Moysés Baumstein
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O Arco-íris no Ar Curvo
Julio Plaza, Moysés Baumstein
Holografia
Acervo Fundação Itaú
Texto
Biografia
Moysés Baumstein (São Paulo, São Paulo, 1931 – idem, 1991). Artista visual, videomaker, escritor, editor, economista, sociólogo e dramaturgo. Graduado em economia e pós-graduado em sociologia, frequenta no início da década de 1960 a Escola de Arte Dramática da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (EAD/ECA/USP). Inicia sua carreira artística em 1957, quando estuda com o pintor catalão Joan Ponç (1927-1984). Três anos mais tarde, em 1960, fundam juntos o grupo L'Espai [O Espaço]. Em 1966, realiza a sua primeira exposição individual de pinturas, desenhos e gravuras na Galeria Seta, em São Paulo, e participa de duas exposições: o 15° Salão Paulista de Artes Plásticas e a 1ª Bienal da Bahia. Um ano mais tarde, em 1967, estreia na 9ª Bienal Internacional de São Paulo. Funda, juntamente com Jacó Guinsburg (1921), a editora Perspectiva, mas permanece por apenas dois anos. Logo depois, cria a Símbolo S/A Indústrias Gráficas, que se torna um espaço de pesquisa sobre a imagem.
Na década de 1970, Baumstein estreita sua relação com o cinema ao realizar diversos filmes em Super-8, trabalho pelo qual se torna reconhecido dentro e fora do Brasil ao receber prêmios no Super Festival Nacional do Filme Super-8 (Grife); International Super8 Film Festival, em Toronto, Canadá; e no Festival da Unión de Cineastas de Paso Reducido (Uncipar), em Buenos Aires, Argentina. Em 1976, lança o livro de contos de humor e ficção científica As Máquinas, pela sua própria editora.
Na década de 1980, dedica-se às artes visuais. Cria a produtora cinematográfica VIDECOM, produzindo diversos trabalhos institucionais, além de continuar sua produção experimental. No final de 1982, fascinado com o estudo de imagens em três dimensões, de forma autodidata e com equipamentos improvisados inicia vasta pesquisa sobre estereoscopia e holografia. Em 1983, realiza workshop com o artista e hológrafo alemão Dieter Jung (1941), passando a aprimorar sua técnica.
Sua primeira exposição de holografias ocorre em 1983, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. Participa então das exposições Arte - Novos Meios/Multimeios Brasil 70/80, na Faculdade Armando Alvares Penteado (Faap), São Paulo, em 1985; 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1985); Brasil High Tech, no Centro Empresarial do Rio de Janeiro (1986); e de diversas mostras coletivas de holografia na Alemanha, na Suíça e no Canadá. Forma um grupo com os artistas Augusto de Campos (1931), Décio Pignatari (1927-2012), José Wagner Garcia (1956) e Julio Plaza (1938-2003). Com eles, participa dos eventos holográficos Triluz, no MIS/SP, em 1986, e Idehologia, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), no ano seguinte.
Um ano após sua morte, em 1992, é homenageado pela 9a edição do Festival VideoBrasil/ Sesc, com uma exposição de hologramas e uma mostra de seu trabalho em Super-8.
Análise
A pluralidade dos interesses de Baumstein faz-se notória nas áreas de seu percurso acadêmico: estuda economia, matemática e física, realiza pós-graduação em sociologia e dramaturgia. O arco de sua atuação, a partir dos anos 1960, tem início com as artes visuais. Teve gravuras, pinturas e desenhos expostos em diversas exposições.
Seu interesse no campo literário e na dramaturgia expande-se para além de roteiros e peças teledramáticas para TV quando participa da fundação da editora Perspectiva, especializada na publicação de estudos sobre teatro. Seu projeto gráfico modernista ainda é utilizado nas capas da coleção Debates, que apresentam um fundo branco com economia de traços geométricos e o uso de apenas duas cores.
O grande talento de Baumstein consiste em aliar sua verve empreendedora com seus interesses, a exemplo de seu aprofundamento em pesquisas gráficas no final dos anos 1960, quando dirige uma indústria gráfica. Nesse período, desenvolve métodos de fotografia e impressão em 3D (anáglifos com óculos e película plástica), ao mesmo tempo em que organiza um projeto editorial voltado à publicação de autores nacionais. Dessa forma, As Máquinas, seu livro publicado nos anos 1970, é emblemático para a compreensão do genuíno interesse pelos aspectos da ciência e tecnologia ligados à subjetividade humana, no qual, fazendo prevalecer o espírito non-sense e absurdo, revela um humor sagaz e satírico.
Com premiados trabalhos experimentais em sua prolífica produção em Super-8, seus curtíssimas-metragens evidenciam o humor recorrente de sua produção, com temas banais utilizados para provocar os padrões sociais existentes e os conceitos pré-estabelecidos. Sob tal abordagem crítica, são exemplares O Asno Coroado (1977) e Ginástica Latina (1980), animação em que dois bonecos fazem ginástica, mas comportam-se mal.
Ao fundar, na década de 1980, o primeiro videoclube brasileiro especializado em filmes de arte, oferece subsídios para a pesquisa sobre o cinema, evidenciando uma importante contribuição para o fomento da área. É nesse contexto que funda a VIDECOM, produtora cinematográfica na qual dá prosseguimento a sua produção audiovisual roteirizando, produzindo e dirigindo além de trabalhos comerciais, vídeos experimentais para festivais.
Ao examinar a trajetória de Baumstein, é no campo da holografia que sua atuação se torna mais abrangente. Inventada em 1948 pelo cientista húngaro Dennis Gabor (1900-1979), pode-se entender a holografia como uma técnica correlata ao cinema, pois trata-se de um método de registro de imagens em três dimensões que utiliza o fenômeno da interferência luminosa, aproveitando uma altíssima resolução com a vantagem de não necessitar de óculos especiais, lentes ou acessórios para visualização, o que amplia suas possibilidade de aplicação. Desta maneira, Baumstein propõe uma abordagem técnica/poética para o uso do material como um desenvolvimento natural a partir de seu interesse cinético.
Ao desenvolver novos sistemas de controle cromático para os hologramas de reflexão, cria um parâmetro inédito para a técnica no mundo todo. Sua empresa Holobrás passa a ser referência de inovação, realizando uma produção comercial holográfica em massa, utilizando como suporte o poliéster metalizado.
Baumstein também desenvolveu pesquisas na área do cinema holográfico, numa parceria com o arquiteto paulistano José Wagner Garcia. Juntos constróem um protótipo de um kinetoscópio holográfico – uma máquina similar às do início do cinema, em que eram colocadas placas holográficas com imagens em sequência, visualizadas através de um sistema sincronizado de luz estroboscópica acoplado a lentes plásticas de grandes dimensões. O resultado torna possível a visualização da animação destes "frames tridimensionais" no espaço.
A obra Voyeur, realizada em 1987, mostra com espírito cômico as possibilidades da holografia exploradas por Baumstein: em uma fechadura projetada, uma caverna com caveiras é visualizada pelo espectador que, ao se aproximar – ato necessário para a visualização do holograma na placa holográfica – a imagem desaparece numa poeira de luz, deixando o espectador/voyeur preso à fechadura.
A partir de 1985, Baumstein alia-se aos escritores Augusto de Campos e Décio Pignatari, ao artista espanhol Julio Plaza e a José Wagner Garcia para desenvolver uma sintaxe holográfica na arte. E, em uma bem-sucedida colaboração com Campos, faz uso da holografia para criar os chamados poemas-objetos, oferecendo à qualidade gráfica da poesia uma dimensão espacial com o uso de novas tecnologias, permitindo novas experiências estéticas ao libertar-se dos suportes tradicionais. O Poema Bomba (1983-1997) consiste nas palavras “poema” e “bomba” amplificadas num giro centrífugo, como se explodissem. Esse trabalho foi adquirido pelo Centre d’Art Contemporain de Basse Normandie, na França, em 2002. No entanto, se o resultado estético-subjetivo desses hologramas é sobrepujado pela qualidade técnica e impacto visual, é este mesmo aspecto que irá fundar as premissas para a pesquisa das gerações posteriores, pois seu laboratório, em atividade até 2007, foi doado para o setor de ótica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Obras 1
O Arco-íris no Ar Curvo
Exposições 17
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28/12/1967 - 28/2/1966
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22/9/1968 - 8/1/1967
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7/12/1985 - 20/1/1984
Fontes de pesquisa 7
- ARANTES, Priscila. Arte e mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo: Senac, 2005.
- BAUMSTEIN, Moysés. Máquinas. São Paulo: Edições Símbolo, [1975 ou 1976].
- CINEMATECA Brasileira. Site oficial. Disponível em: http://cinemateca.gov.br. Acesso em: 11 ago. 2014.
- MOYSÉS BAUMSTEIN. Biografia. Disponível em: http://www.videcom.com.br/index.php?opc=meio_empresa. Acesso em: 11 ago. 2014.
- PLAZA GONZÁLEZ, Julio. Catálogo do 9º Videobrasil. Associação Cultural Videobrasil, São Paulo, 1992. Correalização Sesc São Paulo, p. 44.
- PRADO, Gilbertto. Arte e tecnologia no Brasil. In: Emoção art.ificial 2.0. Texto produzido para o ciclo de palestras Contatos com Arte e Tecnologia, realizado entre ago. e set. 2004. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/educacao/download/arte_e_tecnologia_no_Brasil.pdf. Acesso em: 11 ago. 2014.
- SEHN, Thaís Cristina Martino. A capa do livro como instrumento de escolha para o mundo da leitura. In: Seminário de história da arte, n. 11, Pelotas, 2012. Disponível em: http://www.academia.edu/7044937/A_CAPA_DO_LIVRO_COMO_INSTRUMENTO_DE_ESCOLHA_PARA_O_MUNDO_DA_LEITURA. Acesso em: 11 ago. 2104.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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MOYSÉS Baumstein.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa217795/moyses-baumstein. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7