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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Roberto Sambonet

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.04.2024
20.10.1924 Itália / Piemonte / Vercelli
1995 Itália / Lombardia / Milão
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Figuras
Roberto Sambonet
Óleo sobre tela, c.i.e.

Roberto Sambonet (Vercelli, Itália 1922 – Milão, Itália 1995). Pintor, retratista e designer. Proveniente de família de industriais da área metalúrgica. No liceu, frequenta a Accademia Belle Arti di Brera. Em 1942, começa um curso de arquitetura no Politécnico de Milão, que abandona um ano depois devido a 2ª Guerra Mundial.  Em 1946, tem aulas d...

Texto

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Roberto Sambonet (Vercelli, Itália 1922 – Milão, Itália 1995). Pintor, retratista e designer. Proveniente de família de industriais da área metalúrgica. No liceu, frequenta a Accademia Belle Arti di Brera. Em 1942, começa um curso de arquitetura no Politécnico de Milão, que abandona um ano depois devido a 2ª Guerra Mundial.  Em 1946, tem aulas de afresco na Accademia Carrara Di Belle Arti, em Bérgamo, com Achille Funi (1890-1972). Entre 1946 e 1949, expõe suas pinturas em Milão, Estocolmo e Veneza. Em 1947, viaja para Paris. De volta à Itália, convive e expõe com artistas do grupo Pittura, influenciados pela pintura do espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e ligados a movimentos de resistência ao fascismo. Em 1949, viaja ao Brasil com a esposa. Em São Paulo, conhece o marchand italiano Pietro Maria Bardi (1900-1999) e a arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992). Bardi interessa-se por suas telas feitas na praia de Massaguassu e organiza exposição individual, apresentada em 1949 no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Em 1951, faz o cartaz convite ao Masp, recém-inaugurado. No ano seguinte, produz os desenhos e o cartaz para o primeiro desfile de moda brasileira, do qual também participa Luiza Sambonet, sua esposa, que na mesma época publica o artigo “Uma Moda Brasileira” na revista Habitat. Monta vitrines da loja de departamentos Mappin e desenha estampas para roupas brasileiras. Entre 1951 e 1953 é professor de desenho e pintura no Instituto de Arte Contemporânea (IAC) do Masp.

Em 1951, consegue a autorização do amigo psiquiatra Edu Machado Gomes para fazer uma série de desenhos no hospital psiquiátrico Juqueri, localizado em Franco da Rocha, São Paulo. O conjunto de desenhos forma a série intitulada Loucura.

Em 1953 volta à Itália e torna-se consultor da loja de departamentos La Rinascente, para a qual viaja pelo mundo em busca de objetos de culturas diversas para exposições da empresa. Nesse ano, conhece o escultor romeno Constantin Brancusi (1876-1957) e o arquiteto finlandês Hugo Alvar Henrik Aalto (1898-1976). Em 1954, trabalha como designer gráfico e de produto e como diretor de arte na indústria metalúrgica da família. Em 1971, desenha peças da fábrica de cristais Baccarat. Em 1972, colabora com a Bengt & Gröndhal, fábrica de porcelanas de Copenhagem. O trabalho como designer não atrapalha o ofício de pintor e retratista. Assim como muitos de seus retratos são das décadas de 1960 e 1970, suas pinturas de paisagens o acompanham até o fim da vida.

 

Análise

Os depoimentos e textos sobre Roberto Sambonet costumam atribuir-lhe diversos ofícios: pintor, retratista, designer industrial, designer gráfico e viajante. Sua trajetória é marcada por essa diversidade de atividades, que convivem no trabalho do artista. As experiências de Sambonet, em suas viagens pelo Mediterrâneo ou pelo Brasil, revelam o colecionador que cataloga as formas e cores que encontra. Elas aparecem em seus trabalhos de pintura e design, refletindo a capacidade do artista de não separar as artes plásticas do desenho industrial.

Embora de família dona de indústria metalúrgica em Vercelli, a atividade de Sambonet como designer de objetos só acontece a partir de sua volta à Itália, em 1953. Quando chega ao Brasil, em 1949, Sambonet é influenciado por vanguardas europeias. Além da proximidade com o grupo Pittura, cuja influência maior é do pintor espanhol Pablo Picasso, Sambonet também tem influência do francês Georges Braque (1882-1963) e do holandês Piet Mondrian (1872-1944). Nos registros da paisagem e da cultura brasileira, as formas são representadas com traços geométricos, que buscam apreender a estrutura de cada objeto particular.

A atmosfera encontrada em São Paulo no ano de chegada do artista é de efervescência cultural. O fundador do Masp, Pietro Maria Bardi, inspirado pela escola alemã Bauhaus, deseja criar cursos para profissionais da indústria cuja formação passe pelo conhecimento de diversas artes. Nos primeiros anos do Museu, é criado o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), tentativa de realizar essa formação dos profissionais. Roberto Sambonet leciona desenho aos alunos. Embora a duração do IAC seja curta (documentos indicam que ele existiu entre 1951 e 1955), o Instituto tem no corpo discente expoentes do design brasileiro como Emilie Chamie (1927-2000), Alexandre Wollner (1928-2018) e Ludovico Martino (1933-2011). No Masp, a amizade com Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi permite que Sambonet conheça os arquitetos Oscar Niemeyer (1907-2012) e Lucio Costa (1902-1998), o paisagista Burle Max (1909-1994) e outras figuras do modernismo brasileiro.

Pouco tempo depois do trabalho de Massaguassu, conjunto de telas feitas em 1949 em praia homônima do município de Caraguatatuba, Sambonet faz cartazes para o Museu de Arte de São Paulo (Masp), recém-inaugurado. No cartaz-convite ao museu, feito em 1951, o artista constrói formas da natureza feitas com “as sutilezas do grafismo de linhas pretas traçadas à mão”1. No mesmo ano, é realizado o primeiro desfile de moda brasileira no Masp, para o qual Sambonet faz estampas para os vestidos e sapatos, desenhos e o convite para o desfile. O evento de moda insere-se no projeto que Bardi tem ao fundar o Masp e o IAC: a produção de tecidos nacionais e o trabalho em lojas de departamento como o Mappin em busca da criação de uma moda brasileira. Ao escrever sobre Sambonet no catálogo da exposição do artista realizada em 1974 no Masp, Bardi descreve-o como “um dos elementos em dia com a atualização do ensino de ideias, técnicas, aspirações (...) daquela antiga situação do Museu”2.

Paralelamente às atividades realizadas no Masp, Sambonet faz 70 desenhos da série Loucura. Convidado pelo diretor do hospital psiquiátrico Juqueri, localizado em Franco da Rocha, Sambonet observa 15 mil pacientes durante seis meses.

É com essa capacidade de unir diversos ofícios que Sambonet trabalha nas fábricas europeias após seu retorno à Itália. Em 1953, torna-se consultor da La Rinascente, empresa que contrata designers importantes, como Tomás Maldonado (1922). Seu trabalho envolve viagens pelo mundo, nas quais reúne objetos de diversas culturas. Data desse ano o encontro com o finlandês Alvar Aalto, arquiteto que o influencia, apresentado a Sambonet pelo finlandês Göran Schildt (1917-2009), amigo e companheiro de viagens. Em 1954, torna-se designer de produtos e diretor de arte da indústria de sua família, na qual projeta objetos como os talheres de aço escovado para piquenique, em 1965, e os talheres de aço polido, em 1973. Na década de 1970, é colaborador das fábricas de cristais Baccarat, para a qual desenha copos, vasos e objetos de decoração. Em 1971, desenha cinzeiros de metal para a Fiat. Em 1977, colabora para a fábrica de porcelanas Bengt & Gröndhal.

O envolvimento de Sambonet com a indústria não esgota sua atividade de desenhista e pintor. Há uma série de retratos de seus amigos feitos entre as décadas de 1960 e 1990, como o do arquiteto Ettore Sottsass (1917-2007) (colagem sobre cartão), em 1983, e o de Aldo Rossi (1931-1997) (lápis e aquarela sobre papel), em 1992. Além disso, há a série de aquarelas que registram a viagem de Sambonet pelo rio Amazonas, em 1983. Nos pratos, talheres, copos e outros objetos produzidos pela indústria, Sambonet alia a racionalidade do desenho à multiplicidade das formas que observa na natureza. Já nos desenhos, muitas vezes retratos de amigos e pessoas conhecidas, o artista preserva linhas geométricas. Ao falar sobre a produção industrial, Sambonet afirma: “O objeto é objeto de um sujeito que é o homem. A indústria é uma ferramenta”3.

 

 

Notas

1. MELO, Chico Homem de. 1960-1969. In: MELO, Chico Homem de. Linha do tempo do design gráfico no Brasil. São Paulo: Cosac & Naify, 2011. p. 262.

2. MUSEU de Arte de São Paulo. Roberto Sambonet: Ricerca e stmtture 49-74 [catálogo da exposição]. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1974.

3.  Roberto Sambonet: do Brasil ao Design [catálogo da exposição]. São Paulo, Museu da Casa Brasileira, 2009. p.  5.

Obras 1

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Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Figuras

Óleo sobre tela

Exposições 7

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Fontes de pesquisa 6

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
  • MELO, Chico H. de. Linha do tempo do design gráfico no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
  • MUSEU de Arte de São Paulo. Apresentação João Vicente Salgueiro; comentário Pietro Maria Bardi. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1981. 193 p., il. (Museus brasileiros, 3).
  • PEDRO, Caroline Gabriel. O Brasil de Roberto Sambonet. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
  • SAMBONET. Roberto Sambonet - Do Brasil ao design. curadoria Enrico Morteo, Fábio Magalhães. São Paulo, SP: Museu da Casa Brasileira, 2009.

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