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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Flávio Motta

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 12.09.2024
02.10.1923 Brasil / São Paulo / São Paulo
08.07.2016 Brasil / São Paulo / São Paulo
Flávio Lichtenfels Motta (São Paulo, São Paulo, 1923 - idem, 2016). Professor, historiador da arte, desenhista e pintor. No fim dos anos 1930, começa a desenhar e fazer esculturas no ateliê do escultor José Cucê, na época presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos, e conhece vários artistas. Na década seguinte, frequenta os ateliês de Joaqui...

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Biografia
Flávio Lichtenfels Motta (São Paulo, São Paulo, 1923 - idem, 2016). Professor, historiador da arte, desenhista e pintor. No fim dos anos 1930, começa a desenhar e fazer esculturas no ateliê do escultor José Cucê, na época presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos, e conhece vários artistas. Na década seguinte, frequenta os ateliês de Joaquim Figueira, Mário Zanini, Raphael Galvez e Sylvio Alves, entre outros. Divide um ateliê na avenida São João com Raphael Galvez, Sylvio Alves e Odetto Guersoni. Forma-se em filosofia na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo - USP. Começa a lecionar história da arte. Em 1949, com os artistas Bonadei, Nelson Nóbrega, Alfredo Volpi, Waldemar da Costa e Waldemar Amarante, cria a Escola Livre de Artes Plásticas, de curta duração. No final do anos 1950, cria o curso de formação para professores do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, que é posteriormente transferido para a Fundação Armando Álvares Penteado - Faap. Torna-se professor de história da arte e estética no departamento de história da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, onde auxilia o arquiteto e professor Vilanova Artigas na reformulação do currículo escolar. Participa ativamente do debate político que envolve os arquitetos da FAU/USP e publica textos de história da arte. Em 1965, expõe pinturas no Masp e desenhos na Galeria Goeldi, Rio de Janeiro. Em 1967, na esquina da rua Augusta com a avenida Brasil, São Paulo, faz uma intervenção com Nelson Leirner, em que eles ostentam bandeiras regionais e de futebol. São reprimidos pela polícia, mas repetem a intervenção no Rio de Janeiro, com outros artistas. Em 1973, Flávio expõe na galeria Grupo B, Rio de Janeiro. Ganha o prêmio de arte-comunicação da Associação Paulista dos Críticos de Arte - APCA em 1975, pelos painéis realizados no Elevado Costa e Silva.

Comentário Crítico
Flávio Motta começa pintando retratos e paisagens ao ar livre, em que figuram temas campestres como pastos, pequenas casas, gado, árvores e riachos. Sua produção dessa época se aproxima das paisagens de Raphael Galvez (1907 - 1998) e Francisco Rebolo (1902 - 1980), entre outros. A pincelada é livre e o traço é pouco marcado. A cor é aplicada por manchas e as tonalidades são rebaixadas. Nessas pinturas, a preocupação com a paleta não permite que seu desenho encontre a melhor expressão: nem tudo convence nas proporções e a cor é muito uniforme.

É nos desenhos, quando acentua a linha pura, que se destaca. Em Redondo Quadrado, de 1941, as formas estão trocadas: a natureza (árvores, por exemplo) é quadrada e a produção humana (casas, por exemplo) é redonda. Encontramos a ironia e o uso muito particular da linha, ao mesmo tempo preciso e irônico, que vemos em obras posteriores, como nos cadernos de desenhos Aluno sem Perspectiva Procura Ponto de Fuga e Homem sem Perspectiva Encontra Ponto de Fuga e desenhos como O Gato - Sem Dúvida, dos anos 1970. Como a historiadora Ana Maria Belluzzo observa, Motta persegue a reta e a curva com o humor de Alexander Calder (1898 - 1976) e a sinceridade de Paul Klee (1879 - 1940)1.

A afinidade com a linha e o desenho certamente ajuda a levá-lo a exercer o magistério na  FAU/USP, pois a arquitetura não tem relação com a cor e o preenchimento, mas sim com o projeto e o fazer construtivo. A importância do fazer para o artista se manifesta já na época da Escola Livre de Artes Plásticas. Ele considera que a arte não pode ser ensinada no sentido tradicional do termo e, por isso, quer que os alunos aprendam a resolver problemas na prática, com o mínimo de teorização. Na FAU/USP, liga-se a Vilanova Artigas (1915 - 1985) e participa da reforma do ensino, trazendo novos métodos e interdisciplinaridade ao currículo.

Engaja-se nos debates políticos do período. Alinha-se a Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer (1907) e Paulo Mendes da Rocha (1928), cuja atuação defende contra as críticas feitas por Sérgio Ferro (1938), Flávio Império (1935 - 1985) e Rodrigo Lefèvre (1938 - 1984). Estes condenam o otimismo e o apoio de seus professores ao desenvolvimentismo brasileiro que, além de não atingir os objetivos sociais almejados, vincula-se à ditadura. Motta defende uma arquitetura e urbanismo que não se baseiem em desenvolvimentos pressupostos, como considera ser o caso de Brasília.

Em 1970, explicita sua posição ao publicar dois textos em que, por um lado, reafirma seu comprometimento com o projeto moderno dos anos 1940 e 1950 e, por outro, exalta os valores universais da arte2. Ao narrar a formação do Brasil, no texto Introduzione al Brasile, descreve a coincidência entre o desenvolvimento industrial brasileiro e as aspirações populares e lembra a legislação social avançada e a implantação da indústria de base obtidas durante o Estado Novo Ao final, como contraponto necessário a esse pronunciamento feito no auge do Golpe Militar de 64, afirma que, independentemente de sua funcionalidade, Brasília demonstra a consciência política presente na formação do arquiteto3. Defende o projeto de Paulo Mendes da Rocha para o pavilhão brasileiro na exposição Expo'70, ressaltando seu caráter humanista e transcendente e enfatizando valores universais, como se fossem a maneira de lidar com a realidade política imediata do país, sem abrir mão dos ideais políticos.4

A atividade política e acadêmica de Motta na FAU/USP é seu principal legado. Em seus estudos de história da arte, investiga a relação entre arquitetura, industrialização e sociedade, interessando-se pelo art nouveau. Seus textos quase sempre tratam de temas ligados ao modernismo, tais como A época do SPAM, de 1953; uma introdução à Família Artística Paulista, de Mário de Andrade, de 1971; Paulo Mendes da Rocha, de 1967; e Trabalho de um Pintor: Portinari, de 1972.

Notas
1 BELLUZZO, A. M., in Depoimentos sobre Flávio Motta, Caramelo, n. 6, p. 41-53, ago. 1993.
2 ALVES, A. A. A. Arquitetura e sociedade em São Paulo 1956 - 1968: projetos de Brasil moderno. 2003. 311 f. Dissertação (mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, São Paulo. 2003, p. 172 e s.
3 MOTTA, F. L. Introduzione al Brasile. Zodiac. n. 6, p. 61-67, 1958/59.
4 MOTTA, F. L. Arquitetura brasileira para a Expo 70'. Acrópole, São Paulo, n. 372, p. 25-26, abr. 1970.

Exposições 28

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Fontes de pesquisa 25

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ALVES, A. A. A. Arquitetura e Sociedade em São Paulo 1956 - 1968: projetos de Brasil moderno. 2003. 311 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, São Paulo. 2003.
  • ARTE suporte computador. Organização Solange Lisboa e Antonio Ruete. São Paulo: Casa das Rosas, 1997.
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Rio de Janeiro: Spala, 1992. 2v.
  • DEPOIMENTOS sobre Flávio Motta. Caramelo, n. 6, p. 41-53, ago. 1993.
  • IMPÉRIO, Flávio. Flávio Império em cena. Curadoria Gláucia Amaral, Renina Katz. São Paulo: SESC SP, 1997.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • LISBOA, Solange (coord.); VENDRAMINI, Cláudia (coord.). Iconoclastias culturais. Apresentação José Roberto Aguilar; projeto gráfico Fernanda Sarmento. São Paulo: Casa das Rosas, 1998. 32 p., il. color.
  • MATRIZES, filiais e companhias. São Paulo: Sesc Dr. Vila Nova, 1979.
  • MOTTA, F. L. A família artística paulistana. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. n. 10, p. 137-154, 1971.
  • MOTTA, F. L. A época do SPAM. Habitat, v. 11, p. 49-60, jun. 1953.
  • MOTTA, F. L. Apontamentos de história da arte: o sorriso da Gioconda. Tradução de texto escolhidos por Maria Stella de Castilho e Marina Rappa. São Paulo: FAU, 1963. (Publicação, 6).
  • MOTTA, F. L. Arquitetura brasileira para a Expo'70. Acrópole, São Paulo, n. 372, p. 25-26, abr. 1970.
  • MOTTA, F. L. Art Nouveau: um estilo entre a flor e a máquina. Cadernos brasileiros, v. 28, n. 2, p. 54-63, mar./abr. 1965.
  • MOTTA, F. L. Contribuição ao estudo do Art Nouveau no Brasil. São Paulo, 1957. 83 p. Tese (Cátedra) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU/USP, 1957.
  • MOTTA, F. L. Introdizione al Brasile. Zodiac. n. 6, p. 61-67, 1958/59.
  • MOTTA, F. L. Paulo Mendes da Rocha. Acrópole, São Paulo, n. 343, p. 17-18, set 1967.
  • MOTTA, F. L. São Paulo e o Art Nouveau. Habitat, n. 10, p. 3-18, 1953.
  • MOTTA, F. L. Trabalho de um pintor: Portinari. São Paulo, 1972. (Separata da Revista de História, 90).
  • Nota de falecimento do professor Flávio Motta. Disponível em: < http://www.iabsp.org.br/?noticias=nota-de-falecimento-do-professor-flavio-motta >. Acesso em: 24 fevereiro 2017.
  • OS GRUPOS: a década de 40. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1977. (Ciclo de Exposições de Pintura Brasileira Contemporânea).
  • Ribeiro, Ana Carolina Carmona. Reconstrução da História e Projeto Moderno em Flávio Motta. 01 dez 2010, Dissertação - Universidade de São Paulo (USP), Escola de Cominicação e Artes (ECA). BIbioteca Digital USP: Teses e Dissertações, São Paulo, <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27160/tde-12122010-174750/pt-br.php >. 29 maio de 2012.
  • UMA amizade e um atelier: Raphael Galvez e Flávio Motta. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1978. (Ciclo de Exposições de Momentos da Pintura Paulista).
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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