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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Guimarães Rosa

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.04.2022
27.06.1908 Brasil / Minas Gerais / Cordisburgo
19.11.1967 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

João Guimarães Rosa, 1965

João Guimarães Rosa (Cordisburgo, Minas Gerais, 1908 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1967). Ficcionista, poeta, médico e diplomata. Autor de clássicos da literatura brasileira, Guimarães Rosa reinventa a língua portuguesa e a linguagem narrativa.   

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João Guimarães Rosa (Cordisburgo, Minas Gerais, 1908 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1967). Ficcionista, poeta, médico e diplomata. Autor de clássicos da literatura brasileira, Guimarães Rosa reinventa a língua portuguesa e a linguagem narrativa.   

Forma-se em medicina pela Universidade de Minas Gerais em 1930, e exerce a profissão durante dois anos na cidade de Itaguara, interior mineiro. Em 1932, atua como oficial-médico no 9º Batalhão de Infantaria em Barbacena, na Revolução Constitucionalista. Estudioso de idiomas desde os 7 anos, em 1934, ingressa na carreira diplomática.

Em 1937, recebe prêmio da Academia Brasileira de Letras (ABL) pelo volume de poesia Magma. Nesse livro, lançado postumamente em 1997, notam-se traços característicos do autor, entre eles a presença de imagens e símbolos de diferentes tradições, como a budista e a taoista. Também em 1937, participa de outro concurso com Sagarana, volume que passa por revisão do autor e é publicado em 1946. 

O livro reúne contos como “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” – adaptado para o cinema em 1965, com direção de Roberto Santos (1928-1987) – e “O Burrinho Pedrês”. No universo ficcional do autor, a representação de animais e cenários, segundo a crítica Beth Brait, extrapola o trato descritivo para assumir um papel de inventário da flora e da fauna por meio da recriação poética. Beth afirma ainda que a natureza ganha posição de agente ativo nas histórias de Guimarães, atuando sobre o destino dos personagens.

Editado em 1958, junto à rubrica “texto definitivo”1, Grande Sertão: Veredas renova a linguagem narrativa, sobretudo as noções de tempo, espaço e personagem. O andamento do enredo não segue a cronologia linear. Os episódios têm ritmo aparentemente caótico, sem obedecer à sequência temporal própria do romance realista, e o espaço é dimensionado pelo fluxo de viagem. Embora prevaleçam narrativas ambientadas em cenários interioranos, a temática e a linguagem se diferenciam do regionalismo dos anos 1930, de autores como Rachel de Queiroz (1910-2003) e José Lins do Rego (1901-1957)

A ambiguidade desempenha um importante papel na construção dos personagens protagonistas: enquanto Diadorim, a jovem que se disfarça de jagunço, obstina-se para vingar a morte do pai, o narrador Riobaldo se angustia por sentir amor pelo companheiro. Sobre a riqueza formal do romance, em Grande Sertão, verifica-se ainda a quebra das fronteiras entre os gêneros literários: há elementos da poesia, do romance, da epopeia, bem como de formas literárias de diferentes períodos históricos. 

Outra característica da obra é a presença constante do sagrado. Em Grande Sertão, há uma peculiar leitura do cristianismo que pode ser considerada um diálogo com Fausto (1829), do escritor alemão Goethe (1749-1832). A busca da redenção não exclui o estar no mundo, nem mesmo a paixão e a luta: trata-se do homem em sua integralidade, o viajante em travessia que não teme a condenação porque não acredita no mal como um ente absoluto.

Na prosa de Guimarães Rosa, a linguagem é levada ao limite por meio de recursos como a fusão de fala popular, expressões regionais, neologismos, palavras indígenas e construções inusitadas de frases que, por vezes, se chocam com a própria sintaxe da língua portuguesa.

O escritor traz à tona a complexidade da experiência humana com uma linguagem única e inventiva. Explora as formas de narrar subvertendo a cronologia linear e cria cenários tão profundamente brasileiros quanto imaginativos e oníricos. O conhecimento do sertão brasileiro e de culturas estrangeiras está presente no universo simbólico e semântico do autor, que cria neologismos misturando termos de diferentes línguas (o título de seu livro de estreia, Sagarana, deriva do termo saga, que designa as epopeias escandinavas). 

A presença do imaginário medieval é uma constante em sua obra, desde o duelo na cena final de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, até as passagens épicas de Grande Sertão: Veredas, em que não falta também o elemento religioso, típico das novelas de cavalaria. 

Os escritos de Guimarães Rosa recuperam também o universo onírico da cultura popular, o estilo assombroso dos “casos”, de enredo curto e cheio de surpresas. Em muitos desses textos breves, o sertão continua vestido de Idade Média, com cavaleiros corteses, e mulheres-damas, que jamais perdem a condição de senhora a quem se serve por amor e por quem se guerreia, e para quem se empreende a travessia dos medos. Nas narrativas, porém, os tipos medievais aparecem travestidos de jagunços, fazendeiros, prostitutas, beatos e loucos. 

Em 1961, ganha o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra. No mesmo ano, escreve coluna semanal no jornal O Globo. Muitos dos contos publicados no periódico são compilados nas coletâneas Primeiras Estórias (1962), Tutameia (1967) e Ave Palavra (publicação póstuma de 1970). Alguns dos textos são assinados por anagramas do nome do autor, como Soares Guimar, pseudônimo que volta a aparecer na Antologia dos Poetas Bissextos Contemporâneos (1964), organizada por Manuel Bandeira (1886-1968).

É eleito para a ABL, em 1963, mas, supersticioso, temendo a morte no momento de sua “consagração”, adia a cerimônia de posse por quatro anos.

Os trabalhos de João Guimarães Rosa tratam das complexidades, seja humana, através de temáticas e personagens que exploram a ambiguidade e os sentimentos em meio ao ambiente físico e social no qual vivem, seja da linguagem, inventiva e original, que trabalha com diferentes possibilidades da língua e da poética.

Nota:

1. Marco da literatura brasileira, a primeira edição de Grande Sertão: Veredas é lançada em 1956.

Obras 11

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Espetáculos 22

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Exposições 3

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Fontes de pesquisa 9

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  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 35. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.
  • BRAIT, Beth. Guimarães Rosa. São Paulo: Nova Cultural, 1990.
  • CAMPOS, Haroldo de. A linguagem do Iauretê. Metalinguagem. São Paulo: Perspectiva, 2004.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Edélcio Mostaço]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
  • FONTA, Sérgio. [Currículo]. Enviado pelo artista em 2011. Não Catalogado
  • Programa do Espetáculo - A Hora e a Vez de Augusto Matraga - 2004. Não catalogado
  • Programa do Espetáculo - O Homem Provisório - 2007. Não catalogado
  • ROSA, J. Guimarães. Grande Sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
  • ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

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