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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Grupo Santa Helena

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.06.2020
1934 Brasil / São Paulo / São Paulo
Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini

Casa com Terraço e Mulher (Vista do Santa Helena), 1940
Francisco Rebolo
Óleo sobre tela, c.i.d.
77,00 cm x 65,00 cm

A existência do Grupo Santa Helena, e outras associações de artistas, torna-se um elemento fundamental para a consolidação da arte moderna em São Paulo nos decênios de 1930 e 1940. No entanto, sua abordagem e a compreensão como grupo não deixam de ser um desafio para os historiadores da arte brasileira. Sem programas preestabelecidos, o Santa He...

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Histórico

A existência do Grupo Santa Helena, e outras associações de artistas, torna-se um elemento fundamental para a consolidação da arte moderna em São Paulo nos decênios de 1930 e 1940. No entanto, sua abordagem e a compreensão como grupo não deixam de ser um desafio para os historiadores da arte brasileira. Sem programas preestabelecidos, o Santa Helena surge da união espontânea de alguns artistas utilizam salas como ateliê no Palacete Santa Helena, antigo edifício na Praça da Sé,1 em São Paulo, a partir de meados de 1934. O primeiro deles é Francisco Rebolo, que instala seu escritório de empreiteiro e artista-decorador na sala número 231 e começa a pintar, em 1935. Nesse ano Mário Zanini divide a sala com Rebolo, posteriormente alugando a de número 233, compondo a célula inicial do futuro agrupamento. Em datas diversas, uniram-se a eles, por ordem de chegada, Manoel Martins, Fulvio Pennacchi, Bonadei, Clóvis Graciano, Alfredo Volpi, Humberto Rosa e Rizzotti.

O ambiente criado nas salas de trabalho é de troca mútua, dividindo-se os conhecimentos técnicos de pintura e as sessões de modelo vivo, decidindo sobre a remessa de obras aos salões e organizando as famosas excursões de fim de semana aos subúrbios da cidade para execução da pintura ao ar livre. Relativamente afastado do meio artístico da época, o grupo só foi notado em outubro de 1936 por pintores mais experientes como Rossi Osir e Vittorio Gobbis, por ocasião da mostra Exposição de Pequenos Quadros, organizada pela Sociedade Paulista de Belas Artes no Palácio das Arcadas. Mas é como participantes da Família Artística Paulista - FAP, - agremiação co-fundada e dirigida por Rossi Osir, responsável por elaboração de salões -, que ganham visibilidade pública e passam a ser conhecidos pela crítica especializada como Grupo Santa Helena.2 Durante a curta duração dos ateliês conjuntos no palacete da Sé, não apresentam nenhuma exposição de seus trabalhos sob essa rubrica.3

Em 1939, após visita ao 2º salão organizado pela FAP, Mário de Andrade (1893 - 1945) identifica e tenta conceituar pela primeira vez a existência de uma "escola paulista", caracterizada por seu modernismo moderado, ocupando o campo litigioso entre as experimentações formais da vanguarda dos anos 1920 e o academismo ainda vigente no meio paulistano. Como elemento de unificação entre os expositores, enfatiza a preocupação com o apuro técnico, a volta à tradição do fazer pictórico e o interesse pela representação da realidade concreta.

Somente em 1944, em texto dedicado a Clóvis Graciano, Mário de Andrade lança a tese de que a origem proletária ou da pequena burguesia é o elo e elemento determinante na plástica do grupo. O crítico afirma: " A que atribuir, portanto, as tendências coletivas de cor, de técnica geral e de assunto dessa Família Artística Paulista, até hoje rastreáveis em sua arte? A meu ver, o que caracteriza o grupo é seu proletarismo. Isso lhe determina a psicologia coletiva, e conseqüentemente a sua expressão".4 Em geral, esses artistas têm sua formação básica em escolas profissionalizantes, como o Liceu de Artes e Ofícios e a Escola Profissional Masculina do Brás. Os que estudam no exterior passam ao largo dos ateliês e escolas freqüentados pelos modernistas de 1922. Na época do Santa Helena ganham, em sua maioria, a vida como artesãos ou pintores-decoradores, o que contribui para a consciência artesanal de suas obras. A pintura de cavalete é realizada nos momentos de folga. A influência européia - principalmente do impressionismo e pós-impressionismo, do novecento italiano e do expressionismo - que se faz sentir na produção dos santelenistas se dá pela leitura de livros e revistas e por exposições que chegam do exterior.

O apego à representação da realidade leva-os a pintar principalmente paisagens, cujos focos são as vistas dos subúrbios e arredores da cidade, as praias visitadas nos fins de semana, a paisagem urbana. Percebe-se a preferência por locais anônimos no limite entre o campo e a cidade. A despeito das diferenças estilísticas entre eles, identifica-se em suas obras uma preferência por tons rebaixados, de fatura fosca, dando uma tonalidade acinzentada aos quadros. Outros gêneros foram trabalhados pelo Grupo Santa Helena, como a natureza-morta, o retrato e auto-retrato.

Com a dissolução natural do grupo,5 que começa a se desfazer no fim da década de 1930, seus artistas desenvolvem, muitas vezes com resultados desiguais, carreiras individuais. Entre eles, Alfredo Volpi é com certeza o que mais se destaca. Vale notar que artistas não-pertencentes ao Santa Helena guardam semelhanças estilísticas com os integrantes do grupo. Tais semelhanças apontam, com mais força e coesão, uma nova posição artística em São Paulo, autônoma em relação ao modernismo dos anos 1920 sem ser acadêmica.

Notas

1 Construído na década de 1920, o Palacete Santa Helena foi destruído em 1971, dando lugar à Estação Sé do metrô.

2 Segundo o historiador Walter Zanini, "as primeiras referências específicas ao Grupo Santa Helena foram as de Sérgio Milliet nos artigos ReboloMário Zanini, publicados no Suplemento em Rotogravura de O Estado de S. Paulo", em 1941. Cf.: ZANINI, Mário. A arte no Brasil nas décadas de 1930 -1940: O Grupo Santa Helena. São Paulo: Nobel, Edusp, 1991. p. 91.

3 A primeira exposição do Grupo Santa Helena data de 1966. A mostra O Grupo Santa Helena foi realizada na Galeria de Arte 4 Planetas, em São Paulo, com texto de Paulo Mendes de Almeida. Cf.: COSTA, Helouise; FREIRE, Cristina. A exposição como tema: o exemplo do Grupo Santa Helena. In: AJZENBERG, Elza Maria (org.). Operários na Paulista: MAC USP e artistas artesãos. São Paulo: MAC, 2002.

4 ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre Clóvis Graciano. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 10. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1971. p.157.

5 Vale dizer que esses artistas nunca deixam de conviver e manter a amizade, elegendo outros locais de encontro.

Obras 1

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Fontes de pesquisa 10

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  • 40 anos: Grupo Sta. Helena. São Paulo: MIS : Paço das Artes, 1975. [32] p., il. color.
  • AJZENBERG, Elza Maria (Org.). Operários na Paulista: MAC USP e artistas artesãos. Curadoria Daisy Valle Machado Peccinini de Alvarado. São Paulo: MAC, 2002.
  • ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao museu. São Paulo: Perspectiva : Diâmetros Empreendimentos, 1976. (Debates, 133).
  • ALVARADO, Daisy Valle Machado Peccinini de (coord.). Grupo Seibi - Grupo do Santa Helena: década 35-45. São Paulo: FAAP, 1977. [96] p., il. p&b.
  • ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre Clóvis Graciano. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB/USP, n. 10, p.156-175, 1971. Apêndice II [Texto publicado originalmente em 1944].
  • ANDRADE, Mário. Esta paulista família. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n.10. São Paulo: USP, 1971.
  • LOURENÇO, Maria Cecília França. Operários da modernidade. São Paulo: Hucitec, 1995. 322 p., il. p.b. color. (Estudos urbanos, 9. Série Arte e vida urbana, 3).
  • MOTTA, Flávio. A Família Artística Paulista. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n.10. São Paulo: USP, 1971.
  • O GRUPO Santa Helena. Curadoria Walter Zanini, Marília Saboya de Albuquerque. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1996.
  • ZANINI, Walter. A arte no Brasil nas décadas de 1930-40: o Grupo Santa Helena. São Paulo: Nobel : Edusp, 1991.

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