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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Haroldo de Campos

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2024
19.08.1929 Brasil / São Paulo / São Paulo
16.08.2003 Brasil / São Paulo / São Paulo
Registro fotográfico Sérgio Guerini

Cor, luz, mente
Arnaldo Antunes, Julio Plaza, Haroldo de Campos, Ricardo Araújo, Augusto Campos
Vídeo
Coleção Anabela Plaza

Haroldo Eurico Browne de Campos (São Paulo, São Paulo, 1929 - idem, 2003). Poeta, tradutor, ensaísta e crítico literário. Dedica-se à produção de poesia concreta, valorizando a comunicação visual por meio da literatura. Transita entre diferentes vertentes, mas é no encontro do concretismo com o barroco que concentra a maior parte de sua produção.

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Haroldo Eurico Browne de Campos (São Paulo, São Paulo, 1929 - idem, 2003). Poeta, tradutor, ensaísta e crítico literário. Dedica-se à produção de poesia concreta, valorizando a comunicação visual por meio da literatura. Transita entre diferentes vertentes, mas é no encontro do concretismo com o barroco que concentra a maior parte de sua produção.

Durante o período de graduação em direito na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), dedica-se também à criação poética, vinculado ao Clube da Poesia, grupo ligado à geração de 45, que se empenha em fazer a poesia brasileira retornar às formas clássicas e à valorização de temas universais, e não de uma experiência nacional, defendida pelos modernistas. Forma-se em 1952, mesmo ano em que rompe com o Clube e cria, com o irmão Augusto de Campos (1931) e o amigo Décio Pignatari (1927-2012), a revista Noigandres, publicação inaugural do movimento concretista.

Em 1962, escreve o ensaio Da Tradução como Criação e como Crítica, no qual valoriza a “transcrição” como o mais correto método de tradução. Para Haroldo, o principal objetivo do tradutor é fazer com que a essência poética da língua de partida encontre ressonância na língua de chegada, mesmo que isso signifique certas alterações semânticas em relação ao poema original.

No final da década de 1960, tem contato e trabalha com integrantes do movimento tropicalista, em especial Caetano Veloso (1942) e Gilberto Gil (1942), com os cineastas Júlio Bressane (1946) e Ivan Cardoso (1952) e com o artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980). Na mesma época, inicia seu doutorado sobre a obra Macunaíma, de Mário de Andrade (1893-1945), com o auxílio da bolsa Guggenheim, trabalho publicado, mais tarde, com o título Morfologia de Macunaíma.

Nesse momento, o surrealismo presente em sua obra de juventude O Auto do Possesso (1951), publicado aos seus 21 anos é substituído por uma concretude que valoriza o isomorfismo entre o trabalho formal e o conteúdo do texto poético1. Essa mudança de perspectiva acontece devido à leitura que o poeta faz de Un Coup de Dés, do escritor francês Mallarmé (1842-1898), que se torna o embrião das ideias que alimentam o movimento concretista e cujos resultados aparecem em suas primeiras obras experimentais, O Ã Mago do Ô Mega (1955), Fome de Forma (1958) e Servidão de Passagem (1961), em particular na primeira, formada por um conjunto de cinco poemas. Em um fundo negro, palavras, sílabas e letras se misturam e se separam, tendo como ponto de chegada o que o poeta entende como essência da linguagem: o ex nihilo2, que finaliza a série.

Os principais recursos poéticos utilizados nessa série e nos primeiros trabalhos concretistas são aliterações, assonâncias, rimas internas e, sobretudo, o estabelecimento de relações sonoras entre palavras por meio de paranomásias e trocadilhos, o que é bastante comum na poética dos poetas seiscentistas ou barrocos. O uso desses jogos linguísticos evidencia a busca por certo tipo de agudeza, no sentido que o crítico João Adolfo Hansen (1942) indica em poetas como Gregório de Matos (1636-1696), valorizado por Haroldo. Tal convicção na relevância do barroco para a história da literatura nacional o leva a escrever uma crítica à obra Formação da Literatura Brasileira (1959), de Antonio Candido (1918). No ensaio O Sequestro do Barroco (1989), Haroldo questiona a pouca importância dada ao estilo nos estudos de Candido, bem como aos escritores nos quais é possível identificar um veio barroco, como é o caso de Sousândrade (1833-1902).

Por isso, também, nota-se no decorrer de sua obra um retorno à verborragia, comum em seu trabalho da juventude, mas que volta repleta de referências literárias, oriundas principalmente de seus textos críticos e de seus trabalhos de tradução. O destaque é o texto Galáxias (1984),  uma mistura de prosa e poesia que valoriza, sobretudo, a leitura em voz alta, em que, de acordo com Haroldo, as “palavras oralizadas podem ganhar força talismânica, aliciar e seduzir como mantras”.

Na crítica literária, Leyla Perrone-Moisés indica a filiação de Haroldo a três linhas de pesquisa: o formalismo russo, sob a perspectiva das ideias linguísticas de Roman Jakobson (1896-1982), o desconstrucionismo do filósofo Jacques Derrida (1930-2004) e a estética da recepção desenvolvida pelo crítico Robert Jauss (1921-1997). Esta última, em conjunto com os conceitos de sincronia e diacronia, presentes na obra do linguista russo, serve-lhe de base para o seu projeto de reconfiguração da história literária, assim como para a reavaliação de categorias importantes para os estudos comparados, como é o caso da influência e da intertextualidade. Desse modo, a relação entre a literatura estrangeira e a nacional não pode mais ser entendida como mera influência passiva, mas sim como deglutição antropofágica, o que recupera uma perspectiva presente no modernismo de Oswald de Andrade (1890-1954). Também daí vem o conceito de paideuma formulado por Pound e redefinido por Haroldo de Campos , que valoriza uma leitura da tradição literária mediante necessidades estéticas do presente, o que ocasiona críticas dirigidas ao grupo concretista, acusado de fazer uma leitura da história literária somente pela perspectiva do concretismo.

Haroldo recebe oito prêmios Jabuti e o título de doutor honoris causa, concedido pela Universidade de Montreal, Canadá. Suas obras fazem parte do acervo da Casa das Rosas, instituição cultural localizada em São Paulo, que passa a se chamar Espaço Haroldo de Campos.

Haroldo de Campos transita entre diferentes campos das artes, promovendo o encontro entre literatura e artes visuais. Além disso, contribui para os estudos sobre traduções e críticas literárias de importantes autores da literatura brasileira.

Notas

1. FALEIROS, Álvaro. Haroldo de Campos e a dobra de Mallarmé. In: Congresso Nacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada, 9, 2008. São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Abralic. Disponível em: http://www.abralic.org.br/eventos/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/065/ALVARO_FALEIROS.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019.

2. Locução latina que significa “do nada”.

 

Obras 14

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Coleção Brasiliana Itaú / Reprodução Fotográfica Horst Merkel

Espetáculos 6

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Exposições 20

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Fontes de pesquisa 9

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  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3 ed. São Paulo: Cultrix, 1989.
  • CAMPOS, Augusto; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-60. São Paulo: Edições Invenção, 1965.
  • CAMPOS, Haroldo de. Galáxias. Organização Trajano Vieira. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2004.
  • FALEIROS, Álvaro. Haroldo de Campos e a dobra de Mallarmé. In: Congresso Nacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada, 9, 2008. São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Abralic. Disponível em: http://www.abralic.org.br/eventos/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/065/ALVARO_FALEIROS.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019.
  • FAUSTO, Boris. Lembrando Haroldo. Folha de S.Paulo, São Paulo, Caderno Opinião, 25 ago. 2003. p. A2
  • HANSEN, João Adolfo. Retórica da agudeza. In: Letras Clássicas, n. 4, ano 4, Humanitas, São Paulo, 2000. p. 317-342
  • OSEKI-DÉPRÉ, Inês. Haroldo de Campos ou a educação do sexto sentido. In: CAMPOS, Haroldo de. Melhores poemas de Haroldo de Campos. 3ª. ed. São Paulo: Global Editora, 2000.
  • PERRONE-MOISÉS, Leyla. O teórico e o crítico. Folha de S.Paulo, São Paulo, Caderno Mais!, 14 set. 2003. p. 14-16
  • SCHANEIDERMAN, Boris. Haroldo de Campos, poesia russa moderna, transcriação. Revista da USP, n. 59, set.-out.-nov. 2003. p. 172-180

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