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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

João Timotheo da Costa

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.05.2024
24.12.1879 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
20.03.1932 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Sem Título
João Timotheo da Costa
Óleo sobre madeira, c.i.d.
16,00 cm x 22,00 cm
Coleção nelson Adoglio (São Paulo SP)

João Timótheo da Costa (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1879 – Idem, 1932). Pintor, decorador, gravador. Sua produção apresenta grande qualidade artística. Com influências do impressionismo e do pós-impressionismo, abrange diversos gêneros da pintura: retratos, pintura histórica, cenas de costumes e sobretudo paisagens que têm um sentido particu...

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João Timótheo da Costa (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1879 – Idem, 1932). Pintor, decorador, gravador. Sua produção apresenta grande qualidade artística. Com influências do impressionismo e do pós-impressionismo, abrange diversos gêneros da pintura: retratos, pintura histórica, cenas de costumes e sobretudo paisagens que têm um sentido particularmente poético. Junto com seu irmão Arthur Timóteo da Costa (1882-1922), é considerado um pré-modernista em razão da experimentação constante no modo de pintar, com vistas à modernização da arte.

Nasce em uma família humilde e trabalha, desde 1894, quando tinha 15 anos, como aprendiz na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, instituição que emprega e incentiva outros jovens artistas, entre eles seu irmão Arthur, Rodolfo Chambelland (1879-1967) e Eugênio Latour (1874-1942). Paralelamente, matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde estuda desenho com Daniel Bérard (1846-1910), bem como a disciplina de modelo vivo com Zeferino da Costa (1840-1915) e pintura com Rodolfo Amoedo (1857-1941). Cursa também as aulas de gravura no Liceu de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro. 

Participa de várias edições da Exposição Geral de Belas Artes, a partir de 1905, conquistando prêmios de menção honrosa (de segundo grau, em 1906, e de primeiro grau, no ano seguinte). Em 1910, parte para Paris como integrante do grupo de artistas brasileiros contratado pelo governo para executar a decoração do pavilhão da Exposição Internacional de Turim, na Itália, realizada no ano seguinte. Esse trabalho lhe permite visitar os museus europeus, onde conhece obras impressionistas e divisionistas, além das pinturas decorativas do artista francês Puvis de Chavannes (1824-1898), que marcam sua carreira. Conquista a pequena medalha de prata, em 1913, e a grande medalha de prata, em 1919, na Exposição Geral de Belas Artes.

Uma das características de João Timótheo é seu modo arrojado de pintar. Estrutura as composições por meio da cor, em pinceladas largas, que revelam sua gestualidade. Trabalha as cores tanto com a espátula quanto com o pincel, obtendo fortes empastamentos. Seus quadros, principalmente as marinhas, destacam-se pela luminosidade sutil, muito controlada. Em Porto (1920), por exemplo, revela sensibilidade no uso da cor. Sua pincelada sugere volumes e distâncias e explora o jogo entre as formas sólidas (barcos, construções) e seus reflexos coloridos na água. 

Vencendo as dificuldades enfrentadas por tantos pintores negros, recebe várias encomendas de pinturas decorativas de instituições prestigiadas à época. Em 1920, produz, com seu irmão Arthur, o primeiro de uma série de painéis decorativos para o Fluminense Futebol Clube, terminando sozinho a encomenda desse trabalho em 1924, devido à morte do irmão, em 1922. 

Em 1925, executa cinco painéis abobadados para a ornamentação do Salão Nobre da Câmara dos Deputados, atual Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), e, nesse mesmo ano, realiza mais uma série de painéis decorativos para o salão do Copacabana Palace. Nas decorações, emprega o princípio das cores fragmentadas e da justaposição de cores, inspirado no pintor francês Georges Seurat (1859-1891), pioneiro do divisionismo. Já o emprego rítmico das linhas e da paleta de tons rebaixados revela a apreciação da obra do pintor impressionista Puvis de Chavannes.

Em algumas telas, o artista se aproxima do enquadramento fotográfico, como em Recanto de Ateliê (1926) e em Portal (s.d.). Em Retrato de Artur (s.d.), representa o irmão pintando ao ar livre, com grande simplificação formal. A figura do retratado parece recortada do plano de fundo, no qual a natureza é apenas sugerida em pinceladas soltas. As pinturas de João Timótheo apresentam afinidades com as realizadas por seu irmão, nos temas e também no modo de fazer, porém conferem às tintas os valores de espontaneidade do esboço. No Salão de Outono de 1926, conquista a pequena medalha de ouro.

Mais do que as afinidades artísticas, os irmãos Timótheo têm em comum a busca pela experimentação na pintura com vistas à sua modernização. Conforme artigo da professora e curadora de arte Renata Felinto dos (1978), os irmãos Timótheo, tal como Antônio Parreiras (1860-1937) e Almeida Júnior (1850-1899), rompem com academicismos e privilegiam novos temas, mais próximos do cotidiano popular brasileiro. Segundo a autora, esses pintores do final do século XIX e início do século XX pavimentam o caminho que desembocará na Semana de Arte Moderna de 19221.

No entanto, os artistas negros desse período são pouco lembrados: algumas de suas obras não estão conservadas e há poucos estudos sobre eles, mesmo tendo grande importância para a história da pintura nacional. É o curador Emanoel Araújo (1940-2022) quem resgata a história e as obras de artistas negros esquecidos pelos estudos da arte no Brasil, entre eles os irmãos Timótheo2. Parte da obra de João Timótheo da Costa, bem como de seu irmão Arthur Timótheo da Costa, compõe o acervo permanente do Museu Afro Brasil Emanoel Araújo3.

A vasta obra de João Timótheo da Costa evidencia a atmosfera eclética na arte brasileira do início do século XX, causada pelo impacto tardio de tendências estéticas como o impressionismo e o pós-impressionismo. Sua gestualidade, que privilegia o uso espontâneo de cores e texturas, faz desse pintor um dos grandes representantes da pintura brasileira. 

Notas

1. SANTOS, Renata Aparecida Felinto dos. Enterrar o saudosismo da ausência: não estivemos em 1922, porém estamos em 2022. Revista do Centro de Pesquisa e Formação, São Paulo, n. 14, ju. 2022. Disponível em: https://www.sescsp.org.br/wp-content/uploads/2022/07/Dossie7_rev_CPF_N14_Semana22.pdf. Acesso em: 10 jul. 2023.

2. PINTORES Negros: contribuição negra à arte brasileira. UOL. [s.d.]. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/pintores-negros-contribuicao-negra-a-arte-brasileira.htm. Acesso em: 10 jul. 2023. 

3. MUSEU AFRO BRASIL EMANOEL ARAÚJO. Site oficial do museu. São Paulo. Disponível em: http://www.museuafrobrasil.org.br/. Acesso em: 10 jul. 2023.

Obras 13

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Reprodução fotográfica Lamberto Scipioni

Casas

Óleo sobre madeira
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Paisagem

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica Lamberto Scipione

Paisagem

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Paisagem

Óleo sobre madeira

Exposições 29

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Fontes de pesquisa 8

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  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
  • DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Tipografia Benedicto de Souza, 1929.
  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Pintores negros do oitocentos. São Paulo: MWM Motores Diesel Ltda. : Indústria Freios KNORR Ltda., 1988. [246 p.]. (Coleção MWM-IFK).
  • MARQUES, Luiz. O século XIX, o advento da Academia de Belas Artes e o novo estatuto do artista negro. In: ARAÚJO, Emanoel (org.). A Mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. São Paulo: Tenenge, 1988.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Negro de corpo e alma. Curadoria Emanoel Araújo, Maria Lúcia Montes, Carlos Eugênio Marcondes de Moura; tradução Christopher Ainsbury, Denise Kato, Doris Hefti, Douglas V. Smith, Eduardo Hardman, Eugênia Deheinzelin, Grant Ellis, H. Sabrina Gledhill, John Norman, Katica Szabó, Lilian Escorel, Regina Alfarano, Ricardo Gomes Quintana, Robert Slenes, Carlos Galvão, Suzanne Oboler, Elitza Bachvarova, Thomas William Nerney. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • PINACOTECA do Estado de São Paulo. A arte e seus processos: o papel como suporte. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1978.
  • RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).

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