Antonio Henrique Amaral
![O Apetite, 1967 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000209040019.jpg)
O Apetite, 1967
Antonio Henrique Amaral
Xilogravura
70,50 cm x 45,00 cm
Texto
Antonio Henrique Abreu Amaral (São Paulo, São Paulo, 1935 – Idem, 2015). Pintor, gravador, desenhista. Conhecido principalmente pela série de pinturas em torno das Bananas, realizada de 1968 até 1975, Antonio Henrique Amaral tem uma obra diversa. Por meio principalmente da pintura, desenho e gravura, seus trabalhos dialogam com a cultura contemporânea, ora se aproximando do surrealismo, da arte pop, ora das questões políticas e sociais.
Inicia sua formação artística na escola do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), com Roberto Sambonet (1924-1995), em 1952. Em 1956, estuda gravura com Lívio Abramo (1903-1992) no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). O aprendizado com o gravurista é fundamental para sua formação artística, pois ensina a impor disciplina a seu traço. Do mestre, retém apenas a técnica. Seu estilo, que já apresenta considerável veia surrealista, é inspirado em artistas como o chileno Roberto Matta (1911-2002), o suíço Paul Klee (1879-1940), o espanhol Joan Miró (1893-1983), entre outros, de quem absorve o equilíbrio entre o automatismo psíquico e o rigor formal.
Em 1958, viaja para a Argentina e o Chile, onde realiza exposições e entra em contato com o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973). Viaja para os Estados Unidos em 1959, estudando gravura no Pratt Graphics Center, em Nova York. Voltando ao Brasil em 1960, trabalha como assistente na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, e conhece Ivan Serpa (1923-1973), Candido Portinari (1903-1962), Antonio Bandeira (1922-1967), Djanira (1914-1979) e Oswaldo Goeldi (1895-1961). Paralelamente à carreira artística, atua como redator publicitário.
Mudanças de ordem política e cultural marcam seu trabalho na segunda metade da década 1960, que começa a incorporar elementos da gravura popular e a figuração extraída da cultura de massa, como a publicidade e o graffiti. Violência, sexo e política são temas tratados no uso recorrente de imagens de generais e bocas. Desse período, destaca-se o álbum de sete xilogravuras coloridas da série O meu e o seu (1967), com apresentação e texto de Ferreira Gullar (1930-2016) e capa de Ruben Martins (1929-1968), no qual revela de forma sintética a questão da internalização do autoritarismo. Passa a se dedicar predominantemente à pintura. Em 1971, recebe o prêmio viagem ao exterior do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro e viaja para Nova York. Retorna ao Brasil em 1981.
A busca por símbolos que remetam a uma situação, e cujos sentidos são construídos e reiterados no decorrer de suas aparições, é algo constante na produção de Amaral. Se de início elege as bocas e a figura do general, presentes também em suas primeiras pinturas de meados dos anos 1960, é na representação da banana, ou por meio dela, que o artista consegue concentrar toda sua insatisfação com o momento histórico. Índice às avessas de uma identidade nacional, a figura da banana é trabalhada em diversas situações: solitária e em cachos, transpassadas por cordas, facas ou garfos, maduras, verdes ou apodrecidas. Como metáfora, a banana se refere tanto à ditadura militar quanto à posição do Brasil no conjunto dos países democráticos. Refere-se ao "ser" brasileiro no momento em que está em voga o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o", ao mesmo tempo em que retoma uma tradição moderna de representação do caráter nacional que se inicia com a bananeira em Tropical (1917), de Anita Malfatti (1889-1964), passando pela pintura A negra (1923), de Tarsila do Amaral (1886-1973), e Bananal (1927), de Lasar Segall (1889-1957). Em seu "hiper-realismo" quase fantástico, com enquadramentos fotográficos e abuso de cortes transversais e close-up, Amaral retoma também uma determinada tradição da pintura de natureza-morta de nomes como o artista holandês Alberto Eckhout (ca.1610-ca.1666) e o mexicano Rufino Tamayo (1899-1991).
Em rotação, tais signos adquirem "novos significados em função do encadeamento de fases e épocas de sua pintura e do relacionamento de sua obra com a realidade do país e do mundo"1. Com o passar dos anos, Antonio Henrique Amaral lança mão de outras figuras-símbolo em sua pintura, criando séries com base no garfo, no bambu, em seios enormes e torsos, na mata e urbe estilizadas.
Antônio Henrique Amaral desenvolve prolífica obra, sempre atento às transformações do seu tempo e estando aberto para dialogar e criar com inúmeras manifestações artísticas que marcam intensamente as inovações que acontecem no século XX.
Notas
1. SULLIVAN, Edward J.; MORAIS, Frederico; MILLIET, Maria Alice. Antonio Henrique Amaral: obra em processo. São Paulo: DBA, 1997. p. 57.
Obras 74
A Ameaça, Fase I
A Casa de Macunaíma II
A Folha
A Grande Mensagem
A Mesma Língua
Exposições 396
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 23
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
- AMARAL, Antonio Henrique. Amazônia "a mata". São Paulo: Galeria do Memorial, 1992. [16 p.].
- AMARAL, Antonio Henrique. Antonio H. Amaral: recent painting. [S.l.]: Elite Fine Art, 1989. [22] p.
- AMARAL, Antonio Henrique. Antonio Henrique Amaral. Tradução Noemi Jaffe Cartum. São Paulo: MAM, 1994.
- AMARAL, Antonio Henrique. Antonio Henrique Amaral: obra em processo: 1956- 1986. Curadoria e apresentação Pieter Th. Tjabbes; texto Frederico Morais. São Paulo: MAM, 1986. 61 p.
- AMARAL, Antonio Henrique. Antonio Henrique Amaral: pinturas 1968 - 1985. Rio de Janeiro: Paço Imperial, 1985. [39] p.
- AMARAL, Antonio Henrique. Antônio Henrique Amaral. São Paulo: Galeria Alberto Bonfiglioli, 1979. [10] p.
- AMARAL, Antonio Henrique. Caminhos de ontem 1957/1982, trabalhos de hoje 1982/1983. São Paulo: Galeria Alberto Bonfiglioli, 1983. [38] p.
- AMARAL, Antonio Henrique. Da gravura à pintura. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1997. 50 p.
- AMARAL, Antonio Henrique. Obra recente. Tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: MASP, 1997. 48 p.
- AMARAL, Antonio Henrique. Pinturas, 2001/ 2002. Tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Galeria Nara Roesler, 2002. [20] p.
- ARTE e artistas plásticos no Brasil 2000. São Paulo: Meta, 2000.
- ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
- ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 709.81 A163ar v.1
- ASSIS, Célia de (coord.). O Brasil na visão do artista: a natureza e as artes plásticas. Edição Lizete Mercadante Machado; versão em inglês Izabel Murat Burbridge, Marcos Piason Natali. São Paulo: Prêmio, 2001. 127 p.
- CARIBÉ, Sergio (Coord.). 8 artistas brasileiros. Versão em inglês Paulo Chagas de Souza. São Paulo: Galeria Sergio Caribé, 1999.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
- DUARTE, Paulo Sérgio. Anos 60: transformações da arte no Brasil. Rio de Janeiro: Lech, 1998.
- GRAVURA: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000.
- LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
- MOLINA, Camila. Morre o artista famoso pela série das "Bananas". O Estado de S. Paulo, São Paulo, 25 abr. 2015. Caderno 2, C6.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
- SULLIVAN, Edward J. ; MILLIET, Maria Alice. Obra em processo: Antonio Henrique Amaral. Roteiro Frederico Morais. São Paulo: DBA, 1996. 324 p.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ANTONIO Henrique Amaral.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa8581/antonio-henrique-amaral. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7