Ernst Widmer

Sertania - Ernst Widmer, Elomar e Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia, 1985
Elomar, Ernst Widmer
Texto
Ernst Widmer (Aarau, Suíça, 1927 – Salvador, Bahia, 1990). Compositor, regente, pianista e professor. Herda o gosto pelas artes do pai, que participa do coro masculino da cidade e milita no teatro amador local. Inicia a educação musical pelo piano, aos 7 anos, com Ethel Mathews. Seus professores subsequentes, Walter Locher e Otto Kuhn, tentam, em vão, persuadi-lo a seguir carreira pianística. Começa a compor aos 14 anos. Executa a abertura da peça Caesar and Cleopatra, do irlandês George Bernard Shaw (1856-1950), na orquestra da escola secundária do cantão de Argóvia, Suíça. O êxito da apresentação anima o avô materno a custear seus estudos no Conservatório de Zurique. Lá, estuda composição, contraponto e fuga com Willy Burkhard (1900-1955) e instrumentação com Paul Müller (1899-1965), ambos alemães. As aulas de piano são dadas pelo concertista alemão Walter Frey (1898-1985), que o apresenta à harmonia funcional do musicólogo Hugo Riemann (1849-1919) e à música do compositor Paul Hindemith (1895-1963), ambos alemães, do americano Arnold Schönberg (1874-1951) e do húngaro Béla Bártok (1881-1945), que lhe causa especial impressão. Conclui os estudos em 1950, iniciando a carreira em Aarau como professor particular de canto e composição, regente de coro em duas igrejas e professor de canto coral no ginásio. Casa-se com a soprano brasileira Sonia Born, cantora da rádio Lugano. Ex-aluna de Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005), apresenta o marido ao antigo professor, que está na Europa em busca de reforços para o corpo docente dos Seminários Livres de Música (posteriormente, Escola de Música e Artes Cênicas), novo núcleo da Universidade Federal da Bahia. Em 1956, a convite de Koellreutter, o casal muda-se para Salvador. Torna-se regente do grupo vocal Madrigal da universidade entre 1958 e 1967 e dirige a Escola de Música em três períodos (1963 a 1965; 1967 a 1969; 1976-1980), assumindo também diversos cargos representativos e administrativos. Com a saída de Koellreutter da Bahia, assume a cátedra de composição em 1963, além de lecionar mais de dez disciplinas. Adquire cidadania brasileira em 1967. Depois da aposentadoria, em 1987, recupera os laços com sua terra natal e, em 1988, inaugura em Aarau a Ernst Widmer Gesellschaft (Sociedade Ernst Widmer). O Instituto Ernst Widmer (2005), seção brasileira autônoma, é criado postumamente, em Salvador.
Análise
O suíço Ernst Widmer entra para a história da música no Brasil ao aceitar o convite de Hans-Joachim Koellreutter para se mudar para Salvador, como professor dos Seminários Livres de Música. A porposta faz parte da reorganização da Universidade Federal da Bahia, conduzida pelo reitor Edgard do Rêgo dos Santos (1894-1962). Nas palavras de Widmer, os Seminários são, à época, a escola de música “mais atualizada e calcada em padrões mais modernos do Brasil”.
Vários conjuntos são montados, incluindo um trio e um grupo experimental de percussão, culminando, em 1966, com a organização do Grupo de Compositores da Bahia, formado por membos dos corpos docente e discente da universidade. Por meio de cursos e festivais, que reúnem compositores e alunos de diversos estados brasileiros e do exterior, o grupo promove a divulgação da música contemporânea e realiza programas de intercâmbio, concertos e publicações.
De Burkhard, seu professor no Conservatório de Zurique, Widmer aprende seguir o caminho de máxima independência e transmite o mesmo espírito a seus alunos. Dentre seus pupilos de composição, destacam-se Milton Gomes (1916-1974), Nikolau Kokron (?-1971), Rinaldo Rossi (1945-1984), Lindembergue Cardoso (1939-1989), Jamary Oliveira (1944), Fernando Cerqueira (1941), Ilza Costa, Paulo Lima, Ruy Brasileiro Borges (1950), Agnaldo Ribeiro (1943), Wellington Gomes, Tom Zé (1936) e Marco Antônio Guimarães (1948), do grupo Uakti.
O musicólogo José Maria Neves (1943-2002) enfatiza o papel de Widmer na formação da nova escola de compositores da Bahia, transmitindo aos discípulos “sua permanente curiosidade, seu espírito de pesquisa e a certeza da necessidade de domínio de todos os recursos técnicos” que possam ser colocados a serviço da criação1. Widmer e seus alunos assumem posição de “ecletismo consciente e intencional”. Sua música se mostra marcada, “do mesmo modo e com a mesma intensidade, pelo folclore brasileiro, pela pesquisa sonora e construtiva da escola polonesa contemporânea, por buscas relacionadas com as formas abertas (de acordo com a aleatoriedade controlada) e mesmo pela eletroacústica”.
No período suíço, Widmer destaca-se pelas obras para coro (Divertimento I – Struwwelpeter, para coro misto, dois pianos e percussão); pelas canções para voz aguda e piano, como Sechs Lieder Op. 11, sobre poemas do suíço Silja Walter (1919-2011), e Dos Muchachas Op. 13, sobre poemas do espanhol Federico Garcia Lorca (1898-1936). Destaca-se, também, por obras instrumentais, como Suite für Klavier Op. 6, Präludium und Toccata Op. 7, para órgão, e Sonate für Violin allein Op. 8. Todas estreadas em Zurique e gravadas pela Rádio DRS.
Até os 21 anos, o compositor tem o que classifica como “atitude reacionária”, sendo influenciado posteriormente pelo estilo de compositores como o russo Igor Stravinsky (1882-1971), Béla Bartók e Paul Hindemith. A partir da década de 1960, manifesta interesse pelas técnicas de vanguarda, como aleatoriedade, serialismo, clusters e recursos de teatro musical.
O musicologista estadunidense Gerard Béhague (1937-2005) sintetiza a atividade criativade Widmer como uma “convergência gradual de intuição e intelecto, ingenuidade e sofisticação, originalidade e tradicionalismo” 2. Sua produção é marcada pelo que o próprio compositor classifica como fases “progressivas” e “regressivas”, que frequentemente coexistem.
Béhague inclui entre as obras “regressivas” os Chinesische Lieder (1948), a suíte para orquestra (1953), Hommages à Stravinsky, Frank Martin et Béla Bartók (1960), para oboé e orquestra de cordas, e O Homem Armado (1967), para banda ou orquestra de sopros. Entre as obras “progressivas”, destacam-se o Quinteto de Sopros (1954), Ceremony after a Fire Raid (1962-63), Pulsars (1969), Sinopse (1970), Quasars (1970), Rumos (1972), Convergência (1973), e ENTROncamentos SONoros (1972). Sua produção atinge 173 obras – detentoras de 24 prêmios nacionais e internacionais –, às quais se somam trinta transcrições e arranjos.
Notas
1. NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2008.
2. BÉHAGUE, Gerard. Music in Latin America: an introduction. New Jersey: Prentice Hall, 1979.
Obras 1
Exposições 1
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1/10/1977 - 30/11/1977
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 7
- Biografia disponível em: http://www.musicedition.ch/special/widmer.htm Acesso em 21 nov 2007. Não catalogada
- BÉHAGUE, Gerard. Music in Latin America: an introduction. New Jersey: Prentice Hall, 1979.
- ERNST, Widmer. Academia Brasileira de Música. Disponível em: http://www.abmusica.org.br/academico.php?n=rernst-widmer&id=801. Acesso em: 4 jul. 2014.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2008.
- NOGUEIRA, Ilza. Ernst Widmer – Catálogo de Obras. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Música, 2007.
- SADIE, Stanley (Ed.). The New Grove dictionary of music and musicians. London: Macmillan Publishers, 1995.
Como citar
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ERNST Widmer.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12231/ernst-widmer. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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