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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Frei Jesuino do Monte Carmelo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 08.01.2021
25.03.1764 Brasil / São Paulo / Santos
02.06.1819 Brasil / São Paulo / Itu
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini

Nossa Senhora do Carmo Entrega Escapulários a Santos Carmelitas (detalhe do forro da capela-mor), 1784
Frei Jesuino do Monte Carmelo
Óleo sobre madeira

Jesuíno Francisco de Paula Gusmão (Santos, São Paulo, 1764 - Itu, São Paulo, 1819). Pintor, arquiteto, escultor, encarnador, dourador, entalhador, mestre em torêutica, músico, poeta. Negro, filho de Antônio Gueraldo Jácome e Domingas Inácia de Gusmão, sobrinha do padre jesuíta brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, conhecido como Padre Voador...

Texto

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Biografia
Jesuíno Francisco de Paula Gusmão (Santos, São Paulo, 1764 - Itu, São Paulo, 1819). Pintor, arquiteto, escultor, encarnador, dourador, entalhador, mestre em torêutica, músico, poeta. Negro, filho de Antônio Gueraldo Jácome e Domingas Inácia de Gusmão, sobrinha do padre jesuíta brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, conhecido como Padre Voador. Em 1781 transfere-se para Itu e vive entre religiosos locais. Na construção da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária, trabalha como ajudante do pintor José Patrício da Silva Manso (ca.1753-1801), de quem se torna auxiliar e discípulo. Na cidade de São Paulo, em 1796, pinta o forro da nave da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo e os painéis do antigo Convento de Santa Teresa, que atualmente compõem o acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS). Ao enviuvar, após breve vida matrimonial, que lhe gerou cinco filhos, ingressa na vida religiosa. É ordenado padre carmelita em 1797, e adota o nome de Frei Jesuíno do Monte Carmelo. Reza sua primeira missa no ano seguinte. Em Itu, realiza os forros da capela-mor e da nave da Igreja e Convento de Nossa Senhora do Carmo, por volta de 1784, e os painéis laterais da capela-mor da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, datados do fim do século XVIII. Entre 1815 e 1819, dirige a construção da Igreja e Convento de Nossa Senhora do Patrocínio, desempenhando simultaneamente as tarefas de arquiteto, mestre-de-obras, pintor e escultor. Realiza ainda oito quadros para a igreja e compõe músicas sacras para sua inauguração. Falece antes de terminar a obra, que é concluída por seus filhos e inaugurada em 1820. Em 1945, é publicado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), em São Paulo, o livro de Padre Jesuíno do Monte Carmelo de Mário de Andrade (1893-1945).

Análise da trajetória
Frei Jesuíno do Monte Carmelo é reconhecido como um dos principais artistas do período colonial em São Paulo. De sua obra de compositor de músicas sacras, construtor de órgãos, entalhador e arquiteto, restam apenas os trabalhos de pintura realizados nas cidades de São Paulo e Itu. Negro e de origem humilde, Jesuíno tem duas inclinações quando criança: o sacerdócio e a pintura. Não sendo possível aprender o latim necessário para se ordenar padre, e diante da necessidade de trabalhar desde cedo, volta-se para o ofício de pintor. Sua formação dá-se pela observação das poucas decorações de igrejas existentes na época em sua cidade natal, principalmente o templo do convento carmelita de Santos. Devoto de Nossa Senhora do Carmo desde menino, os frades carmelitas exercem papel fundamental em sua vida. O padre-mestre o inicia na música e na técnica do órgão. Também provém dos carmelitas sua primeira encomenda importante: estofar e encarnar as imagens esculpidas em madeira de Nossa Senhora da Conceição, de Sant'Ana e de São Joaquim. Apesar da má qualidade do trabalho, devido à inexperiência do artista, os religiosos decidem levar o jovem de 17 anos para auxiliar nos serviços da nova igreja da ordem em Itu, em 1781.

Enquanto trabalha na igreja carmelita em vários serviços - como sacristão, tocando órgão nas missas, enfeitando os altares para festas -, é contratado pelo artista José Patrício da Silva Manso para ajudar na decoração da recém-construída Matriz de Nossa Senhora da Candelária de Itu. Não se sabe ao certo quais das obras devem-se exclusivamente ao mestre e quais são as do ajudante. Em todo caso, nota-se que mesmo nos trabalhos cuja autoria é atribuída a Jesuíno - como os 12 painéis da capela-mor -, a orientação de José Patrício, artista mais experiente, é indiscutível. Como observa Mário de Andrade, único estudioso da obra do pintor colonial, os painéis apresentam uma "paleta emprestada", tradicional e bastante acadêmica, em vermelhos e azuis intensos e sombrios. São também muito irregulares como conjunto, principalmente no que diz respeito à unidade de composição das cenas narradas.1 Esta coleção de 12 telas apresenta a primeira obra de Jesuíno pintor, embora como pintor aprendiz.

É com a decoração da Igreja do Carmo de Itu (ca.1784) que Jesuíno alcança um primeiro momento de independência artística. Do conjunto realizado resta o forro da capela-mor. Se ainda tem em mente a tradição que conhecia, mistura-a com intervenções do próprio temperamento. Assim como no teto da matriz, pintado por ele e concebido por Silva Manso, não trabalha o assunto em perspectiva de fuga, optando por colocar as figuras bem de frente, achatando a curva natural do teto. Para reuni-las, dando unidade à cena representada,2 utiliza uma grinalda de folhas e flores3 carregadas por querubins e serafins, de modo a agrupar as seis figuras veneráveis e os santos carmelitas num único espaço, com a Visão da Virgem do Carmo ao centro. O artista liberta-se aqui das tonalidades escuras e tons terrosos. Ocorre o clareamento de sua paleta. O conjunto cromático formado pelo resplendor da luz amarela que parte da coroa da virgem, o forro azul-celeste, os brancos, os tons de vermelho, azul, laranja e verde presentes tanto nas vestes dos papas quanto nas dos anjos e flores lançadas por eles, sugerem uma atmosfera quente e luminosa. De modo curioso,  Jesuíno insere, no lado direito inferior da composição, um único anjo de pele parda, mas com traços semelhantes aos dos anjos brancos.

Após a morte da esposa, o artista vai para São Paulo, em 1795, com a tarefa de decorar as igrejas carmelitas da capital. Dos trabalhos realizados, pode ser apreciada apenas a pintura do teto da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, obra de maior vulto. Volta ao cromatismo austero nas 24 figuras do teto da nave. Não cede nunca à movimentação barroca; suas figuras são hieráticas e seus gestos sugerem um ritmo contido.

Inicia estudos de latim, recebe a ordenação em 1797 (porém, por ser negro, com a ressalva do ex defectu natalium), é chamado a partir de então de Frei Jesuíno do Monte Carmelo. Sua produção artística diminui após o recebimento das ordens.

Retorna a Itu em 1797. Fica abalado pela tentativa frustrada de ingressar na Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Começa a idealizar a congregação dos padres do Patrocínio por volta de 1800. Consegue o apoio local e até mesmo de Dom João VI (1767 - 1826) para construir a Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu. Improvisa-se arquiteto e desenha seu risco (a fachada original é remodelada ao gosto eclético em 1894). É assessorado pelos filhos, todos religiosos. Seus últimos trabalhos, os mais dramáticos de sua produção artística, são as oito telas de santos carmelitas em tamanho natural para a decoração dos corredores laterais da igreja. Compõe músicas para sua inauguração, mas morre em 1819 antes de vê-la pronta, o que acontece um ano depois. Segundo Mário de Andrade, Frei Jesuíno do Monte Carmelo é o protótipo do artista do Brasil colônia, muito mais intuitivo do que culto, localizado no "entremeio entre a arte folclórica legítima e a arte erudita legítima".

Notas
1 Para Mário de Andrade pode-se dividir os painéis em duas séries, levando-se em consideração sua qualidade artística e os temas: seis telas altas sobre a vida de Maria e seis telas largas contando a vida de Jesus.  - A primeira teria sido desenhada por José Patrício da Silva Manso e a segunda por Jesuíno. Contudo, ambas teriam sido coloridas pelo discípulo e retocadas posteriormente pelo mestre.
2 Como observa Mário de Andrade, - "Jesuíno não sabe contar, ou não gosta dessa possibilidade literária, mais própria do desenho do que da pintura. O dramático de Jesuíno não residirá nunca, quando bem expressado, no entrecho da cena, mas na psicologia das figuras". Disso decorre uma galeria de figuras-retrato (por vezes dos próprios filhos) conjugadas com figuras-padrão (principalmente as femininas) na obra do artista.
3 Sobre o festão de folhagens e flores, Mário de Andrade, afirmará: "Na verdade, Jesuíno está utilizando, senão criando, um 'brasileirismo' de decoração. Esse é um jeito de enfeitar muito brasileiro, muito tradicional entre nós, aproveitando verdes e as flores com prodigalidade esbanjadora, tangente da ingenuidade e do mau gosto. É uma gostosura que só dá para esse teto uma aparência inusitada, como um sabor alegremente festa-de-arraial".

Obras 11

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Exposições 7

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Fontes de pesquisa 13

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ANDRADE, Mário de. A arte religiosa no Brasil: crônicas publicadas na Revista do Brasil em 1920. Organização Cláudio Giordano; comentário Claudete Kronbauer. São Paulo: Experimento : Giordano, 1993. 99 p., il. p&b.
  • ANDRADE, Mário de. Padre Jesuíno do Monte Carmelo. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1963. 273 p. (Obras completas de Mário de Andrade, 16).
  • ARAÚJO, Emanoel (org.). A Mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. São Paulo, SP: Tenenge, 1988.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São Paulo Editora, 1942.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • O UNIVERSO mágico do barroco brasileiro. Curadoria Emanoel Araújo. São Paulo: Sesi, 1998. Exposição realizada no período de 30 mar. a 03 ago. 1998.
  • REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944.
  • TIRAPELI, Percival (org.). Arte sacra colonial: barroco memória viva. Apresentação Antonio Manoel dos Santos Silva; introdução Percival Tirapeli. São Paulo: Unesp : Imprensa Oficial do Estado, 2001. 288 p.
  • TIRAPELI, Percival. Igrejas paulistas: barroco e rococó. Fotografia Manoel Nunes da Silva. São Paulo: Unesp : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003. 372 p., il. color.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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