Sérgio Camargo

Sem Título, 1985
Sérgio Camargo
Concreto celular pré-moldado e pintura aqua-cryl
Texto
Sérgio Camargo (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1930 - idem, 1990). Escultor. Considerado um dos mais originais artistas brasileiros ligados à vertente construtiva, destaca-se por explorar os limites da forma ao realizar cortes audaciosos nos materiais, em um procedimento por ele denominado “geometria empírica”.
Embora tenha contato com trabalhos da vertente construtiva desde o início da carreira, Sérgio Camargo desenvolve uma obra independente e pessoal, sem filiar-se a qualquer grupo ou movimento. Durante dois anos (1946-1948), estuda na Academia Altamira, em Buenos Aires, onde é orientado pelos artistas argentinos Emilio Pettoruti (1892-1971) e Lucio Fontana (1899-1968). Lá, interessa-se pelo construtivismo da Argentina. Parte para Paris em 1948, onde estuda a obra do escultor romeno Constantin Brancusi (1876-1957) e faz um curso de filosofia na Sorbonne. Nesse período, familiariza-se com as esculturas de Georges Vantongerloo (1886-1965) e Henri Laurens (1885-1954).
De volta ao Brasil, produz em 1954 suas primeiras esculturas figurativas de bronze, nas quais já se evidenciam a preocupação com o volume das obras e a potência dos cortes que ordenam as massas, qualidades fundamentais de seus trabalhos posteriores. Novamente em Paris (1961), frequenta o curso de sociologia da arte ministrado por Pierre Francastel (1905-1970), na École Pratique des Hautes Études, e faz experimentações com gesso, areia e tecido, criando estruturas informes e irregulares.
A partir de 1963, produz a série Relevos, da qual se ocupa proficuamente por cerca de dez anos. A operação será quase sempre a mesma: dispor cilindros brancos de madeira de diversos tamanhos, cortados em ângulos variados, sobre uma superfície plana também branca e de madeira. O desafio está em criar composições nas quais a forma geométrica original ⎼ cilindros ou paralelepípedos ⎼ é sistematicamente rompida e rearticulada para estabelecer um novo arranjo, não reversível ao ponto de partida. Nesse instante, a diferença entre o método de Camargo e o procedimento do construtivismo histórico torna-se evidente. Mesmo incorporando a coerência da atitude sistemática e a exatidão geométrica, seu trabalho se abre para o imprevisto; abarca, na interpretação do crítico Ronaldo Brito (1949), a ordem e a loucura da ordem. Os relevos são acolhidos na Europa, e Camargo desenvolve uma carreira internacional bem-sucedida.
Em meados dos anos 1960, o artista começa a experimentar o mármore de carrara em algumas peças. Realiza diversas obras para espaços públicos, entre elas: o muro estrutural do Palácio do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília; o Tríptico do Banco do Brasil de Nova York; a coluna Homenagem a Brancusi, para a Faculdade de Medicina de Bourdeaux, França; uma escultura na Praça da Sé, em São Paulo; e um monumento para o Parque da Catacumba, no Rio de Janeiro.
Somente nos anos 1970 passa a utilizar quase exclusivamente o mármore em trabalhos decididamente escultóricos, numa passagem natural dos relevos conhecidos como "trombas" às peças de chão. Por um lado, tal material, com fortes raízes na tradição escultórica, acentua o caráter de permanência e estabilidade dos trabalhos. Por outro, a superfície lisa e uniforme do mármore polido reage de modo mais efetivo aos efeitos da luz, intensificando o aspecto dinâmico e transitório do conjunto.
Camargo retorna definitivamente ao Rio de Janeiro em 1974, mas mantém até o fim da vida um ateliê em Massa Carrara, Itália. Com peças alongadas em pedra negro-belga, produzidas nos anos 1980, o artista experimenta de modo radical os limites da forma ao realizar cortes cada vez mais agudos, ameaçando a integridade física da matéria. Alcança o ponto extremo de convivência possível entre a ordem e sua dissolução. Segundo os críticos, esses trabalhos acrescentariam certa conotação dramática ao singular construtivismo de Sérgio Camargo.
A possibilidade de combinar, de modo coerente e conciso, um número restrito de volumes geométricos (cilindros, cubos, retângulos), sem prestar contas a uma racionalidade didática, confere ao método de Camargo um caráter experimental permanente ao longo de sua obra. Tal experimentalismo, guardadas as devidas diferenças, coloca-o ao lado de artistas como Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980). Mesmo orientada pelo princípio construtivo da coerência e da lucidez integrais, a obra de Camargo não abandona o páthos de aventura característico da lírica moderna, como também observa Ronaldo Brito.
Num período em que se acredita no esgotamento da inovação e no qual se defende a superação do legado moderno, Sérgio Camargo inaugura uma trajetória em que a relação conflituosa, mas sempre atenta, com uma tradição preexistente gera uma produção inovadora e singular.
Obras 13
Exposições 386
Fontes de pesquisa 51
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- ARNAUD, Raquel (coord.). Mira Schendel; Sergio Camargo; Willys de Castro. Texto Ronaldo Brito, Roberto Conduru, João Masao Kamita, Cristina Bach; versão em inglês Ricardo Gomes Quintana. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2000. 67 p., il. p&b. color.
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- BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464. 700 BI588sp Sec.XX
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SÉRGIO Camargo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa8759/sergio-camargo. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7