Marc Ferrez
![Praia de Copacabana, ca. 1895 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/010897001019.jpg)
Praia de Copacabana, 1895
Marc Ferrez
Albúmen
Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - Doação White Martins
Texto
Marc Ferrez (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1843 - idem, 1923). Fotógrafo. Um dos pioneiros da fotografia no Brasil, Marc Ferrez tem registros importantes de paisagens naturais e povos indígenas dos últimos anos do Império e do processo de modernização do país.
Filho de Zepherin Ferrez (1797-1851) e sobrinho de Marc Ferrez (1788-1850), escultores franceses que integram a Missão Artística Francesa, fica órfão aos 7 anos de idade. Em 1851, viaja para Paris e reside com o escultor Alphée Dubois (1831-1905). Ao longo de sua estada na capital francesa, o país passa por intensas transformações urbanas e políticas, e Paris torna-se referência de modernidade. Em 1855 a cidade promove sua 1ª Exposição Universal, na qual a fotografia ganha seção especial, sendo apresentada ao grande público pela primeira vez.
Retorna ao Rio de Janeiro em 1859 e trabalha na Casa Leuzinger, estabelecimento fotográfico de propriedade de George Leuzinger (1813-1892), cujos serviços oferecidos são um misto de tipografia, papelaria, oficina de encadernação e douração, ateliê de fotografia e ponto de revenda de gravuras e material fotográfico. Em 1860, conhece o engenheiro alemão Franz Keller-Leuzinger (1835-1890), responsável por apresentar a Ferrez técnicas fotográficas e ampliar seu repertório de conhecimento artístico e científico.
Inaugura, em 1867, a Casa Marc Ferrez & Cia., oferecendo serviços de fotografia e imagens do Rio de Janeiro. Em 1870, é contratado pela Marinha Imperial para fotografar um navio, e cria um equipamento específico, capaz de contornar a movimentação das ondas para alinhar o enquadramento da fotografia com o horizonte. Essas fotos lhe garantem o título de Photographo da Marinha Imperial, outorgado pelo imperador dom Pedro II (1825-1891). Trabalhando sob encomenda ou de forma espontânea, produz retratos, imagens de paisagens e registros de festejos públicos ligados sobretudo à família real.
Após perder seus equipamentos e acervo em um incêndio na sua oficina em 1873, Ferrez vai a Paris para comprar novas máquinas e recomeçar a atividade profissional. Em 1875, é convidado a participar como fotógrafo da Comissão Geológica do Império, chefiada por Charles Frederick Hartt (1840-1878). Com a expedição, percorre os atuais estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e parte da região amazônica. Na Bahia, realiza imagens inéditas de indígenas dos povos botocudos.
A preferência por horizontes longínquos, perspectivas altas ou em plongée, planos demarcados e luzes contrastantes e a busca do elemento pitoresco e particular da paisagem revelam certa filiação romântica, num possível diálogo com pintores acadêmicos da época, como o francês Félix Taunay (1795-1881) e o italiano Facchinetti (1824-1900). Esse traço romântico em Ferrez ganha forma no modo de retratar a natureza, com caráter monumental e encantador, convidando à contemplação que, segundo a historiadora Maria Inez Turazzi, indica a possibilidade de "relação harmoniosa entre o homem e a natureza".
Em 1880, idealiza a confecção de uma máquina fotográfica capaz de executar imagens panorâmicas em grandes dimensões e encomenda ao francês M. Brandon. Ferrez é agraciado com o grande prêmio da Exposição da Indústria pelo engenho na criação do aparelho.
Além das composições paisagísticas, sobressaem na produção do fotógrafo os registros documentais de obras públicas, como a construção da Estrada de Ferro do Paraná. Ferrez também produz imagens do cotidiano da família real ao longo dos anos de 1880, os últimos do Império. Ainda nessa década, volta a percorrer o território nacional e fotografa povos indígenas em Goiás e Mato Grosso.
Ferrez desempenha papel importante na cobertura de eventos de grande importância histórica, como o registro dos danos em instalações da Marinha provocados pela Revolta da Armada, nos primeiros anos da República. Também é atento observador das modificações urbanas do Rio de Janeiro. A partir de 1903, realiza a documentação completa das obras de construção da Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), marco da reurbanização da capital. Esse trabalho é publicado por volta de 1907 no álbum Avenida Central: 8 de Março de 1903 - 15 Novembro de 1906.
A ampla difusão de sua obra se dá, definitivamente, quando suas vistas do Rio de Janeiro são impressas, entre 1890 e 1900, nas notas de 2 mil e 100 mil réis.
Em 1905, a Casa Ferrez & Filhos passa a ser a representante exclusiva da firma francesa Pathé Frères e torna-se fornecedora da maioria dos cinematógrafos da cidade. Além das inovações no campo da técnica fotográfica, Ferrez auxilia na difusão do cinema no Brasil, inaugurando em 1907 a terceira sala da capital, e introduz no país as chapas fotográficas coloridas (autochrome), desenvolvidas pelos irmãos Lumière, atuando também na distribuição dos filmes dos cineastas franceses. Em 1915, vai a Paris para estudar a fotografia em cores e retorna ao Rio de Janeiro no início da década de 1920.
Ao mesmo tempo perspicaz observador e engenhoso inventor, Marc Ferrez registra importantes momentos da história brasileira e aprimora a técnica da fotografia. Suas imagens estão entre os principais documentos visuais do Brasil da segunda metade do século XIX e começo do XX, retratando tanto a população nativa e as paisagens naturais como as transformações políticas e a modernização do país, sobretudo do Rio de Janeiro.
Obras 20
Colheita de café
Curumim da região de Mato Grosso
Estação Ferroviária
Imbituba
Exposições 92
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1873 - 1873
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12/12/1876 - 16/1/1875
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1875 - 1875
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1876 - 1876
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Fontes de pesquisa 30
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Como citar
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MARC Ferrez.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa26241/marc-ferrez. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7