Emilie Chamie
![Cartaz do filme Um Céu de Estrelas, 1996 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2023/09/01_72741.jpg)
Cartaz do filme Um Céu de Estrelas, 1996
Emilie Chamie
61,00 cm x 90,00 cm
Cinemateca Brasileira
Texto
Emilie Chamie (Beirute, Líbano 1927 - São Paulo SP 2000). Artista gráfica. De 1951 a 1953, estuda no Instituto de Arte Contemporânea - IAC do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, onde é aluna de Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi, de Roger Bastide, Flávio Motta e Leopold Haar, entre outros. Sua habilitação é em comunicação visual. A partir de 1963, integra o escritório forminform, fundado por Alexandre Wollner, Geraldo de Barros, Walter Macedo e Ruben Martins, com quem Emilie trabalha mais diretamente. Participa da Semana de Arte Mundial da Vanguarda, na galeria Riquelme, Paris, em 1965. No ano seguinte, apresenta trabalhos na Mostra de Arte de Vanguarda, em Arlington, Estados Unidos, e na Exposição de Arte Internacional, galeria Luana Mordó, Madri. Em 1973, seu trabalho é apresentado em Bruxelas, Bélgica, por Pietro Maria Bardi, na mostra Imagem do Brasil. Um ano depois, faz sua primeira individual no Masp: Vinte Anos de Trabalhos Gráficos e Fotográficos, que ganha o prêmio de melhor exposição da Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA. Em 1978, Emilie é considerada pela APCA a melhor artista gráfica do ano, pelo design do livro Mitopoemas Yãnomam. Em 1982, participa da exposição O Design no Brasil - História e Realidade, do Sesc São Paulo, e recebe o prêmio da APCA de melhor concepção de livro, por Teatro Municipal 70. O espetáculo de dança Bolero, de sua autoria, é premiado pela mesma associação em 1983. Entre os projetos que desenvolve estão a identidade visual para o Teatro Brasileiro de Comédia - TBC e para o Centro Cultural São Paulo - CCSP, além de livros e cartazes, como os do 4º e 16º Salão Paulista de Arte Moderna. Em 2000, pouco antes de falecer, organiza e publica o livro, sobre sua obra, Rigor e Paixão: poética visual de uma arte gráfica.
Análise
Formada no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), do Masp, primeiro curso de desenho industrial do país, Emilie Chamie faz parte da geração de designers dos anos 1950 que revoluciona - na verdade, praticamente inaugura - a atividade no Brasil. A finalidade do IAC era pensar o design de acordo com a realidade brasileira.
Segundo Pietro Maria Bardi (1900 - 1999), Emilie realiza essa síntese entre o design e o contexto nacional. Ele considera que ela se distingue "(...) por sua posição de independência. Não é afiliadora do purismo suíço que nos trópicos é desambientado; procura uma comunicação corretamente atual, porém saborosa de inventiva, enraizada no espírito da terra (...)"1. Um exemplo em que a junção dessas vertentes fica patente é o trabalho que faz para o Centro Cultural São Paulo (CCSP), de 1982. Baseando-se na arquitetura moderna do edifício, com estruturas vergadas aparentes, Chamie cria um logotipo que acentua as características arquitetônicas da construção.
Sua origem árabe deve ser levada em conta para compreender seu trabalho, pois justifica a importância da letra e o distanciamento do purismo geométrico. Chamie enfatiza a legibilidade do trabalho e vê sua atividade como comunicação visual. No livro Rigor e Paixão: Poética Visual de uma Arte Gráfica, ela mostra o caminho que percorre entre o elemento mínimo e o resultado final, no qual consegue unir as duas características: rigor e paixão. O elemento mínimo é a letra. Alguns dos projetos se baseiam exclusivamente nela. É o caso das capas e diagramações para os livros da editora Praxis, que publica poetas da geração de 1945 a 1950, da qual faz parte Mário Chamie, marido de Emilie. A artista descreve as características do projeto: "(...) 1) Utilização do tipo (letra) como principal elemento de linguagem. 2) Organização dos elementos (tipologias) para configurar/visualizar o enunciado do livro (título)"2. No livro A Fala e a Forma, o título, repetido várias vezes, forma um círculo, quase uma esfera. Outro exemplo é o projeto de cartão de final de ano da Olivetti, de 1969, em que o papel vegetal e a sobreposição de letras remetem à maquina de escrever.
O próximo passo em sua criação, segundo a artista, é a forma. Aqui, localiza a já mencionada marca do CCSP, mas também a do TBC, de 1981. Parte da ideia de que o teatro não é produto, mas sim produtor de algo. Cria então uma marca contida num círculo - forma contínua que se autoproduz -, que se desdobra nas iniciais TBC. A leitura não se faz apenas na parte positiva, mas também no vazio deixado pelo traço. É simples e compreensível.
A etapa seguinte é a imagem. Um dos exemplos que Chamie dá desse estágio são as fotografias que expõe em 1985, no Masp. Intercalando obras com textos do intelectual francês Roland Barthes (1915 - 1980), ela convida o espectador a ler e interpretar as imagens. Os retratos são particularmente expressivos. Além dos retratados, incluem elementos simples que, todavia, impedem uma contemplação neutra. Como no retrato Dulce, de 1961: ela está sentada de perfil, na areia, próxima da água e sozinha no canto superior direito da imagem. Ou ainda no retrato de Mário Chamie, de 1958: ele é visto de cima, dividindo o espaço da foto com sua própria sombra, fortemente contrastada.
Da imagem, chega-se ao espetáculo. Chamie faz trabalhos ligados às artes cênicas. É responsável pelo roteiro e direção de Cartas Portuguesas, de 1978 e 1979; roteiro, texto e direção de Fedra 1980, de 1980; e, enfim, criação, direção e cenografia do espetáculo Bolero, de 1982. Neste último, define todos os aspectos da dança, menos a coreografia. Determina quantos grupos de bailarinos, escolhe as músicas e os músicos, elabora uma exposição que integra o espetáculo e faz adaptações segundo o local de realização, mantendo assim as duas características de sua produção: o rigor nas instruções e a paixão da dança.
Notas
1. BARDI, Pietro Maria. Uma apresentação. In CHAMIE, Emilie. Rigor e paixão: poética visual de uma arte gráfica. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1999.
2. CHAMIE, Emilie. Rigor e paixão: poética visual de uma arte gráfica. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1999.
Obras 1
Espetáculos 2
Espetáculos de dança 1
-
5/1982 - 5/1982
Exposições 10
Fontes de pesquisa 17
- 4º STUDIO Unesp Sesc Senai de tecnologias de imagens. Curadoria Luiz Guimarães Monforte. São Paulo: Sesc, 1996.
- BRASIL FAZ DESIGN, 4., 2000, São Paulo, SP. Brasil Faz Design 2000: design e madeiras do Brasil. Curadoria Marili Brandão, Fábio Magalhães, Christian Ullmann; tradução Rita de Cássia Guarino, Carlotta Zoni, Eduardo Quartim. São Paulo: Brasil Faz Design, 2000.
- CHAMIE, Emilie. Rigor e paixão: poética visual de uma arte gráfica. São Paulo: Senac, 1999.
- Folha de S. Paulo. São paulo, 26 de set. 2000. p.E3.
- GERAÇÃO de 45 - 50 anos. Concepção Emilie Chamie. Curadoria Mário Chamie. São Paulo: Sesc, 1995. [Exposição comemorativa de 25 de maio a 24 de junho de 1995] Não paginado, il. color.
- MELO, Chico Homem de (org.). O design gráfico brasileiro: anos 60. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
- MITOPOEMAS Yãnomam. Tradução Pietro Maria Bardi, Michael P. Potter, Giovanni Battista Saffirio, Carlo Zacquini. São Paulo: Olivetti, [1978?].
- PANORAMA da História do Design Gráfico no Brasil: depoimento Emilie Chamie (Parte 1). São Paulo: Itaú Cultural, 1999/ 2000. 1 fita de vídeo (60 min.), NTSC, son., color., VHS.
- SESC (SÃO PAULO, SP). Geração de 45/50 anos. Concepção Emilie Chamie; curadoria Mário Chamie. São Paulo: Sesc, 1995. 46 p., il. color.
- STUDIO INTERNACIONAL DE TECNOLOGIAS DE IMAGEMS (2. : 1991 : São Paulo). 2º Studio Internacional de Tecnologias de Imagem. Coordenação Luiz Guimarães Monforte, Jesus Vasquez Pereira, Roberto Cenni. São Paulo, SP: Sesc SP, 1991.
- STUDIO INTERNACIONAL DE TECNOLOGIAS DE IMAGEMS (2. : 1991 : São Paulo). 2º Studio Internacional de Tecnologias de Imagem. Coordenação Luiz Guimarães Monforte, Jesus Vasquez Pereira, Roberto Cenni. São Paulo, SP: Sesc SP, 1991. CAT-G SPsesc 1991/d
- STUDIO UNESP, SESC E SENAI DE TECNOLOGIAS DE IMAGENS (4. : 1996 : São Paulo, SP). 4º Stúdio UNESP, SESC e SENAI de Tecnologias de Imagens. Coordenação Luiz Guimarães Monforte. São Paulo: Unesp, 1996. CAT-G SPunesp 1996
- SÔLHA, Luiz. Projeto Atual Arte Brasil : Luiz Sôlha, pinturas. São Paulo: Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte, 1996. , il. color. S685 1996
- VIEGAS, Camila. O círculo infinito de Emilie Chamie. Cult Revista Brasileira de Literatura, São Paulo, ano II, n. 32, p. 12-15, 03/ 2000.
- VIEGAS, Camila. O círculo infinito de Emilie Chamie. Cult Revista Brasileira de Literatura, São Paulo, ano II, n. 32, p. 12-15, 03/ 2000.
- WEISS, Ana. Emilie Chamie deixa rigor, paixão e poética. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 1º out. 2000. Caderno 2, p. D6.
- WOLLNER, Alexandre. Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil: depoimentos sobre o design visual brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2005.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
EMILIE Chamie.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa26671/emilie-chamie. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7