Claudio Tozzi
![Colheita, 1995 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/008517001019.jpg)
Colheita, 1995
Claudio Tozzi
Pigmentos, resina acrílica e poliuretano sobre tela colada em madeira
84,00 cm x 75,00 cm
Texto
Claudio José Tozzi (São Paulo, São Paulo, 1944). Pintor. Bastante versátil, o artista explora diferentes técnicas e temas ao longo de sua trajetória. Da arte pop, abordando temáticas políticas e urbanas, à pintura abstrata, privilegiando formas geométricas, Tozzi traça um caminho de investigação da plasticidade da pintura e se consolida como um expoente da arte moderna brasileira.
Inicia a carreira como artista gráfico na década de 1960, quando vence o concurso de cartazes para o 11º Salão Paulista de Arte Moderna (1962), antes mesmo de iniciar sua graduação em arquitetura, concluída em 1968, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP). Vivencia toda a efervescência política e cultural da década de 1960, marcada por importantes fatos históricos, tanto nacional como internacionalmente.
Influenciado por essa atmosfera, produz intensamente nesse período. Em seus trabalhos são encontrados símbolos da sociedade de consumo, que aparecem como imagens ou objetos. Utiliza sinais de trânsito, bandeiras, letreiros, peças publicitárias e histórias em quadrinhos, retira-os de seu contexto e atribui-lhes novos sentidos. É influenciado por Sérgio Ferro (1938), Flávio Império (1935-1985) e Maurício Nogueira Lima (1930-1999), em cujas obras se percebe a convergência entre a cartazística soviética, as vertentes construtivistas e o vocabulário pop com finalidade política. Trabalhos como Usa e abusa (1966) e Paz (1963) são característicos da época.
A partir de 1967, apropria-se de trechos de histórias em quadrinhos e lhes dá sentido crítico, sob a influência do artista norte-americano Roy Lichtenstein (1923-1997), realizando as telas Até que enfim… (1967) e Bandido da luz vermelha (1967). Ao mesmo tempo, faz trabalhos explicitamente engajados, como Guevara, vivo ou morto (1967), iniciada no dia seguinte ao anúncio da morte de Che Guevara (1928-1967), e A prisão (1968). Alguns deles são mostrados em exposições importantes, como a 9ª Bienal Internacional de São Paulo (1967), e coletivas em Londres e Buenos Aires. Em uma dessas exposições, no Salão Nacional de Arte Contemporânea, em 1967, o painel Guevara, vivo ou morto é destruído a machadadas por um grupo radical de extrema direita, sendo posteriormente restaurado pelo artista.
Em 1969, viaja a estudos para a Europa e, a partir desse momento, seus trabalhos revelam uma maior preocupação com a elaboração formal, perdendo o caráter panfletário que os caracterizava. O artista deixa de lado a crítica social e passa a se dedicar à pesquisa de cores e formas, sobretudo da disposição gráfica e impessoal das figuras. Dessa reflexão, nascem as séries Astronautas (1969), Presilhas e parafusos. Sobre esta última série, o curador Fábio Magalhães (1942) afirma que "as diversas abordagens do parafuso correspondem a um processo de reflexão sobre as possibilidades gráficas e metafóricas de um mesmo tema".1
Em 1970, realiza o painel Zebra, encomendado pelo proprietário de um prédio na praça da República, em São Paulo. A obra de 64 m2 foi criada pelo artista como uma forma de quebrar um pouco a sisudez do cenário paulistano, pois traz certa graça ao expor uma zebra pastando em um ambiente muito marcado pelo concreto, como a cidade de São Paulo. As cores vivas, no estilo pop art que marca a produção anterior do artista, contribuem para esse efeito, chamando a atenção dos passantes.
Dando continuidade à sua constante experimentação artística, dois anos mais tarde, cria telas com materiais orgânicos, pigmentos e objetos distribuídos regularmente em caixas de acrílico. Produz trabalhos mais conceituais, em que alia a pintura ao uso de palavras, como em Dissociação das cores (1974) e Color (1975), e realiza paisagens em que a aplicação reticulada de tinta cria zonas de cor regulares. Algumas das obras são exibidas na mostra Cor/Pigmento/Luz, na Galeria Bonfiglioli, em São Paulo, em 1975. No ano seguinte, participa da Bienal de Veneza. Em 1979, realiza outra obra no espaço urbano, o mural da estação Sé do metrô, em São Paulo. O trabalho dá origem à série de pinturas Colcha de retalhos, feitas com padrões diferentes de cor.
Nos anos 1980, sua produção se abre a novas temáticas figurativas, como é possível observar nas séries dos papagaios e dos coqueirais. Apresenta também a tendência à geometrização das formas. Na realização dos quadros, utiliza um rolo de borracha de superfície reticulada, o que agrega novos aspectos às suas obras, como textura e volumetria. Passa a realizar trabalhos abstratos, nos quais explora efeitos luminosos e cromáticos.
Em 1991, expõe na 21ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 1993, apresenta mostra individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Entre as exposições de que participa nos anos seguintes, destacam-se Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento (2000), na Fundação Bienal, em São Paulo, Nave dos Insensatos (2005), no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), e The EY Exhibition: The World Goes Pop (2015), na Tate Modern, museu britânico de arte moderna localizado em Londres.
Claudio Tozzi marca a arte brasileira do século XX com sua inquietação e busca constante por novos modos de pintar, construindo um vasto acervo com obras que se diferenciam esteticamente, mas que guardam algo em comum: a relação com os acontecimentos que lhes são contemporâneos. Tozzi é, antes de tudo, um pintor de seu tempo, seja ele qual for.
Nota
1. MAGALHÃES, Fábio. Obra em construção: 25 anos de trabalho de Claudio Tozzi. Rio de Janeiro: Revan, 1989. p. 40.
Obras 74
4 Papagaios
A Luta
A Prisão
A Subida do Foguete
Areia/Céu/Terra/Mar
Exposições 420
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20/9/1967 - 19/10/1967
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22/9/1968 - 8/1/1967
Mídias (1)
Links relacionados 3
Fontes de pesquisa 28
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- TOZZI, Claudio. Paisagens/trópico revisitado. Sao Paulo : Galeria Alberto Bonfiglioli, 1980.
- TOZZI, Claudio. Passagens. Texto Ignácio de Loyola Brandão, Haroldo de Campos; fotografia Romulo Fialdini. São Paulo : Galeria de Arte de São Paulo, 1984.
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CLAUDIO Tozzi.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa8528/claudio-tozzi. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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