Aurora Cursino
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Sem Título
Aurora Cursino
Óleo sobre papelão
80,00 cm x 49,50 cm
Texto
Aurora Cursino dos Santos (s.l. ca.1896 – Franco da Rocha, São Paulo, 1959). Pintora. Na juventude, interessa-se por música, literatura e artes plásticas e tem aulas de pintura. Após um casamento malsucedido, vive na rua, prostituindo-se. Viaja para Portugal e, ao retornar, tenta trabalhar como empregada doméstica. Sem conseguir fixar-se num emprego, volta para a rua, abrigando-se em albergues noturnos até ser internada no Hospital Psiquiátrico de Perdizes, em São Paulo, onde permanece por três anos. Em 1944, é transferida para o Hospital Psiquiátrico do Juqueri, em Franco da Rocha, São Paulo, com diagnósticos de “personalidade psicopática amoral” e “esquizofrenia parafrênica”. Na instituição, frequenta as oficinas de pintura e a Escola Livre de Artes Plásticas (Elap), dirigida por Osório Cesar (1895-1983). Nos ateliês da Elap, tem acompanhamento da artista Maria Leontina (1917-1984). Em 1948, seus trabalhos integram a 1ª Exposição de Arte do Hospital do Juqueri, organizada por Osório Cesar no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) e, três anos depois, a Exposição de Artistas Alienados, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Mantém sua produção plástica até 1958. Grande parte de seus trabalhos, cerca de 186 pinturas sobre papel-cartão, encontra-se no acervo do Museu Osório Cesar, fundado em 1985, no Complexo Hospitalar do Juqueri. Em 2000, suas pinturas são exibidas na Mostra do Redescobrimento, integrando a exposição Imagens do Inconsciente, ao lado de trabalhos de outros internos de hospitais psiquiátricos, como Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), Adelina (1916-1984), Emygdio de Barros (1895-1986), Raphael (1912-1979) e Darcílio Lima (1944-1991).
Análise
Os trabalhos de Aurora Cursino dos Santos, desenvolvidos durante os 15 anos em que é interna do Hospital Psiquiátrico do Juqueri, não teriam existido sem a iniciativa de psiquiatras como Osório Cesar e Nise da Silveira (1905-1999), que valorizam a necessidade expressiva de doentes mentais. O livro de Cesar, A Expressão Artística nos Alienados (1929), é pioneiro nesse sentido. Nele, o autor acompanha sugestões de estudiosos como o psiquiatra alemão Hans Prinzhorn (1886-1933), que defendem que essa necessidade expressiva emerge do mesmo impulso criador presente na arte de povos primitivos, crianças e mesmo na arte moderna.
É esse tipo de abertura que se observa nas iniciativas de Osório Cesar na Seção de Artes Plásticas do Juqueri, de cujas oficinas e exposições Aurora participa. Comentando seus trabalhos, Cesar destaca um aspecto interessante do comportamento de Aurora: a verborragia e criação de neologismos sonoros, acompanhados de alucinações auditivas[1]. Isso aparece em suas pinturas na forma de inscrições de frases e nomes, associados a personagens figuradas. De caráter autobiográfico, os trabalhos refletem períodos transfigurados em um mundo imaginário e de alucinações, marcado pela incidência de temas sexuais, violência e crimes, trabalhados em pinceladas largas de cores vivas e contrastantes.
Nota
1. CESAR, Osório, Paisagem noturna. Apud FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Arte e loucura: limites do imprevisível. São Paulo: Lemos Editorial, 1998. p. 62-68.
Obras 3
Exposições 14
Fontes de pesquisa 11
- ARTE e loucura: limites do imprevisível: mostra dos pacientes do Hospital Juqueri. Apresentação de Ana Mae Barbosa. Textos de Maria Heloisa Corrêa de Toledo Ferraz e Osório Cesar. São Paulo: MAC/USP, 1987.
- BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 16.,1981, São Paulo, SP. Arte incomum. Curadoria Annateresa Fabris; tradução Laurence Patrick Hughes, Aldo Bocchini Neto. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1981.
- Brasil: psicanálise e modernismo. curadoria Olívio Tavares de Araújo, Maria Ângela Gomes Moretzsohn, Leopold Nosek. São Paulo: MASP, 2000.
- CESAR, Osório. A expressão artística nos alienados: contribuição para o estudo dos símbolos na arte. São Paulo: Officinas Graphicas do Hospital de Juquery, 1929.
- FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo (curadoria). Juqueri: encontro com a arte. São Paulo: Sesc Pompéia, 1998. Não catalogado
- FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. A Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri. 1989. 237p. Tese (Doutorado) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989.
- FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Arte e loucura: limites do imprevisível. São Paulo: Lemos Editorial, 1998.
- MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Imagens do inconsciente. Curadoria Nise da Silveira, Luiz Carlos Mello; tradução John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
- MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA (SÃO PAULO, SP). ARTE e loucura, limites do imprevisível : mostra dos pacientes do Hospital Juqueri. São Paulo: MAC/USP, 1987. 28 p., il. p.b. color. SPmac 1987/a
- NAME, Daniela. Bela trilha para os labirintos do inconsciente. O Globo, Rio de Janeiro, 18 de outubro de 2000.
- SILVA, Jorge Anthonio e. Arthur Bispo do Rosário: arte e loucura. São Paulo: Quaisquer, 2003.
Como citar
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AURORA Cursino.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa22587/aurora-cursino. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7