Instituto de Arte Contemporânea do Masp
Texto
O Instituto de Arte Contemporânea (IAC) do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) é uma das primeiras iniciativas no campo do ensino de desenho industrial no Brasil.1 Idealizado e coordenado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) e por Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor do Masp, é inaugurado em março de 1951 e encerra as atividades no fim de 1953. Seu objetivo é preparar profissionais para atuar na emergente indústria nacional. Segundo o folheto de divulgação do IAC, provavelmente redigido por Lina Bo Bardi, a escola visa "[...] formar jovens que se dediquem à arte industrial e se mostrem capazes de desenhar objetos nos quais o gosto e a racionalidade das formas correspondam ao progresso e à mentalidade atualizada".2
Desde sua fundação, em 1947, o Masp promove palestras, cursos e exposições com a finalidade de preparar o público para a apreciação da arte contemporânea. Em 1950, o museu lança a revista Habitat, que, com a direção de Lina Bo Bardi, se torna um importante veículo de divulgação de uma estética moderna de viés funcionalista. Além de mostras didáticas com reproduções fotográficas e textos explicativos sobre a história da arte ocidental, o Masp realiza individuais de artistas como Alexandre Calder (1898-1976), em 1948, Le Corbusier (1887-1965), em 1950, Paul Klee (1879-1940) e Max Bill (1908-1994), em 1951, entre outros. A exposição retrospectiva do designer e arquiteto suíço Max Bill - um marco histórico no processo de divulgação da arte concreta no Brasil - é realizada junto com a abertura do IAC. Sua produção artística é uma referência fundamental para professores e alunos do curso do Masp, entre os quais estão artistas ligados ao movimento concretista paulista como Alexandre Wollner (1928), Maurício Nogueira Lima (1930-1999) e Antônio Maluf (1926-2005).
Segundo Jacob Ruchti (1917-1974), arquiteto e docente do IAC, em artigo publicado na Habitat em 1951, o IAC representa as idéias da Bauhaus no Brasil, pois segue o modelo do Institute of Design [Instituto de Design] em Chicago, conhecido nos Estados Unidos por dar continuidade aos métodos pedagógicos da escola de Dessau, Alemanha. No texto, Ruchti procura esclarecer as atribuições sociais do desenhista industrial, visto por ele como um dos profissionais mais importantes do século XX, e enfatiza a relevância do curso do IAC para uma cidade como São Paulo, epicentro do processo de industrialização pelo qual passa o país.3 De acordo com a pesquisadora Ethel Leon, o discurso criado em torno do IAC - veiculado sobretudo nos jornais dos Diários Associados, empresa de comunicação do jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968), fundador do Masp, e na Habitat - tenta conciliar uma visão utópica baseada na experiência européia da Bauhaus a uma visão pragmática, calcada nas necessidades de expansão capitalista da indústria, tendo como parâmetro o design norte-americano do pós-guerra.4
O folheto de divulgação do IAC solicita a colaboração da indústria para a circulação de idéias estéticas novas, compatíveis com a era da máquina.5 Nos textos da época, o desenho industrial é considerado uma possibilidade de realizar objetos de arte para milhões de pessoas. Além disso, o arquiteto e o desenhista industrial têm o compromisso de educar o gosto das massas, pois são responsáveis pela cultura visual das sociedades modernas.
Pietro Maria Bardi, Lina Bo Bardi, Oswaldo Bratke (1907-1997), Roberto Sambonet (1924-1995), Jacob Ruchti, Roger Bastide (1898-1974), Leopold Haar (1910-1954) e Flávio Motta (1923), entre outros, integram o corpo docente do IAC. Além dos cursos regulares, o instituto oferece palestras e oficinas temporárias com professores e artistas visitantes. O primeiro ano compreende disciplinas básicas obrigatórias divididas em três áreas: 1. Teoria e Estudo da Forma (matemática, perspectiva, desenho livre e composição); 2. Conhecimento dos Materiais, Métodos e Máquinas (materiais, técnicas de trabalho e métodos de produção); 3. Elementos Culturais (elementos de arquitetura, história da arte, psicologia e sociologia). No segundo ano, o aluno opta por cursos especializados em áreas de sua preferência: 1. Produção de Equipamentos (metal, cerâmica, têxtil, madeira, outros materiais) ou 2. Comunicações Visuais (fotocine e gráfica).6 O terceiro ano compõe-se de cursos complementares facultativos. No quarto ano, os estudantes devem desenvolver projetos individuais. No entanto, a escola encerra suas atividades no fim do terceiro ano.
Apesar de a capital paulista viver um processo até então inédito de crescimento urbano e industrial no segundo pós-guerra, uma das hipóteses para a curta duração do IAC está no fato de não existir um campo de trabalho consolidado para o desenhista industrial. Pietro Maria Bardi não consegue que os estudantes do IAC estagiem nas empresas sediadas em São Paulo. A assimilação de profissionais voltados para o desenho de produtos exige mais comprometimento dos industriais, pois requer grandes investimentos no setor produtivo, o que não ocorre. Nos anos 1950, o design no Brasil desenvolve-se com mais intensidade no setor gráfico e não na área de desenho de mercadorias.
Ainda assim, no IAC estudam artistas que se tornam importantes nomes do design nacional, como Alexandre Wollner, Maurício Nogueira Lima e Antônio Maluf, além de Emilie Chamie (1927-2000) e Estella Aronis. A importância da escola de design do Masp está no fato de ter implantado conteúdos e procedimentos didáticos que antecipam a introdução de disciplinas de desenho industrial na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), em 1962, e também na fundação da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), no Rio de Janeiro, em 1963.
Notas
1 Em sua dissertação de mestrado IAC. Instituto de Arte Contemporânea: Escola de Desenho Industrial do Masp (1951-1953). Primeiros estudos, a pesquisadora Ethel Leon menciona pesquisas sobre o curso de artes gráficas da Fundação Getúlio Vargas criado pelo artista Santa Rosa (1909-1956), nos anos 1940. Ver: LEON, Ethel. IAC. Instituto de Arte Contemporânea: Escola de Desenho Industrial do MASP (1951-1953). Primeiros estudos. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2006. Dissertação (Mestrado - Área de concentração: História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo), p. 11 e p. 137.
2 FOLHETO de divulgação do Instituto de Arte Contemporânea do Museu de Arte de São Paulo, 1950.
3 RUCHTI, Jacob. Instituto de Arte Contemporânea. Habitat. São Paulo, n. 3, 1951, p. 62.
4 LEON, Ethel. opus cit.
5 Instalação do "Instituto de Arte Contemporânea". O belo a serviço da indústria - fundamentos do desenho. Diário da Noite, São Paulo, 8 fev. 1951.
6 De acordo com o folheto de divulgação do IAC.
Fontes de pesquisa 7
- ANÔNIMO. Folheto de divulgação do Instituto de Arte Contemporânea do Museu de Arte de São Paulo, 1950.
- ANÔNIMO. Instalação do "Instituto de Arte Contemporânea". o belo a serviço da indústria - fundamentos do desenho. Diário da Noite, São Paulo, 8 fev. 1951.
- ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. Metrópole e Cultura: São Paulo no meio do século XX. Bauru: EDUSC, 2001.
- BARDI, Pietro Maria. Excursão ao território do design. São Paulo: Banco Sudameris Brasil S. A., 1986. 120 p., il. p&b, color.
- LEON, Ethel. IAC. Instituto de Arte Contemporânea: Escola de Desenho Industrial do MASP (1951-1953). Primeiros estudos. 2006. Dissertação (Mestrado - Área de concentração: História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, São Paulo, 2006.
- RUCHTI, Jacob. Instituto de Arte Contemporânea. Habitat. São Paulo, n. 3, 1951, p. 62.
- WOLLNER, Alexandre. Design visual 50 anos. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
Como citar
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INSTITUTO de Arte Contemporânea do Masp.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao468881/instituto-de-arte-contemporanea-do-masp. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7