Augusto de Campos

Luxo, 1966
Augusto de Campos
Off-set sobre papel
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
Texto
Augusto Luís Browne de Campos (São Paulo, São Paulo, 1931). Poeta, tradutor, crítico literário e musical e ensaísta. Sua poesia situa-se no campo das vanguardas da segunda metade do século XX, como o concretismo. Utiliza diferentes procedimentos de criação artística, mesclando recursos da poesia, das artes visuais, da música e das tecnologias digitais.
Forma-se pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo. Publica seus primeiros poemas em 1949, na Revista Brasileira de Poesia, editada pelo Clube de Poesia, entidade ligada ao grupo literário da Geração de 45. Em seu livro de estreia, O Rei Menos o Reino (1951), faz uso da construção tradicional de versos dos poemas líricos. As temáticas trazem questões existenciais como a relação entre vida e morte, construindo imagens poéticas fantásticas e imaginárias de estética surrealista, como no poema “O Vivo” ("As mortas-vivas rompem as mortalhas / Miram-se umas nas outras e retornam / Seus cabelos azuis, como arrastam o vento”1. No entanto, a construção das frases é feita em ordem indireta, rompendo com uma estrutura linear.
Em poemas como “O Sol por Natural” (1950-1951), “Ad Augustum per Angusta” (1951-1952) e “Os Sentidos Sentidos” (1951-1952), direciona o rigor na composição para recursos como a espacialização de palavras e linhas, a criação de neologismos e a fragmentação léxica.
Em 1952, ao lado de Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1927-2012), cria o grupo Noigandres e edita uma revista de mesmo nome. Com eles, organiza o movimento da poesia concreta, que defende o fim do ciclo histórico do verso e propõe a criação de novas estruturas de composição poética, integrando recursos sonoros, visuais e verbais numa unidade "verbivocovisual". Publicado no nº 2 da revista Noigandres, Poetamenos (1953) é um ciclo de poemas coloridos, de temática amorosa, em que a sintaxe discursiva é substituída pela organização gráfico-visual das palavras. São os primeiros exemplos de poesia concreta publicados no Brasil.
Em 1956, participa da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Dois anos depois, a revista Noigandres nº 4 publica o Plano-piloto da Poesia Concreta, que apresenta os princípios teóricos do movimento.
Adere à poesia participante com o poema “Greve” (1962), que concilia a invenção de linguagem com temas de caráter político e social, propondo uma arte revolucionária. A série de poemas-cartazes Popcretos (1964-1966) afirma a contestação da ordem econômica e política pelo trabalho criativo com a linguagem.
A temática social está presente também em poemas como “Luxo / Lixo” (1965), uma paródia das logomarcas comerciais. Em “Psiu”, poema circular construído com colagem de textos e imagens recortados de jornais e revistas, pode-se ler a frase "Saber viver, saber ser preso, saber ser solto" junto a outros retalhos semânticos como "bomba", "dinheiro", "amar", "vamos falar", "livre" e "paz", além de "pedaços de mensagens comerciais, referências à ditadura militar e aos atos institucionais"2.
No poema “Cidade” (1963), faz uma representação irônica do movimento caótico, acelerado e ruidoso da vida urbana, aglutinando, numa única linha, fragmentos de palavras em diversos idiomas, formando uma frase quase impronunciável. Esse poema permite diferentes possibilidades de leitura, pela combinação e permutação de prefixos e sufixos presentes na frase, aglutinados ao substantivo "cidade", gerando significados como "atrocidade", "caducidade", "causticidade", "ferocidade". Uma experiência similar é Colidouescapo (1971), livro-poema composto de folhas soltas em que diversos fragmentos de palavras podem ser combinados de modo aleatório pelo leitor, que participa da construção do sentido, numa leitura interativa.
Poemóbiles (1974), conjunto de 12 poemas-objeto coloridos tridimensionais, desenvolvidos em parceria com o artista plástico espanhol Júlio Plaza (1938-2003), também tem a participação visual e tátil do leitor, que manipula cada uma dessas peças, conduzindo a diferentes interpretações. No poema “Viva Vaia”, que integra essa série, a tipologia empregada abole as fronteiras entre palavra e imagem: os signos visuais podem ser "lidos" como letras (sons/ideias) e como formas plásticas, recuperando a dimensão visual da escrita.
Publica ainda a antologia Viva Vaia (1949-1979), que reúne parte de sua produção poética, e as coletâneas Despoesia (1994) e Não (2003), esta última acompanhada de um CD-ROM com poemas dinâmicos e interativos, elaborados com o apoio de programas multimídia.
No campo da crítica literária e do ensaio, revaloriza poetas criativos do passado, como o romântico Sousândrade (1833-1902), o simbolista Pedro Kilkerry (1885-1917) e Pagu (1910-1962), e publica as antologias Re-Visão (1964 e 1971) e Pagu: Vida-Obra (1982).
Interessado em movimentos de renovação da música popular brasileira, como a bossa nova e a tropicália, e na música erudita de vanguarda, publica os livros O Balanço da Bossa (1974) e Música de Invenção (1998).
Um dos nomes da poesia concreta no Brasil, com uma vasta obra e voltado para a pesquisa e a experimentação da linguagem, Augusto de Campos funde em seus poemas a palavra, o som, a imagem e o movimento, fazendo com que o leitor interaja com sua poética.
Notas:
1. CAMPOS, Augusto de. Viva Vaia. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. p. 17.
2. GUIMARÃES, Júlio Castañon; SUSSEKIND, Flora (orgs). Sobre Augusto de Campos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2004. p. 155.
Obras 40
Espetáculos 3
Exposições 64
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5/10/1973 - 2/12/1973
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16/5/1985 - 23/6/1985
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2/9/1985 - 9/9/1985
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2/9/1985 - 9/9/1985
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12/9/1985 - 30/9/1985
Performances 1
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30/9/1997 - 30/9/1997
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 5
- AUGUSTO DE CAMPOS. Site Oficial do Artista.Disponível em: http://www.augustodecampos.com.br/poemas.html. Acesso em: 10 fev. 2021.
- CAMPOS, Augusto de. Viva Vaia. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000.
- GUIMARÃES, Júlio Castañon; SUSSEKIND, Flora (orgs). Sobre Augusto de Campos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2004.
- Programa do Espetáculo - O Cobrador - 1990. Não Catalogado
- SIMON, Iumna Maria, e DANTAS, Vinícius. Poesia concreta (coleção Literatura Comentada). São Paulo: Nova Cultural, 1982, p. 103.
Como citar
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AUGUSTO de Campos.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa2884/augusto-de-campos. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7