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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Manuel Dias de Oliveira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.03.2021
1763 Brasil / Rio de Janeiro / Cachoeiras de Macacu
1837 Brasil / Rio de Janeiro / Campos dos Goytacazes
Manuel Dias de Oliveira (Santana do Macacu, atual Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro, 1763 - Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 1837). Pintor, gravador, escultor, professor, ourives. Conhecido também como "Romano" ou "Brasiliense", ainda jovem muda-se para a cidade do Rio de Janeiro e inicia sua formação trabalhando como ourives. Viaja par...

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Biografia

Manuel Dias de Oliveira (Santana do Macacu, atual Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro, 1763 - Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 1837). Pintor, gravador, escultor, professor, ourives. Conhecido também como "Romano" ou "Brasiliense", ainda jovem muda-se para a cidade do Rio de Janeiro e inicia sua formação trabalhando como ourives. Viaja para Portugal e passa a residir na cidade do Porto, onde inicia estudos de pintura. Posteriormente vai para Lisboa e aperfeiçoa seus conhecimentos artísticos na Real Casa Pia, onde conhece o pintor português Domingos Antônio de Sequeira (1768 - 1837). Por ter-se destacado nos estudos, é enviado para a Accademia de San Lucca, em Roma, para freqüentar as aulas de Pompeo Batoni (1708 - 1787). Em 1798, retorna a Portugal. Sendo nomeado para o cargo de professor da aula régia de desenho e figura em 1800, transfere-se para o Rio de Janeiro, e paralelamente ministra aulas de modelo vivo em seu ateliê. Responsabiliza-se por grande parte das decorações feitas para a cerimônia de recepção da corte portuguesa, em 1808. Em 1822, o imperador Dom Pedro I (1798 - 1834), por meio de um decreto assinado em 15 de outubro, decide destitui-lo do cargo de regente da aula régia. No ano de 1831, muda-se para Campos dos Goytacazes e inaugura um colégio para meninos. Nessa cidade, em 1835, executa um auto-retrato, que é a sua última obra conhecida.

Análise

Boa parte da obra de Manuel Dias de Oliveira encontra-se perdida. Sobre sua formação, sabe-se que, quando jovem, se fixa no Rio de Janeiro, onde exerce o ofício de ourives. Reconhecendo-lhe o talento para o desenho, um comerciante português de ourivesaria leva-o para Portugal, a fim de que realize estudos formais em artes. Ingressa nos Cursos de Arte da Real Casa Pia e na Academia do Castelo, ambas em Lisboa, onde se destaca entre os alunos da turma e por isso recebe apoio para estudar na Accademia di San Luca, em Roma. Permanece dez anos na Itália, aprimorando-se artística e culturalmente. Durante sua estada no país freqüenta as aulas de pintura de Pompeo Girolamo Battoni (1708 - 1787), um dos mestres mais influentes da Academia e que entende a arte como atividade da razão, tendo como único ideal a pintura bela. Para atingi-la, propõe a retomada do classicismo seiscentista mais por seu valor técnico do que pela recuperação de seus temas. No período romano, Dias de Oliveira passa a ser conhecido como "O Brasiliense" (note-se que no Brasil as pessoas o chamariam "O Romano").

Não se sabe ao certo os motivos que o trazem de volta ao Rio de Janeiro. O fato é que em 1800 o artista encontra-se na cidade e é nomeado pelo príncipe regente Dom João (1767 - 1826) professor régio de desenho, responsável pela "Aula Régia de Desenho e Figura". Como ocorria em Portugal, a "Aula" funcionava como uma escola destinada a artífices e pintores, mas muito distante ainda da formação estruturada instituída pelas academias de belas artes. No entanto, para o meio artístico brasileiro representa uma inovação, pois sinaliza o término da "época em que os artistas se educavam no interior dos ateliês de escultores e ourives. Reconhecia-se, afinal, o papel fundamental do desenho na prática artística e adotava-se a postura da tradição clássica européia", como observa o historiador Luciano Migliaccio.1 Sobre o método de ensino dessas aulas, alguns acreditam que Dias de Oliveira é o responsável pela introdução do estudo do desenho do natural e pela instalação das aulas de modelo vivo no Brasil, relativizando dessa forma o antigo modo de aprendizagem no qual os estudantes adquirem conhecimentos artísticos apenas por meio de cópias de quadros e estampas européias. Entre seus principais alunos encontram-se Clemente Guimarães Bastos, Francisco Pedro do Amaral (1790 - 1831) e Manuel José Gentil.

Manuel Dias de Oliveira trabalha principalmente como pintor-decorador, o que explica o desaparecimento de parcela significativa de sua produção. A maior parte das decorações para a recepção de chegada de Dom João VI e a corte portuguesa no Rio de Janeiro em 1808 é realizada por ele. Escapa da predominância da temática religiosa, característica dos pintores coloniais, trabalhando em diversos gêneros de pintura como retratos, alegorias e naturezas-mortas. Consta que tenha praticado a gravura, além da miniatura sobre marfim. Das obras restantes, podemos contemplar o quadro pintado para comemorar a coroação de Dom João VI, a alegoria Nossa Senhora da Conceição (1818), na qual o rei aparece ao lado da figura da santa, rodeados por anjos, personagens religiosos e mitológicos. Figuras mitológicas mescladas com personagens da família real e figuras características de Portugal também estão presentes na Alegoria ao Nascimento de Dona Maria da Glória (1819), pintada por ocasião do nascimento da primogênita de Dom Pedro. No gênero retrato, temos Retrato de Dom João VI e Dona Carlota (1815). Não muito hábil no desenho, suas pinturas destacam-se mais pelo colorido. Contudo, estão longe de representar os melhores exemplares da arte realizada na colônia, principalmente daquela ainda ligada aos elementos barrocos, mas já com traços neoclássicos, da passagem do século XVIII para o século XIX.

As informações sobre as relações do pintor com os artistas da Missão Artística Francesa, responsável pela criação da primeira academia de belas artes no Brasil - Academia Imperial de Belas Artes - Aiba em 1826 -, são divergentes. O crítico Quirino Campofiorito (1902-1993) afirma que os franceses se posicionam contra a Aula Régia, tornando-se Manuel Dias de Oliveira um alvo visado.2 Por sua vez, o estudioso Luciano Migliaccio diz ter o artista se renovado a partir do contato com o grupo francês, colaborando algumas vezes com Debret (1768 - 1848). O fato é que Dias de Oliveira não foi convidado a integrar o corpo docente da Aiba e, em 1822, o príncipe regente Dom Pedro (1798 - 1834) publica um decreto no qual proíbe o exercício do magistério ao artista - provavelmente para evitar conflitos com o ensino acadêmico oficial -, sendo este aposentado poucos anos depois. Cansado, desiste da profissão e, em 1831, muda-se para Campos de Goytacazes, onde abre um colégio para meninos e falece alguns anos mais tarde.

Notas

1. MIGLIACCIO, Luciano. Da Colônia à Independência. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p.40. 

2. Gonzaga Duque corrobora esta informação: "Com a chegada dos artistas franceses, da colônia Le Breton, a sua notoriedade sofreu seriamente. Também já estava cansado, velho, cheio de filhos. Desistiu da profissão ...". In: DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira: pintura e esculptura. Rio de Janeiro: H. Lombaerts & C., 1888. p.86-87.

 

Exposições 12

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Fontes de pesquisa 13

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ARAÚJO, Emanoel (org.). A Mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. São Paulo, SP: Tenenge, 1988.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • BATISTA, Nair. Pintores do Rio de Janeiro colonial: notas bibliográficas. In: Pintura e escultura II. Compilacao Carlos Ott; compilação Joaquim Cardozo, Nair Batista. São Paulo: MEC/IPHAN : FAU/USP, 1978. 157 p., il. p&b. (Textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 8). p.23-38.
  • BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São Paulo Editora, 1942.
  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
  • DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira: pintura e esculptura. Rio de Janeiro: H. Lombaerts & C., 1888. 254 p.
  • GUIMARÃES, Argeu. História das artes plásticas no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geográphico Brasileiro, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, volume IX, p. 401-497, 1930. Número especial.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • MORALES DE LOS RIOS FILHO, Adolfo. O ensino artístico: subsídio para a sua história, 1816-1889. Rio de Janeiro: [s.n.], [1938?].
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944.
  • RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).

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