Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Djanira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.08.2024
20.06.1914 Brasil / São Paulo / Avaré
31.05.1979 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Sérgio Guerini/Itaú Cultural

Mercado de Peixe, 1957
Djanira
Óleo sobre tela, c.i.d.
89,80 cm x 116,50 cm

Djanira da Motta e Silva (Avaré, São Paulo, 1914 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1979). Pintora, desenhista, cartazista, gravadora. Destaca-se como um nome importante do modernismo brasileiro. Em sua obra coexistem a religiosidade e a diversidade de cenas e paisagens do Brasil.

Texto

Abrir módulo

Djanira da Motta e Silva (Avaré, São Paulo, 1914 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1979). Pintora, desenhista, cartazista, gravadora. Destaca-se como um nome importante do modernismo brasileiro. Em sua obra coexistem a religiosidade e a diversidade de cenas e paisagens do Brasil.

A infância e a adolescência da artista se caracterizam pela vida simples e pelo trabalho no campo. Retrata Avaré, cidade no interior de São Paulo onde nasce, e Porto União, cidade de Santa Catarina onde cresce e trabalha na lavoura. Muda-se para São Paulo em 1932. Em 1937, é internada com tuberculose em um sanatório de São José dos Campos, no qual começa a desenhar.

O aspecto religioso dos trabalhos de Djanira está presente desde seu primeiro desenho – um Cristo (1939) feito no sanatório de São José dos Campos. Para o crítico Clarival do Prado Valladares (1918-1983), os temas prosaicos ganham “transcendência plástica”, levando o objeto captado para outro plano. Valladares afirma, além disso, que a dualidade da obra de Djanira, composta pela fusão entre pintura mística e pintura terrena, tem “resultado” que “surpreende pela poesia e drama”1.

Após a estadia no sanatório, muda-se para o Rio de Janeiro em 1939 e abre uma pensão no bairro de Santa Teresa, onde convive com artistas modernistas como Milton Dacosta (1915-1988), Carlos Scliar (1920-2001), a portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), o húngaro Arpad Szenes (1897-1985) e o romeno Emeric Marcier (1916-1990). Também em 1939, assiste a aulas de pintura no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. A sua obra inaugural possui temas caros à chamada arte primitiva ou ingênua, como as festas folclóricas, mas com elementos do modernismo: um exemplo são as padronagens, como a do quadro Costureira (1951), e as imagens sem perspectiva em que os corpos parecem colagens, como o cartaz para a peça Orfeu da Conceição (1956), que lembram os trabalhos do pintor francês Henri Matisse (1869-1954). O escritor Paulo Mendes Campos (1922-1991) nota essa ambivalência em seu trabalho e afirma que Djanira “nos comunica a ingenuidade brasileira” com “técnica muito disciplinada”2.

A artista retrata igualmente aquilo que habita sua memória e o que a rodeia no bairro de Santa Teresa: o cotidiano de trabalhadores, as festas de rua, as paisagens, os amigos e parentes. Os temas da vida simples e do trabalho no campo reaparecem em sua pintura. O mote se estende ao longo da carreira e se repete, por exemplo, no quadro Cafezal (1952).

Em 1942, expõe pela primeira vez na Divisão Moderna do Salão de Belas Artes e, no ano seguinte, faz sua primeira individual no edifício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. Em 1943, participa da exposição Pintura Moderna Brasileira na Royal Academy of Arts, em Londres, Inglaterra. Nessa época, também expõe suas obras na Argentina, no Uruguai e no Chile.

Entre 1944 e 1947, mora nos Estados Unidos e em 1946 realiza exposição individual na New School for Social Research, em Nova York. Expõe igualmente em Washington e Boston. Também participa da exposição de Arte Moderna no Musée National d'Art Moderne [Museu Nacional de Arte Moderna], em Paris.

Nos anos 1950, após temporada nos Estados Unidos, volta ao Brasil e decide viajar o país e retratar sua diversidade. Se antes as cenas representadas eram seu ambiente natural de vida e trabalho, agora a artista viaja em busca de material para sua produção. Em diversos estados brasileiros, realiza pinturas de colhedores de café, vaqueiros, mulheres no campo e na praia, índios, tecelões, oleiros e trabalhadores de usinas de cana-de-açúcar. As cenas não se restringem ao trabalho rural: há operários da indústria automobilística e mineiros, como mostram as pinturas dos anos 1960 e 1970. Seu interesse nas cenas únicas do cotidiano dos trabalhadores resulta em uma pintura que transcende essa singularidade e busca o “aspecto permanente do assunto”3, conforme afirma o crítico José Valladares. Um vendedor de gaiolas revela uma espécie de personalidade comum a todos os outros vendedores, como se Djanira buscasse, na multiplicidade da cultura brasileira, arquétipos que se repetem.

Da sua produção, destacam-se obras marcantes como o mural Candomblé (1957), para a casa do escritor Jorge Amado (1912-2001); os azulejos da Capela de Santa Bárbara (1958), Rio de Janeiro; e as ilustrações do livro Campo geral (1964), do escritor Guimarães Rosa (1908-1967).

Em 1977, o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio de Janeiro, promove uma retrospectiva de sua trajetória. Após sua morte, seus quadros são expostos em diversas exposições nacionais e internacionais. No acervo do MNBA estão abrigadas 813 de suas obras.

Como uma das representantes mais consagradas do modernismo brasileiro, Djanira entra para a história das artes plásticas nacionais como uma importante retratista da paisagem urbana e rural.

Notas

1. VALLADARES, Clarival do Prado. A visão retrospectiva da obra de Djanira. In: DJANIRA. Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Arte; Museu Nacional de Belas Artes, 1976.

2. CAMPOS, Paulo Mendes. Entrevista com Djanira. Manchete, Rio de Janeiro, 1974. Especial Artistas Plásticos.

3. VALLADARES, José. Djanira e a Bahia. In: VALLADARES, José. Artes maiores e menores. Salvador: Livraria Progresso, 1957.

Obras 35

Abrir módulo
Reprodução fotográfica Mario Besse

Auto-retrato

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Caboclinhos

Encáustica sobre tela

Espetáculos 1

Abrir módulo

Exposições 276

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 21

Abrir módulo
  • AMADO, Jorge; VIEIRA, José Geraldo. Djanira. Buenos Aires: Ediciones Bonino, 1961.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
  • CAMPOS, Paulo Mendes. Entrevista com Djanira. Manchete, Rio de Janeiro, 1974. Especial Artistas Plásticos.
  • DJANIRA. A Arte sob o olhar de Djanira: coleção Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 2005.
  • DJANIRA. Djanira. Curadoria Ligia Canongia, versão em inglês James Anderson. Rio de Janeiro: Centro Cultural Light, 2000.
  • DJANIRA. Djanira. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1976.
  • DJANIRA. Djanira. Viena: Banco do Brasil, 1978.
  • DJANIRA: acervo do Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: Colorama, 1985.
  • EXPOENTES da pintura brasileira. Rio de Janeiro: Nórdica, [19--]. 12 pranchas.
  • EXPOENTES da pintura brasileira. Rio de Janeiro: Nórdica, [19--]. 6 pranchas.
  • GESIER JÚNIOR. História de Djanira, brasileira de Avaré. São Paulo: Arcádia, 2000.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • PEDROSA, Mário. Acadêmicos e modernos: textos escolhidos III. Organização Otília Beatriz Fiori Arantes. São Paulo : Edusp, 1998.
  • PONTUAL, Roberto. Djanira – O espontâneo domínio. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 out. 1976. p.6, Caderno B.
  • PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
  • RAMPAZZO, Lóris Graldi. Djanira na arte brasileira. 1993. 222 p. Tese (Doutorado) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, São Paulo, 1993.
  • TEMPOS de guerra: Hotel Internacional / Pensão Mauá. Curadoria Frederico Morais. Rio de Janeiro: Galeria de Arte Banerj, 1986. (Ciclo de exposições sobre arte no Rio de Janeiro).
  • VALLADARES, Clarival do Prado. A visão retrospectiva da Obra de Djanira. In: DJANIRA. Djanira. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1976.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: