 1970, e a instituição, em 1971, do Trabalho de Graduação Interdisciplinar - TGI, para o último ano do curso, incorporado ao currículo mínimo de arquitetura e urbanismo do Ministério de Educação e Cultura - MEC.
Exposições 2
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19/4/1951 - 19/5/1951
Fontes de pesquisa 6
- DUARTE, Hélio. Escola classe escola parque, uma experiência educacional. São Paulo: FAU USP, 1973.
- DUARTE, Hélio. Hélio Duarte (1906-1989): moderno e peregrino. Projeto, São Paulo, n. 131, p.51, abr./mai. 1990.
- DUARTE, Hélio. O problema escolar e a arquitetura. Habitat, São Paulo, n. 4, pp.5-6, set./dez. 1951.
- FERREIRA Avany de Francisco; MELLO, e Mirela Geiger (org.). Arquitetura escolar paulista: anos 1950 e 1960. São Paulo: FDE, 2006.
- SANTOS, Luciene Ribeiro dos. Os professores de projeto da FAU-USP (1948-2018): esboços para a construção de um centro de memória. 478f. 2018. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2018. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16134/tde-18092018-163855/publico/MElucieneribeirodossantos_rev.pdf. Acesso em: 21 nov. 2020.
- SEGAWA, Hugo. Moderno, peregrino, educador - Documento Hélio Duarte. Arquitetura & Urbanismo, São Paulo, n. 80, pp.59-64, out./nov., 1998.
Como citar
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HÉLIO Duarte.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa211708/helio-duarte. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7