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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Marcello Grassmann

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.05.2024
23.09.1925 Brasil / São Paulo / São Simão
21.06.2013 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural

Sem Título, 1974
Marcello Grassmann
Nanquim sobre papel
45,00 cm x 63,00 cm

Marcello Grassmann (São Simão, São Paulo, 1925 – São Paulo, São Paulo, 2013). Gravador, desenhista, ilustrador, professor. Conhecido por sua qualidade técnica e linguagem inovadora, é considerado um dos maiores gravuristas brasileiros, se não o maior, segundo alguns críticos. Misturando técnicas variadas em composições de grande simbolismo, o ar...

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Marcello Grassmann (São Simão, São Paulo, 1925 – São Paulo, São Paulo, 2013). Gravador, desenhista, ilustrador, professor. Conhecido por sua qualidade técnica e linguagem inovadora, é considerado um dos maiores gravuristas brasileiros, se não o maior, segundo alguns críticos. Misturando técnicas variadas em composições de grande simbolismo, o artista desenvolve um estilo próprio, reconhecido no Brasil e no mundo.

Nasce em São Simão, mas ainda na infância, em 1932, muda-se com a família para São Paulo. Quando criança, fica fascinado com os diferentes estilos de desenho e a movimentação das imagens nas histórias em quadrinhos. Em 1938, sua mãe, professora, é transferida e a família se muda para a zona oeste da cidade, próximo ao Cemitério São Paulo. Lá, entra em contato com as esculturas que ornamentam os túmulos e com as oficinas na região que as produzem. Em 1939, ingressa na Escola Profissional Masculina do Brás, em São Paulo, onde estuda fundição, mecânica e entalhe em madeira, até 1942.

A partir de 1943, passa a fazer xilogravuras. Nos primeiros trabalhos, estão presentes arabescos e pontilhados obtidos por meio da madeira de topo. Paralelamente, atua como ilustrador em jornais de São Paulo, entre 1947 e 1948. Muda-se para o Rio de Janeiro, em 1949, e frequenta cursos de gravura em metal, com Henrique Oswald (1918-1965), e de litografia, com Poty Lazzarotto (1924-1998), no Liceu de Artes e Ofícios, além de ter contato com a obra de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e de Lívio Abramo (1903-1992).

Para a crítica Aracy Amaral (1930), a fase inicial do artista está mais ligada ao expressionismo. Um exemplo dessa época é a série Cavaleiros noturnos, de 1949, com figuras militares em preto, recortadas sobre fundo branco. Em 1951, trabalha como operário na montagem da primeira Bienal de Arte de São Paulo, da qual participa também com algumas obras. Na ocasião, ganha o prêmio aquisição da Bienal.

Em 1952, trabalha com Mario Cravo Júnior (1923-2018), em Salvador. Mesmo sem prensa, os artistas gravam cerca de 20 pedras litográficas usando apenas uma colher. A professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Lygia Eluf (1956) lembra que, nos anos 1950, não há, no Brasil, materiais disponíveis para a gravura, o que leva os jovens artistas do período a desenvolver técnicas e materiais alternativos para realizar as obras. Nesse processo, Grassmann se destaca ao adaptar técnicas e inventar meios e instrumentos, o que não só lhe permite desenvolver um estilo próprio, como também define novos parâmetros para a gravura.

Em 1953, recebe o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna e, no ano seguinte, viaja para Viena, onde estuda na Academia de Artes Aplicadas. Munido de vasta produção, retorna ao Brasil quatro anos depois. Dedica-se principalmente ao desenho, à litografia e à gravura em metal, seu meio de expressão por excelência. O artista recorre frequentemente a motivos ligados ao imaginário medieval e renascentista. Surgem em sua temática figuras fantásticas, como sereias, harpias (monstros fabulosos com rosto de mulher e corpo de ave), pequenos demônios, cavalos, peixes, seres em parte humanos e em parte animais, relacionados a um universo mágico.

Maria Cristina Silva Monteiro, do Museu do Senado, afirma que Grassmann foi um grande estudioso da história da arte, bem como das mitologias medieval e renascentista. Apesar de remeterem a um universo onírico, o que poderia levar à ideia de inspiração em sonhos ou na própria imaginação, seus trabalhos são fruto desses estudos, bem como do contato com outras obras de arte. Como aponta o próprio artista, sua produção tem como referências os seres criados pelo pintor holandês Hiëronymus Bosch (ca.1450-1516) e a obra do artista gráfico austríaco Alfred Kubin (1877-1959), com quem tem contato em Viena.

Alia uma simbologia gráfica extremamente rica a uma técnica muito pessoal e refinada. Para Lívio Abramo, “entre o complexo mundo interior do artista e a realização plástica o caminho é curto: complicados arabescos, estranhas simbioses de seres humanos e animais, metamorfoses reveladoras de desejos e angústias, sentido poético e grande liberdade formal (...)”1. Essas figuras, como aponta Ricardo Movits (1965), do Museu do Senado, são verdadeiros personagens, na medida em que são representadas em posturas reflexivas, revelando emoções tipicamente humanas. Nas palavras de Movits, “esse formato único e fantasioso de ver o universo imprime um certo lirismo medieval encantador característico da obra de Grassmann”2. A série Incubus Sucubus, de 1953, é um exemplo.

Em 1969, sua obra completa é adquirida pelo governo do estado de São Paulo, passando a integrar o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 1978, a casa em que nasceu, em São Simão, é transformada em museu, por iniciativa da Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo, e tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), no mesmo ano.

Com o intuito de preservar e difundir o acervo do artista, contribuindo para o desenvolvimento de estudos, funda-se, em 2017, o Núcleo de Estudos Marcello Grassmann, em São Paulo. Em 2021, realiza-se o primeiro Prêmio Marcello Grassmann Artes Gráficas, com edital contemplando projetos inéditos em gravura em todo o território nacional. 

O profundo conhecimento de meios e técnicas gráficas, aliado à inventividade de seu universo de criaturas míticas, fazem de Marcello Grassmann um dos gravadores brasileiros mais respeitados no mundo.

Notas

1. Texto manuscrito de Lívio Abramo sobre Marcello Grassmann, nov. 1949. NÚCLEO MARCELLO GRASSMANN. Site Oficial do Projeto. São Paulo. Disponível em: https://www.nucleomarcellograssmann.org.br/. Acesso em: 25 ago. 2023.

2. MARCELO Grassmann: o artista das figuras fantasiosas do universo imaginário. Senado Federal. [Brasília], 29 dez. 2022. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/museu/bloco-noticias-destaques/marcelo-grassmann-o-artista-das-figuras-fantasiosas-do-universo-imaginario. Acesso em: 25 ago. 2023.

Obras 34

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Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Sem Título

Xilogravura
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

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Xilogravura
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

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Xilogravura
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

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Litografia

Espetáculos 1

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Exposições 411

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Mídias (1)

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Marcelo Grassmann - Enciclopédia Itaú Cultural
Formado pela Escola Profissional Masculina do Brás, Marcelo Grassmann aprende a fazer entalhes em madeira. Por conta da familiaridade com o material, ao iniciar sua produção artística, Grassmann opta pela gravura em madeira. Mas, ao longo da carreira, experimenta diferentes materiais e técnicas: desenho, gravura em metal, litografia. Para ele, uma boa formação e referências estéticas são fundamentais no trabalho de um artista. “Você vai construindo uma colcha de retalhos que é você mesmo. Por mais que você seja influenciado, pelo menos o costurado é seu”, comenta. Mais do que a imagem pura e simples do desenho, Grassmann se interessa pelo “clima” criado pela composição e afirma que seu único compromisso é com sua satisfação pessoal. “Não devo fidelidade a quem gosta ou não gosta, ao mercado, à história da arte. Enquanto eu puder usufruir algum prazer nisso, eu continuo trabalhando”, afirma.

Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Erika Mota (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 24

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  • ADRO galeria recebe exposição de Marcello Grassmann. Sou BH, Belo Horizonte, 7 out. 2022. Cultura. Disponível em: https://soubh.uai.com.br/noticias/cultura/adro-galeria-recebe-exposicao-de-marcello-gassmann. Acesso em: 5 jun. 2023.
  • ARANTES, J. T. Pesquisa reúne todas as gravuras em metal produzidas por Marcelo Grassmann. Agência Fapesp, 7 ago. 2015. Disponível em: https://agencia.fapesp.br/pesquisa-reune-todas-as-gravuras-em-metal-produzidas-por-marcelo-grassmann/21647. Acesso em: 25 ago. 2023.
  • ARTE e artistas plásticos no Brasil 2000. São Paulo: Meta, 2000. 700.981 A786
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 709.81 A163ar v.2
  • BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464. 700 BI588sp Sec.XX
  • EXPOSIÇÕES individuais dedicadas aos artistas: Carlos Lemos, Carlos Scliar, Erich Brill, Marcelo Grassmann e Regina Katz. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1996. 1 folha dobrada. SPpe 1996/e
  • GOELDI e Grassmann. Rio de Janeiro: Galeria Bonino, 1960. RJb 1960/g
  • GRASSMANN, Marcelo. Desenhos de Marcelo Grassmann. São Paulo: Grifo Galeria de Arte, 1978. [23] p., il. p&b.
  • GRASSMANN, Marcelo. Desenhos inéditos/gravuras. Curadoria e texto Ennio Marques Ferreira; texto Olívio Tavares de Araújo. Curitiba: Museu de Arte do Paraná, 1990. 24 p., il. p&b.
  • GRASSMANN, Marcelo. Gravador 1944-1954. Curadoria e texto Aracy Amaral. São Paulo: Pinacoteca, 1996. 32p. il., figs., fot.
  • GRASSMANN, Marcelo. Marcelo Grassmann. Curitiba: Museu Alfredo Andersen, 1999.
  • GRASSMANN, Marcelo. Marcelo Grassmann. São Paulo: Art Editora, 1984.
  • GRASSMANN, Marcelo. Marcelo Grassmann: 40 anos de gravura. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1984.
  • GRASSMANN, Marcelo. Marcelo Grassmann: desenhos inéditos e gravuras. Curitiba: Museu de Arte do Paraná, 1990.
  • GRASSMANN, Marcelo. Marcelo Grassmann: desenhos. São Paulo: Montesanti Galleria, 1988.
  • GRASSMANN, Marcelo. Marcelo Grassmann: desenhos. São Paulo: Montesanti Galleria, 1988. G769 1988
  • GRASSMANN, Marcelo. O Mundo mágico de Marcelo Grassmann: 70 anos. texto Edla Van Steen; projeto gráfico Ricardo van Steen, Ciro Girard; fotografia Marcos Magaldi; produção Wildi Celia Melhem; comentário Sabina de Libman et al. São Paulo, SP: Galeria Arte Aplicada, 1995. [65]. il. color.
  • GRAVURA moderna brasileira: acervo Museu Nacional de Belas Artes. Curadoria Rubem Grilo. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1999.
  • GRAVURA: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000. IC 769 G777
  • LEITE, José Roberto Teixeira. A gravura brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Rio, 1965. 769 L533g
  • MARCELO Grassmann: o artista das figuras fantasiosas do universo imaginário. Senado Federal. [Brasília], 29 dez. 2022. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/museu/bloco-noticias-destaques/marcelo-grassmann-o-artista-das-figuras-fantasiosas-do-universo-imaginario. Acesso em: 25 ago. 2023.
  • Morre aos 88 o gravurista Marcelo Grassmann. Disponível em: . Acesso em: 21 de junho de 2013. Não catalogada
  • NÚCLEO MARCELLO GRASSMANN. Site Oficial do Projeto. São Paulo. Disponível em: https://www.nucleomarcellograssmann.org.br/. Acesso em: 25 ago. 2023.
  • PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987. 709.8104 Cg492pr

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