Museu Afro Brasil Emanoel Araujo
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Instituição museológica dedicada à exibição, pesquisa e conservação de obras de arte e objetos representativos da história e da memória cultural afro-brasileira.
Inaugurado em 2004 e possuindo um acervo composto por mais de oito mil obras datadas a partir do século XVIII até a contemporaneidade, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (MAB) está situado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), do Parque do Ibirapuera, São Paulo. Além de apresentar exposições temporárias, seus espaços são estruturados por seis núcleos temáticos com exposições de longa duração que exibem de forma não cronológica obras eruditas e populares de diferentes períodos, permeadas por textos críticos e relatos que reconstituem parte do contexto cultural de produção das obras e favorecem o estreitamento da relação entre os visitantes e o museu.
O MAB tem como núcleo inicial a cessão em regime de comodato de 1.100 obras do acervo particular do artista e gestor cultural Emanoel Araújo (1940-2022), idealizador, diretor e curador do museu. A fundação conta com o apoio da prefeitura de São Paulo e do Ministério da Cultura, sob a gestão financeira do Instituto Florestan Fernandes. Em 2009, vincula-se à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, sendo administrado pela Associação Museu Afro Brasil Organização Social de Cultura. Ao longo de seu processo de estruturação, outros conjuntos significativos de obras passam a integrar o acervo, doados por Emanoel Araújo e pela Associação Museu Afro Brasil ao Estado de São Paulo.
O projeto do MAB se inspira em iniciativas como a do intelectual e artista Abdias Nascimento (1914-2011), que nos anos 1950 funda o Museu de Arte Negra com o propósito de valorizar a matriz africana na cultura brasileira. Ampliando o alcance nacional desse processo de afirmação identitária, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) funda o Museu Afro-Brasileiro, em Salvador, em 1982, mesma década em que o projeto do Museu Afro Brasil começa a ser delineado, tendo por base nas pesquisas realizadas por Emanoel Araújo para as diversas publicações e exposições que realiza sobre cultura afro-brasileira. O livro A mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica (1988) e as exposições A Mão Afro-Brasileira (1988), Negro de Corpo e Alma (1995) e Brazil: Body and Soul (2001-2002) marcam o debate sobre a contribuição cultural negra e ajudam a definir o conceito de arte afro-brasileira para além das concepções étnicas.
Este conceito ressoa no próprio título do Museu Afro Brasil e em um de seus seis núcleos permanentes, Artes Plásticas: a Mão Afro Brasileira”. Expondo de forma sincrônica obras produzidas desde o barroco à contemporaneidade de artistas como Estêvão Silva (1844-1891), Rubem Valentim (1922-1991), Mestre Didi (1917-2013) e Rosana Paulino (1967), este núcleo propõe relações mais intuitivas entre os trabalhos, evidenciando elementos simbólicos e formais que perpassam diferentes contextos históricos, como a relevância da cor, o ornamento enquanto estrutura plástica ou o caráter híbrido de peças que transitam entre diferentes linguagens e funções sociais.
Outro núcleo temático permanente, África: Diversidade e Permanência, traz a complexidade cultural do continente africano em obras de alguns dos povos que contribuíram com a formação étnico-cultural brasileira, como os iorubá da Nigéria, o povo attie da Costa do Marfim e os tchokwe de Angola. Já o núcleo Trabalho e Escravidão apresenta conhecimentos trazidos pelos africanos para o Brasil, revisitando a história dos ciclos econômicos por meio de vestígios materiais e textos que reconstituem o lado oposto às narrativas oficiais, o ponto de vista das senzalas que sustentam as casas grandes coloniais. Este enfoque sobre a relevância do trabalho escravizado na constituição do Brasil colonial e oitocentista caracteriza a singularidade do acervo do MAB entre os museus paulistas.
O núcleo As Religiões Afro-Brasileiras é composto por peças oriundas do embate entre religiões, bem como objetos que evidenciam o sincretismo resultante do encontro das culturas luso-afro-ameríndias. Por sua vez, O Sagrado e o Profano é o núcleo que apresenta a multiculturalidade das celebrações e festividades populares onde permanecem traços das culturas africanas. O núcleo História e Memória exibe documentos, pinturas históricas e imagens fotográficas de personalidades negras destacadas em diversos campos da cultura.
Manifestações artísticas e debates acerca dos temas suscitados pelo acervo têm lugar no teatro batizado em homenagem à atriz Ruth de Souza (1921-2019), enquanto a biblioteca, cujo nome reverencia a escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), preserva um dos maiores acervos do país sobre a história da diáspora africana.
O Núcleo Educativo possui um papel central na concepção do MAB, o de conectar os visitantes ao acervo por meio das histórias e memórias que ele suscita, promovendo a reflexão sobre a formação da cultura brasileira. Como extensão desse trabalho, o museu oferece cursos a professores da rede pública e edita a revista #Educamab.
Com um acervo rico em complexidade, o Museu Afro Brasil apresenta narrativas que reconstituem parte do patrimônio imaterial negro. As histórias são ativadas pelos educadores, que ampliam o alcance da concepção museológica, buscando apresentar a arte afro-brasileira como um conceito em constante definição. O museu se posiciona como participante ativo dessa história em formação, compreendida como um processo de reconhecimento das matrizes africanas e seu papel na formação da cultura brasileira.
Exposições 109
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20/11/2005 - 28/2/2004
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13/5/2005 - 30/9/2005
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28/4/2006 - 2/7/2006
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28/4/2006 - 2/7/2006
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6/5/2006 - 6/8/2006
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 9
- ARAÚJO, Emanoel (Org.). A mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. 2. ed. rev. e ampliada. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010.
- ARAÚJO, Emanoel. Museu Afro Brasil: um conceito em perspectiva. 2004. In: MUSEU AFRO BRASIL. Plano Museológico. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2016. Disponível em: http://www.museuafrobrasil.org.br/docs/default-source/docs-admin/documentos-institucionais/plano-museol%C3%B3gico.pdf?sfvrsn=0. Acesso em: 11 maio 2022.
- ASSOCIAÇÃO BRASIL 500 ANOS ARTES VISUAIS. Mostra do redescobrimento: negro de corpo e alma = black in body and soul. São Paulo: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais; Fundação Bienal de São Paulo, 2000.
- MENEZES NETO, Hélio Santos. Entre o visível e o oculto: a construção do conceito de arte afro-brasileira. 2018. 235 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
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- SILVA, Nelson Fernando Inocêncio da. Museu Afro Brasil no contexto da diáspora: dimensões contra-hegemônicas das artes e culturas negras. 2013. 241 f. Tese (Doutorado em Artes) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/15347/1/2013_NelsonFernandoInocenciodaSilva.pdf. Acesso em: 11 maio 2022.
- SILVA, Renato Araújo da. Arte afro-brasileira: altos e baixos de um conceito. São Paulo: Ferreavox, 2016. Disponível em: https://www.scribd.com/document/345391214/SILVA-Renato-Araujo-da-Arte-Afro-Brasileira-2016. Acesso em: 11 maio 2022.
- SULLIVAN, Edward J. (ed.). Brazil: Body & Soul. Nova York: The Solomon R. Guggenheim Museum, 2001.
Como citar
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MUSEU Afro Brasil Emanoel Araujo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao407066/museu-afro-brasil-emanoel-araujo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7